Ficha do Proponente
Proponente
- Fernanda Omelczuk Walter (UFSJ)
Minicurrículo
- Professora da Universidade Federal de São João del Rei, e pesquisadora do Programa de Pós-graduação em Educação da UFSJ, coordenadora do programa ECOS Educação e cinema com os território – criação, extensão e pesquisa desde 2017. Membra da rede KINO – Rede Latino Americana de Educação, Cinema e Audiovisual desde 2012.
Ficha do Trabalho
Título
- UMA PESQUISA EM CINEMA E EDUCAÇÃO COM EXIBIÇÃO EM DÍPTICO
Seminário
- Estudos Comparados de Cinema
Resumo
- Nesta proposta compartilho um procedimento de pesquisa em educação, cinema e psicologia que buscou cartografar relações entre dois filmes: O garoto selvagem (1969) de François Truffaut e Jonas e o circo sem lona (2015) de Paula Gomes a partir de uma exibição simultânea em díptico que aconteceu na sala de cinema da Cinemateca Capitólio de Porto Alegre. O que esses dois filmes juntos nos fazem ver? Como organizar essas associações? Que procedimentos nos ajudariam a ver o que se passa entre eles?
Resumo expandido
- Este trabalho é parte de uma pesquisa de pós-doutorado em cinema, educação e psicologia que foi desenvolvido em 2022 e 2023. A primeira inspiração para realizar a exibição simultânea veio da proposta do cineasta brasileiro Glauber Rocha que anos 1980 manifestou o desejo de que três filmes seus fossem projetados simultaneamente: Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), Terra em Transe (1967) e Idade da Terra (1981). Glauber via nessas obras um único discurso sobre o Brasil, de modo que o experimento visava essa enunciação conjunta partindo de uma experiência didática e estética sem professor explicador ou uma narrativa ordenada sobre os fatos. O espectador é quem faria essas associações (RANCIÈRE, 2012).
A segunda veio das contribuições recentes do campo do cinema e educação e video arte visando construir com as imagens e filmes uma experiência não utilitarista, mas cuja própria materialidade da exibição fosse pedagógica. Considerando assim, o cinema e suas derivações, em confluências com as artes visuais e práticas contemporâneas como uma experimentação capaz de convocar mecanismos múltiplos na construção do conhecimento, da experiência estética e da subjetividade (CONH, 2016; FRESQUET, 2009).
A exibição em díptico se apoia na hipótese de uma potencialidade pedagógica e estética do cinema expandido – imanente à própria ambiência sensorial proporcionada pela projeção sonora-visual-tátil sem explicar nada obrigatoriamente. A projeção simultânea, desde esse ponto de vista, inspira uma pedagogia e uma ética com as imagens na educação: inventar um mundo conosco, com o que trazemos para se associar, mas não nos obrigar a nada. Para Migliorin e Pipano (2019, p.127) “dizer que a imagem não obriga ninguém a nada significa assumir que ela não é palavra de ordem ou tampouco faz do espectador uma vítima de seus efeitos”, ao modo da emancipação de que nos falava Rancière (2012). Não se trata de mostrar um filme, depois outro e mais outro com o objetivo de se chegar a algum lugar ou explicação que desejávamos de antemão.
Identificamos que as imagens simultaneamente projetadas permitiram desmontar e as associar novamente de um outro modo, devolvendo algo [pensamentos, perguntas, reflexões, ideias] ao mundo sem responder, definir um único caminho ou explicação ou fechar o pensamento sobre questões que atravessam os filmes. Algumas sensações dessa experiência se aproximaram da exibição do tríptico proposto por Glauber Rocha, mas outras se distanciaram. Vivenciamos também uma experiência caótica e disruptiva da narratividade linear e um terceiro filme pareceu se formar em nossa cabeça, com personagens passando de uma cena e/ou filme a outro. Desejamos que a partilha de nosso processo e as sensações emergentes com a projeção em díptico dos filmes O garoto selvagem e Jonas e o circo sem lona provoquem e inspirem práticas e pedagogias inventivas agenciadas aos contextos e suportes empregados por cada professora e estudante ao seu próprio modo de fazer e criar com imagens, filmes e/ou artes visuais, em uma experimentação expandida de educação, expandida de cinema, expandida de sensações, aprendizagens e vida.
Bibliografia
- COHN, Greice. A pedagogia da videoarte. A experiência do encontro de estudantes do
Colégio Pedro II com obras contemporâneas. Tese de Doutorado. Programa de Pósgraduação
em Educação. Universidade Federal do Rio de Janeiro. 2016.
DIDI-HUBERMAN, Georges. Imagens apesar de tudo. São Paulo: Editora 34, 2020.
FRESQUET, Adriana (Org.) Aprender com as experiências do cinema. Rio de Janeiro:
Booklink; CINEAD-LISE-FE/UFRJ, 2009.
JONAS e o circo sem lona. Direção Paula Gomes. Salvador, Plano3filmes, 2015. 1 DVD (82
minutos).
MIGLIORIN, Cezar. PIPANO, Isaac. Cinema de brincar. Belo Horizonte: Relicário, 2019.
O GAROTO Selvagem. Direção: François Truffaut. 1969. França. 1 DVD (85min).
PARENTE, André. A forma cinema: variações e rupturas. Em: MACIEL, Kátia (Org.)
Transcinemas. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria, 2009.