Ficha do Proponente
Proponente
- Eduardo Tulio Baggio (Unespar)
Minicurrículo
- Professor associado da Unespar. Pós-doutor pelo PPGCOM da UFC. Integrante do GP Cinecriare (Unespar/CNPq), do GT Teoria dos Cineastas da AIM e da Rede de Pesquisa Teoria de Cineastas. Um dos organizadores dos livros: Teoria dos Cineastas (Vols.1, 2 e 3), Cineastas do Paraná: Primeiros Tempos e Filmmakers on Film: Global Perspectives. Autor do livro Documentário: filmes para salas de cinema com janelas. Diretor dos documentários: João & Maria (2016) e A Alma do Gesto (2020) e Professoras (2024).
Coautor
- Juslaine de Fátima Abreu Nogueira (Unespar)
Ficha do Trabalho
Título
- Docentes cineastas na criação de Professoras (2024): disrupção e resistências na escola pública
Seminário
- Teoria de Cineastas: dos processos de criação à dimensão política do cinema
Resumo
- A comunicação trata do processo de criação do filme Professoras (2024) e como as experiências do trabalho de quatro docentes da educação básica pública foram concebidas como documentário. Diante da digitalização do ensino pós-pandêmico, o filme foi construído entre cenas de uma escola sequelada e outras que miravam as formas de resistência das docentes. A pesquisa apresenta esses procedimentos do fazer fílmico e tece considerações analíticas sobre as escolhas dos mesmos como encontro criativo.
Resumo expandido
- A partir do processo de realização do documentário paranaense Professoras (dir. Juslaine Abreu-Nogueira e Eduardo Baggio, 2024, 71 min.), propomo-nos a comunicar como as memórias e experiências do trabalho de quatro docentes da educação básica pública –Adélia, Ana Paula, Maria Carolina e Cristiane – foram concebidas como filme documentário. Esse filme pretendeu representar a intensa implementação de ferramentas digitais, que passaram a ocupar lugar central em práticas pedagógicas de ordem virtual, justificadas pela pandemia de Covid-19, e como tal centralidade de mecanismos tecno-virtuais precipitaram a primeira grande disrupção histórica num dos pilares da escola desde a modernidade, o modelo que sustentou as instituições escolares baseado na hierarquia e na responsabilidade do mestre na condução dos conhecimentos e das condutas (Narodowski; Campetella, 2020).
Em março de 2020, tal como estava acontecendo em termos mundiais, as instituições de ensino brasileiras sofreram um corte. A escola, o maior espaço de sociabilidade da modernidade, foi interrompida e uma outra experiência se fez premente: o ensino remoto. No Paraná, seguindo os ecos do período de isolamento social, o retorno ao regime presencial colocou o trabalho docente na escola básica diante do imperativo do ensinar-aprender em modo tela e dos regimes virtuais de produção de índices e ranqueamentos na gestão escolar.
Diante desse contexto, uma pergunta serviu de base para a realização de Professoras: como o cinema brasileiro se desafia a interrogar e imaginar com trabalhadoras da educação básica os espaços-tempos escolares deste período inclemente? Essa pergunta funcionou como foco de investigação criativa acerca do trabalho das professoras em dois fios narrativos. O primeiro, dado pelas cenas de uma escola sequelada por um horizonte distópico marcado por tecnologias digitais e algorítmicas, em que docentes historicizam os ordenamentos escolares que têm distanciado e pasteurizado as relações humanas, destituindo a agência e a criação da ação docente. O segundo, em cenas que miram as formas de resistência ético-política no trabalho de docência como força criativa, capaz de conceber imaginários sociais insubmissos à rendição de uma educação por demais virtualizada. Uma docência que bem poderia ser chamada “artística”.
Com essa proposta de duplo percurso narrativo, o processo de criação do filme envolveu investigar como seria possível ter em tela tais trajetos a partir do diálogo experiencial com as professoras frente às câmeras e aos microfones. Para isso, foram costurados sete procedimentos fílmicos: a) entrevistas; b) encenações; c) leituras de cartas escritas pelas próprias professoras-personagens; d) materiais de arquivos; e) registros de ambientes; f) dispositivo de rememoração e g) a opção de montagem que acompanha uma personagem por vez em diferentes momentos desde a pandemia.
A comunicação de pesquisa intenta apresentar esses procedimentos do fazer fílmico no documentário Professoras e tecer considerações analíticas sobre as escolhas dos mesmos enquanto encontro criativo ou da tessitura de uma rede de criação que envolve cineastas e professoras (SALLES, 1998; 2006). Em outras palavras, a comunicação volta-se para o processo criativo de cineastas tensionando a possibilidade de considerar também as professoras protagonistas do filme como tal, seguindo acepção de cineastas debatida pela Teoria de Cineastas (BAGGIO; GRAÇA; PENAFRIA, 2015). Essa consideração vem do fato de que as docentes também agiram criativamente no processo de realização do filme, notadamente pela mobilização empreendida por elas na potência política que têm como trabalhadoras da educação que insistiram em dizer que a grande questão não são as telas, as plataformas e a inteligência artificial, senão quem pensa e conduz os processos educativos ou, em suma, nas mãos de quem nossas sociedades querem delegar as responsabilidades formativas e a construção de saberes e dos vínculos humanos.
Bibliografia
- BAGGIO, Eduardo Tulio; GRAÇA, André Rui; PENAFRIA, Manuela. Teoria dos cineastas: uma abordagem para a teoria do cinema. Revista Científica/FAP, Curitiba: FAP, v. 12, jan./jul. 2015.
NARODOWSKI, Mariano; CAMPETELLA, Delfina. Educación y destrucción creativa en el capitalismo de pospandemia. In: DUSSEL, Inés; FERRANTE, Patricia; PULFER, Darío (compiladores). Pensar la educación en tiempos de pandemia: entre la emergencia, el compromiso y la espera. 1. ed. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: UNIPE: Editorial Universitaria, 2020, p. 43-51.
PROFESSORAS. Direção: Juslaine Abreu-Nogueira e Eduardo Baggio. Produção: LICA/Unespar. Curitiba, 2024.
SALLES, Cecilia Almeida. Gesto Inacabado: processo de criação artística. São Paulo: Fapesp: Annablume, 1998.
SALLES, Cecilia Almeida. Redes da criação: construção da obra de arte. São Paulo: Horizonte, 2006.