Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Isabela dos Santos Vieira (UFF)

Minicurrículo

    Graduanda em Cinema e Audiovisual pela UFF(RJ), desenvolveu a pesquisa de iniciação científica “A TRILHA DO MELODRAMA TELEVISIVO: PEDAGOGIA MORALIZANTE E DISTINÇÕES CULTURAIS.” amparada pela Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do RJ sob orientação da Dra Mariana Baltar.

Ficha do Trabalho

Título

    A Trilha do Melodrama Televisivo: Pedagogia Moralizante e Distinções Culturais

Eixo Temático

    ET 2 – INTERMIDIALIDADES, TECNOLOGIAS E MATERIALIDADES FÍLMICAS E EPISTÊMICAS DO AUDIOVISUAL

Resumo

    Esta comunicação foca nos aspectos da trilha sonora presentes nas telenovelas brasileiras, a fim de refletir sobre as representações e processos de distinções culturais articulados à luz de estratégias melodramáticas. Para tal, a pesquisa parte do estudo de caso da telenovela América (2005), buscando aplicar elementos estéticos-narrativos do melodrama à uma análise formal de passagens específicas da obra, a fim de evidenciar o caráter pedagógico-moralizante do melodrama nas telenovelas.

Resumo expandido

    Esta comunicação procura apresentar os resultados da pesquisa de iniciação científica “A Trilha do Melodrama Televisivo: Pedagogia Moralizante e Distinções Culturais”, desenvolvida com apoio da FAPERJ junto à UFF, e que buscou aplicar os elementos estéticos-narrativos do melodrama na análise do papel singular da trilha sonora da telenovela América (2005) e à relação entre música-tema e o arco das personagens. Com isso, partiremos da hipótese da existência de uma retroalimentação entre a caracterização das personagens e a trilha sonora, bem como a presença de estratégias melodramáticas aplicadas à sonoridade: obviedade, a antecipação e a reiteração, também estão presentes no uso das músicas-tema das personagens. Além disso, a reiteração do som associada a determinada personagem e a determinados acontecimentos cristaliza uma gama de valores e crenças dominantes.
    Para além de um espaço revelador das faces sociais do país, a telenovela brasileira, enquanto veículo cultural, é capaz de reformular ou reforçar discursos distintivos sociais. Por meio da ficcionalização e personificação de questões sociais e culturais, a telenovela adquire seu status enquanto potente instrumento discursivo. É nesse sentido que a compreensão da novela como uma obra melodramática por natureza adquire sentido: enquanto formato, o melodrama mobiliza-se a partir do excesso em um esforço de nos capturar através de engajamentos afetivos que dialogam identitariamente com o espectador, exercendo assim um papel, acima de tudo, “moralizante”. Assim, a novela apropria-se da pedagogia das sensações do melodrama, como delineada por Baltar (2019), cristalizando no imaginário social, por meio das estratégias discursivas do melodramas apontadas pela autora, uma ordem moral hegemônica. Dito isso, visando uma revisão da literatura já construída e congregar à um aporte teórico contundente dos estudos do melodrama, com destaque as literaturas produzidas por Linda Williams(2018), Peter Brooks(1995) e Mariana Baltar(2019), a presente pesquisa insere-se em um esforço de identificar conceitos, processos e permanências do melodrama e tem o intuito de ampliar as aplicações suas aplicações ao quesito sonoro, ainda pouco explorado nos estudos do melodrama, buscando identificar a trilha sonora enquanto um elemento melodramático com potencial discursivo.
    Para tal, parte-se do estudo de caso da telenovela América (2005), buscando delinear uma análise textual e fílmica da telenovela à luz das estratégias melodramáticas aplicadas a trilha sonora do núcleo dramático de Haydée (Christiane Torloni) e Raíssa (Mariana Ximenes). Tradicionalmente aplicado às pesquisas no campo do cinema, a análise textual e fílmica de uma obra mostra-se rara às análises de telenovelas, especialmente em razão de seu extenso aporte de conteúdo. Entretanto, aplicar tal análise às telenovelas mostra-se proveitoso, na medida em que constituem-se como importante espaço público de debates de temas representativos do país, como afirma Immacolata (2011). Frente a isso, a presente pesquisa desenvolveu uma metodologia própria de análise a fim de realizar uma análise do papel da trilha sonora.
    Para além da mobilização do corpo pelo excesso da imagem, a reiteração presente nas canções cristaliza uma percepção de mundo a partir da pedagogia das sensações. Diante dessa tradição, América abre espaço para a representação da cultura funk em tela, destoando-se de outras ficções televisivas do período por tal razão. Por outro lado, ao personificar o funk na personagem Raíssa, a obra tensiona essa cultura periférica, conservando um discurso moral e culturalmente distintivo, sendo portanto uma obra exemplar dos processos de disputa e do discurso promovido pelas telenovelas brasileiras nos anos 2000. Assim, a partir de América o estudo pretende explorar a relação quase indissociável entre as telenovelas e a tradição melodramática, mergulhando em seus processos de significação e construção discursiva a partir da perspectiva sonora.

Bibliografia

    BALTAR, M. Realidade Lacrimosa: o melodramático no documentário brasileiro contemporâneo. Niterói, Eduff, 2019.
    BARBERO, Jesús Martín. Dos meios às mediações. Rio de Janeiro: UFRJ, 2003.
    BOURDIEU, Pierre. A distinção: critica social do julgamento. São Paulo/Porto Alegre: EDUSP/Zouk, 2007.
    BROOKS, P. Imagination melodramatic: Henry James and Balzac. Yale: 1995.
    HAMBURGER, Esther. O Brasil antenado: A sociedade da telenovela. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.
    LOPES, Maria Immacolata Vassallo de. Telenovela brasileira: uma narrativa sobre a nação. Comunicação & Educação, São Paulo, Brasil, n. 26, p. 17–34, 2003.
    LOPES, M. I. V. de. Telenovela como recurso comunicativo. MATRIZes, [S. l.], v. 3, n. 1, p. 21-47, 2011.
    WILLIAMS, L. e GLEDHILL, C.(orgs). Melodrama Unbound. Across History, Media, and National Cultures. NY, Columbia University Press, 2018.
    XAVIER, Ismail. O olhar e a cena – Melodrama, Hollywood, Cinema Novo, Nelson Rodrigues. São Paulo: Cosac & Naify, 2003