Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Lauren Marinho de Cerqueira Lima (UFBA)

Minicurrículo

    Lauren Marinho de Cerqueira Lima é estudante da graduação da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e participante do grupo VOLTA – Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Cinema Irlandês Contemporâneo, orientando pelo professor Dr. Sanio Santos da Silva. É PIBIC voluntário pelo mesmo grupo, onde pesquisa sobre cinema irlandês, folk horror, a lenda do changeling, som no cinema de terror e, mais especificamente, o filme You Are Not My Mother (2021), de Kate Dolan.

Ficha do Trabalho

Título

    O Som e Sua Narrativa: Um Olhar Sobre O Folk Horror Em You Are Not My Mother (2021), De Kate Dolan

Eixo Temático

    ET 3 – FABULAÇÕES, REALISMOS E EXPERIMENTAÇÕES ESTÉTICAS E NARRATIVAS NO CINEMA MUNDIAL

Resumo

    No folk horror, particularidades sonoras emergem de forma a evocar elementos folclóricos e contribuir para a edificação da narrativa. Para tanto, o objetivo geral deste trabalho é analisar o filme You Are Not My Mother (2021), de Kate Dolan, sob a luz de estudos sobre som no cinema de terror, folk horror e cinematografia irlandesa. A metodologia é a análise de conteúdo (Bardin, 1977), e espera-se que a pesquisa promova discussões multiculturais através do cinema irlandês de terror.

Resumo expandido

    Vivian Sobchack (2004) aponta que, quando assistimos um filme, os sentidos são mobilizados, configurando a experiência como capaz de unir os corpos com a linguagem, muito pautada em ideias sensoriais e corporais. Na história do cinema, o som pode atuar como essencial nessa função, aliado ao uso de melodias e texturas sonoras que auxiliam nesse papel. Ademais, no cinema de terror esse papel é ainda mais fundamental, podendo ser utilizado na produção do temor, de forma a gerar uma atmosfera propensa a tal, atacando o sistema nervoso do ouvinte (Heimerdinger, 2020). Assim, particularidades sonoras se fazem presentes em diversas formas cinematográficas, a depender de seu local de produção, contexto social e o subgênero a qual se insere. Em The Wicker Man (1973), de Robin Hardy, a música do filme é marcada pelo uso de flautas, instrumentos acústicos, vozes humanas e cânticos que remetem a uma sonoridade folclórica, refletindo uma atmosfera de inquietude e estranhamento presente na narrativa. O filme se encaixa no subgênero folk horror, que se estabelece a partir do uso de figuras folclóricas vinculadas ao terror. Andrey Kolling Lehnemann (2024) define que o folk horror se constrói através de rituais antigos, aliados a tensões que emergem do conflito entre o novo e o ancestral. Nesse sentido, The Wicker Man faz uso dessas características ao mesmo tempo que as usa para a formação da narrativa folclórica que se propõe; as músicas da obra atuam como uma representação do afastamento da civilização, o som natural das flautas e vozes ecoam frente a um crescente mercado musical eletrônico dos grandes centros civilizatórios da época. Esse contraste dialoga diretamente com a formação do termo folk, associada ao movimento romântico e a condenação da civilização, favorecendo a valorização de uma cultura originada em povos europeus marginalizados (Tolbert, 2023). Portanto, o folk horror abraça as formas de afastamento civilizatório – a modernidade e o Iluminismo contra a superstição e a fé (Scovell, 2017) – e suas formas musicais refletem essas características. No contexto irlandês, dificuldades orçamentárias na produção do cinema de terror faz com que os cineastas desenvolvam alternativas para causar temor em seus filmes (Silva, 2024). Assim, em obras de baixo orçamento, como Tin Can Man (2007), de Ivan Kavanagh, o som ganha destaque ao ser desenvolvido e editado pelo próprio diretor, revelando sua estratégia de eliciar temores através do aspecto sensorial sonoro do filme. Nesse sentido, o som no cinema de terror irlandês deve ser levado em conta para a análise do funcionamento interno da narrativa do filme. Em You Are Not My Mother (2021), de Kate Dolan, o design sonoro é fundamentado em noções narrativas, construindo seus personagens e atmosferas através de sonoridades e estéticas do folk horror. Para tanto, esse trabalho busca responder o seguinte questionamento: como You Are Not My Mother (2021), de Kate Dolan, explora o subgênero folk horror através de seu design sonoro aliado à sua construção narrativa? Para responder a essa pergunta, este trabalho estabeleceu como objetivo geral desenvolver uma análise para o filme You Are Not My Mother, sob a luz de estudos e teorias sobre som no cinema de terror, o subgênero folk horror e a cinematografia irlandesa. A metodologia escolhida para este estudo foi a análise de conteúdo, definida por Laurence Bardin (1977). Esta pesquisa pode ser entendida como uma contribuição para o avanço dos estudos do cinema nacional da Irlanda. Isso se dá visto que ainda há poucos trabalhos dedicados a entender as especificidades do terror irlandês, sobretudo em relação à função do design sonoro nestas obras.

Bibliografia

    BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.
    HEIMERDINGER, J. Music and sound in the horror film & why some modern and avant-garde music lends itself so well. Seiltanz. v. 4. Berlin: p. 4-16, 2012.
    LEHNEMANN, A. Midsommar – O Mal Não Espera a Noite: horror, folclore e alteridade. Dissertação – UFSC, Florianópolis, 2024.
    SCOVELL, A. Folk Horror: Hours Dreadful And Things Strange. Liverpool: Auteur, 2017.
    SILVA, S. A morada do pesadelo–um estudo sobre terror doméstico no cinema Irlandês. Tese – UFBA, Salvador, 2024.
    SOBCHACK, V. Carnal Thoughts: Embodiment and Moving Image Culture. Berkeley: UCP, 2004.
    THE WICKER MAN. Direção: Robin Hardy. UK: British Lion Films, 1973.
    TIN CAN MAN. Direção: Ivan Kavanagh. Dublin: Park Films, 2007.
    TOLBERT, J. The Frightening Folk: An Introduction to the Folkloresque in Horror. In: KEETLEY, D.; HEHOLT, R. Folk Horror: New Global Pathways. Cardiff: UWP, p. 37-50, 2023.
    YOU ARE NOT MY MOTHER. Direção: Kate Dolan. Dublin: Fantastic Films, 2021