Ficha do Proponente
Proponente
- Pedro Giongo (UFRJ)
Minicurrículo
- Pedro Giongo é realizador e montador. Busca traduzir estratégias de um mundo ordenado por coleção e do pensamento por montagem para criar narrativas sonoras/visuais. Atualmente cursa o mestrado na Escola de Comunicação e Cultura da UFRJ. Selecionado para o Berlinale Talents 2024. Seus trabalhos e colaborações já foram exibidos em festivais como Berlinale, Locarno, Dok Leipzig, Havana, Olhar de Cinema, Festival de Brasília e Mostra de Tiradentes.
Ficha do Trabalho
Título
- A ilha de montagem e as montagens da ilha
Seminário
- Edição e Montagem audiovisual: reflexões, articulações e experiências entre telas e além das telas
Resumo
- Este trabalho analisa o processo de criação do documentário “Lista de desejos para Superagüi” (2024), de Pedro Giongo. Filmado entre 2018 e 2023, o filme surge a partir de uma lista de desejos compartilhada entre a equipe e os moradores da ilha de Superagüi, litoral caiçara do Paraná, até o encontro com Martelo, um pescador de 70 anos em busca de sua aposentadoria. Viajamos para outra ilha, a de montagem, e é neste espaço de imersão e descoberta, que a poética do filme se encontra e se constrói.
Resumo expandido
- Esta apresentação propõe analisar o processo de criação do longa-metragem documentário Lista de desejos para Superagüi (2024), do realizador Pedro Giongo, filme que constrói sua escrita a partir da perspectiva da lógica de montagem e da ideia de listagem.
Compreendendo a noção da montagem como forma de pensamento, metodologia de trabalho, dispositivo estético e articuladora de fragmentos, e atravessados pelo documentário contemporâneo e a construção coletiva de histórias, entrelaçamos teorias da imagem em movimento e suas metodologias de criação às narrativas confessionais e devaneios autorais, viajamos para a ilha de Superagüi no Paraná e também para a ilha de montagem, espaço físico e espaço simbólico, terra deserta e território criativo daquele que monta.
Lista de desejos para Superagüi se passa numa ilha que faz parte de uma reserva de Mata Atlântica e é habitada por pescadores, localizada no Sul do Brasil, é um local mítico e remoto, em que a vida caiçara se mantém em meio ao conflito entre a tradição e as mudanças da contemporaneidade. Acompanhamos o cotidiano da ilha até chegarmos ao encontro com Martelo, um pescador de 70 anos que está na luta para conseguir comprovar tardiamente perante a justiça sua aposentadoria como pescador artesanal.
Um filme no tempo, filmado entre 2018 e 2023, tem como ponto de partida uma lista de desejos, inicialmente da direção, mas é no encontro entre a pequena equipe e as pessoas da ilha que se inicia a possibilidade de um jogo de atuação e fabulação. Os moradores começam a demonstrar seus desejos em frente às câmeras, que são incorporados à lista de desejos da equipe: a limpeza do camarão, filmar alguém cantando uma música antiga, histórias de ouro dos jesuítas, melhorias na condição de trabalho, se aposentar com dignidade, brincar de teatro, fazer uma ligação complicada, navegar em um barco novo, voltar a enxergar, ter a vida como era antigamente. Na união dos desejos coletivos que as cenas começam a surgir, como peças de um quebra-cabeça sem uma imagem final.
É, no entanto, em outra ilha, a de montagem, que o filme ganha sentido e construção, e a partir da possibilidade de criação narrativa por associações, da reunião dos cacos e dos fragmentos, a ideia de listagem se potencializa e encontra sua poesia e suas diversas características para ordenar e entender o mundo: colecionar, catalogar, expressar o indizível. Como um náufrago despertando em uma praia desconhecida sob um sol intenso, o filme chega à montagem carregado de perguntas e dúvidas, mais do que certezas. A ilha de montagem, escura e solitária, acolhe generosamente o tempo necessário para a execução desse percurso, tornando-se um lugar que evoca reflexão, suspensão e dilatação do tempo. Há, nesse isolamento, uma característica peculiar que remete ao tempo das ilhas geográficas, um espaço apartado que, paradoxalmente, aproxima o montador do filme em um processo de imersão e redescoberta. A essência da ilha deserta é imaginária e não real, mitológica e não geográfica, e neste embate poético que o filme é construído.
Lista de desejos para Superagüi é o primeiro longa-metragem de Pedro Giongo, e teve seu lançamento em janeiro de 2024 na 27ª Mostra de Cinema de Tiradentes, recebeu o prêmio de melhor filme da Mostra Aurora, sendo o primeiro filme do Paraná a ganhar o prêmio.
Bibliografia
- BENJAMIN, Walter. Rua de mão única. São Paulo : Editora Brasiliense, 1987.
DIDI-HUBERMAN, Georges. Atlas – Como levar o mundo nas costas? – Tradução Alexandre Nodari. Revista Sopro nº41, 2010.
ECO, Umberto. A vertigem das listas. Rio de Janeiro: Record, 2010.
FRODON, Jean Michel, O Mundo de Jia Zhangke, São Paulo: Cosac & Naify, 2014.
HOCQUARD, Emmanuel. Esta história é a minha_ minidicionário autobiográfico da elegia [e outros textos]. São Paulo: Luna Parque, 2024.