Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Mário Sérgio Teixeira Guimarães (UFRB)

Minicurrículo

    Mário Guimarães é graduado em Direito (PUC-MINAS, 2015) e em Cinema e Audiovisual (UFRB, 2024). Atualmente é mestrando no PPGCOM-UFRB, onde desenvolve uma pesquisa acerca do uso do Som Direto em produções recentes do curso de Cinema e Audiovisual da UFRB. Pesquisa os diversos usos do Som nas mais variadas produções, além de se interessar pelos estudos da cinematografia do cinema brasileiro. Trabalha com a captação de som, edição e outras funções em sets de produções estudantis e profissionais.

Ficha do Trabalho

Título

    A Cenografia Sonora na obra Lunch Break de Sharon Lockhart

Eixo Temático

    ET 3 – FABULAÇÕES, REALISMOS E EXPERIMENTAÇÕES ESTÉTICAS E NARRATIVAS NO CINEMA MUNDIAL

Resumo

    O trabalho analisa o som e o seu uso no filme experimental Lunch Break (2008), realizado pela fotógrafa e diretora estadunidense Sharon Lockhart. Como fio condutor para a análise é abordado o conceito de Cenografias Sonoras criado por Virgínia Flôres (2013), com metodologia calcada em Chion (2011). A análise sonora nos revela aspectos pertinentes sobre a construção sonora realizada na pós-produção com sons captados na locação.

Resumo expandido

    O uso do som em produções experimentais contemporâneas está associado, em muitos casos, à força das imagens que o acompanham. No caso da obra Lunch Break (2008), realizada pela artista estadunidense Sharon Lockhart, o som tem importância vital para a fruição do filme.

    A obra conta com 83 minutos onde uma câmera atravessa um corredor por dentro de um estaleiro e cruzamos com diferentes trabalhadores, a imagem é super lenta e o som continua em seu tempo normal criando uma atmosfera que nos envelopa e nos insere ainda mais na experiência fílmica. Através do conceito de Cenografias Sonoras, desenvolvido pela professora e pesquisadora Virgínia Flôres (2013), procuramos analisar os sons da obra. A autora defende o uso do conceito ao invés de utilizarmos somente a ideia de som ambiente, pois se trata de uma amálgama de sons, pensados e editados com o intuito de incrementar a experiência do espectador.

    Com o auxílio do Método das Máscaras, desenvolvido por Michel Chion (2011), é realizada uma leitura dos sons presentes na obra em contraste com as imagens apresentadas, sendo apontada a importância destes sons para a fruição e até mesmo para a compreensão da obra.

    Esse conceito de Cenografias Sonoras se aplica aos sons desenvolvidos em Lunch Break que foram captados e editados pela artista Becky Allen com quem a diretora Sharon Lockhart já havia trabalhado anteriormente e que foi supervisionado pelo cineasta James Benning, que assina também a edição da obra. Como trilha sonora do filme, eles desenvolveram um amálgama de sons “industriais”, batidas distantes, vozes e tilintar de metais captados no próprio corredor do estaleiro onde o filme decorre, em um preciso momento e de forma diegética podemos ouvir ecos de uma música da banda britânica Led Zeppelin através da voz de Robert Plant, a fonte pode ser um rádio ligado durante essa pausa para o almoço.

    Carol Vernallis (2015) nos faz cogitar sobre como fragmentos de música que incidem em filmes podem constituir uma oportunidade de crítica institucional às estruturas que parecem monumentais como as estruturas das imagens do filme. A música do Led Zeppelin funciona como uma colagem com uma música pop e que age como uma quebra ao efeito hipnótico que perpassa todo o filme.

    Além do conceito de atmosfera fílmica desenvolvido por Inês Gil, o trabalho é auxiliado pelas ideias de Vilém Flusser contidas no seu livro “A filosofia da caixa preta” (2009), que tratam de imagem e imagem técnica, e o poder hipnótico que essas imagens super lentas da obra podem ter ao olhar em contraponto com as imagens visuais, a imagem sonora de drone perpassa toda obra.

    Apresento também as impressões dos pesquisadores Sabine Eckmann e Matthias Michalka que contribuíram com artigos para a apresentação da obra em museus de arte. Os artigos trazem detalhes da feitura do filme bem como outros detalhes referente a exposição que acompanha a exibição da obra, como fotografias das lancheiras dos trabalhadores do estaleiro e do processo de pesquisa e imersão de mais de um ano em que a realizadora residiu e conviveu com esses trabalhadores no estado do Maine, nos Estados Unidos da América.

    As obras de Sharon Lockhart sempre buscam dialogar com a sua função primeira de fotógrafa mas quando essas fotografias não davam conta das proposições pretendidas pela artista ela inventa um modo próprio de criação audiovisual, tendo suas referências artísticas ligadas principalmente ao cinema estrutural, não é de se admirar que suas criações sejam exibidas principalmente em museus e em instituições culturais.

    Muito mais do que um simples som ambiente, o conceito de Cenografias Sonoras de Virgínia Flôres, se constitui de uma gama de diferentes sons planejados e arranjados e no caso dessa obra, para que nos insira não somente no centro da experiência de se estar presente em um estaleiro durante a pausa do almoço mas que também nos leva a pensar sobre as diferentes camadas sonoras possíveis para se amplificar a experiência sensível.

Bibliografia

    CHION, Michel. A Audiovisão: Som e Imagem no Cinema. Texto e Grafia, 1ª Ed. 2011,

    ECKMANN, Sabine. “Times and Places to Rest.” Lunch Break. Mildred Lane Kemper Art Museum, Sam Fox School of Design & Visual Arts, 2010.

    FLÔRES, Virginia. O Cinema: uma arte sonora. São Paulo: Annablume, 2013.

    FLUSSER, Vilém. A filosofia da caixa preta: Ensaios para uma futura filosofia da fotografia. Rio de Janeiro: Sinergia Relume Dumará, 2009.

    GIL, Inês. A atmosfera como figura fílmica. ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume I, 2005.

    VERNALLIS, Carol. Avant-Gardists and the Lure of Pop Music. In: ROGERS, Holly (ed.). Music and sound in documentary film. London: Routledge, 2015.

    MICHALKA, Matthias. “Realities of Time: Notes on The Fictionality of Lunch Break.” Mildred Lane Kemper Art Museum, Sam Fox School of Design & Visual Arts, 2010.

    NUNES, Sofia. Entrevista com Sharon Lockhart. Revista Contemporânea, ed. 11, 2017.