Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Lara Damiane de Oliveira Estevão (UFG)

Minicurrículo

    Bacharel em Cinema e Audiovisual pelo IFG, mestre e doutoranda em História pela UFG. Pesquisa história do cinema goiano e práticas de resistência cultural durante a ditadura militar em Goiás. Compõe o Coletivo Clandestinas desde sua fundação.

Coautor

    Maiári Cruz Iasi (UFBA)

Ficha do Trabalho

Título

    Mostra Clandestina: interiorização e feminismos na difusão de filmes em Goiás

Seminário

    Festivais e Mostras de Cinema e Audiovisual

Resumo

    O festival de cinema Mostra Clandestina, iniciado em 2018 por estudantes e professoras ligadas ao curso de Cinema do IFG, encontra-se atualmente na sua quinta edição e exibe filmes dirigidos por mulheres. Neste trabalho, a partir de uma perspectiva endógena das organizadoras, pretendemos analisar a trajetória do festival, entendendo-o como um espaço feminista de formação e difusão que promove mudanças na cultura cinematográfica de Goiás, marcada, por sua vez, por desigualdades de gênero.

Resumo expandido

    A Mostra Clandestina, iniciada em 2018 na cidade de Goiás, surge como um dos festivais recorrentes do estado, criado por professoras e estudantes do Instituto Federal de Goiás (IFG). O festival exibe filmes dirigidos por mulheres e pessoas não-binárias, no intuito de fomentar a produção de mulheres no audiovisual e contribuir com os debates de gênero no cinema brasileiro e goiano. Este trabalho analisa como o festival tem promovido mudanças na cultura cinematográfica em Goiás, que, por sua vez, é marcada por uma disparidade na participação de homens e mulheres em toda a cadeia audiovisual.
    O IFG tem desempenhado papel essencial na interiorização dos estudos de cinema e na formação de profissionais do setor, contribuindo para a inserção de mulheres no audiovisual goiano. Contudo, as desigualdades de gênero persistem. Taís Oliveira (2022) levantou que entre as séries, curta, médias e longas-metragens realizados em Goiás entre 2000 e 2020, apenas 21,29% possuem direção exclusivamente feminina, enquanto a direção masculina representou 70,71%. Os dados sobre a direção cinematográfica, entendida como uma função-poder (Vieira, 2023) na indústria audiovisual, ilustram as desigualdades de gênero que constituem o cinema goiano, contudo a disparidade não se limita à produção. Ela também permeia os espaços de formação e difusão.
    Os festivais são espaços capazes de gerar, modelar ou questionar culturas cinematográficas (Leão; Vallejo, 2021). Tetê Mattos (2021) aponta a realização de 32 festivais de cinema feitos por ou sobre mulheres nas últimas duas décadas, sendo quatro na região Centro-Oeste, incluindo a Mostra Clandestina. Esses festivais não possuem um caráter homogêneo, mas partilham de desafios, como a descontinuidade. O estudo de suas trajetórias específicas pode contribuir para o fortalecimento das lutas e perspectivas feministas na difusão audiovisual, por sua vez capazes de promover mudanças nas culturas cinematográficas masculinistas.
    Sem recursos iniciais, a Mostra Clandestina teve sua primeira edição em 2018, a partir da organização de um coletivo feminista, autônomo e horizontal de mulheres estudantes, pesquisadoras e trabalhadoras do audiovisual. Naquele ano, a Mostra foi realizada como uma atividade de extensão do IFG, que homenageou a documentarista Helena Solberg, a partir da curadoria feita pela professora Ceiça Ferreira. A partir da segunda edição, em 2019, o Coletivo Clandestinas assumiu a curadoria dos filmes, realizando convites à diretoras contemporâneas, promovendo a interiorização da circulação de filmes dirigidos por mulheres.
    A terceira edição, em 2020, contou com recursos municipais da Lei Aldir Blanc, possibilitando pela primeira vez a organização de um sistema de inscrição de filmes e a exibição online, devido à pandemia. Além disso, a edição contou com homenagem e participação da cineasta Helena Ignez. No quarto ano de Mostra, em 2022, houve o retorno ao presencial e o festival ganhou o escopo de projeto de extensão no IFG.
    Em sua quinta edição, em 2024, a Mostra, além de continuar como projeto de extensão, foi contemplada por edital do Fundo de Arte e Cultura do estado de Goiás e pela Lei Paulo Gustavo. O festival pode ampliar prêmios, remunerar minimamente a equipe e aumentar a programação, incluindo atividades científicas e formativas. Além disso, nesse ano, a Mostra homenageou a cineasta Adélia Sampaio. O acesso a políticas de fomento fez com que o trabalho do coletivo, antes mais disperso e voluntário, se estruturasse e profissionalizasse sua atuação.
    O festival e o coletivo que o organiza refletem, em sua trajetória, dinâmicas sociais que permeiam o audiovisual em Goiás, evidenciando as barreiras que ainda dificultam a inserção de mulheres na cadeia produtiva do cinema. Dessa forma, a Mostra impulsiona novas perspectivas e redes de apoio para realizadoras locais, integrando produção, formação e difusão de filmes sob uma ótica feminista, promovendo transformações na cultura cinematográfica goiana.

Bibliografia

    LEÃO, Tânia; VALLEJO, Aida. Introdução: Festivais de cinema e os seus contextos socioculturais. In: Aniki: Revista Portuguesa da Imagem em Movimento, v. 8, 2021, p. 219-244.
    MATTOS, Tetê. Festivais de Cinema no Brasil – uma abordagem feminina. In: Trabalhadoras do Cinema Brasileiro – mulheres muito além da direção. pp.179-189 Nau Editora. Rio de Janeiro, 2021. (p. 179-199)
    OLIVEIRA, Thais Rodrigues. Audiovisual no cerrado brasileiro: filmes e séries realizadas em Goiás de 2000 a 2020. In: A Diegese em Crise – Consumo, tecnologia e história(s) do cinema org. Rodrigo Carreiro. Marca de Fantasia. Parahyba, 2022.
    VIEIRA, Luciana Oliveira. (Re)Pensar a direção cinematográfica – um olhar sobre diretoras negras brasileiras. Grau Zero – Revista de Crítica Cultural, v. 11, n. 2, p. 179-202, 2023. Disponível em: [https://revistas.uneb.br/index.php/grauzero/issue/view/v11n2/v11n2]. Acesso em: mar. 2025.