Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Luiz Felipe Rocha Baute (UNICAMP)

Minicurrículo

    Luiz Felipe Rocha Baute é doutorando em Multimeios na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente, desenvolve pesquisa sobre os gêneros cinematográficos e suas relações socioculturais.

Ficha do Trabalho

Título

    Proposições sociais no filme de crime latino-americano:uma análise de Okupas, Heli e Pico da Neblina

Resumo

    Nesta apresentação, investigarei três obras latino-americanas: Okupas (2000), Heli (2014) e Pico da Neblina (2019-2022) sob a perspectiva dos estudos de gêneros cinematográficos e audiovisuais. Embora produzidas em momentos e contextos diferentes, as três apresentam convenções do filme de crime. A partir desse prisma, explorarei desenvolvimentos narrativos e estéticos, bem como suas distribuições em diversos meios e circuitos de mídia.

Resumo expandido

    A princípio, nota-se que Okupas, Heli e Pico da neblina discutem, com diferentes perspectivas e ênfases, problemáticas sociais envolvendo o consumo, a venda e a criminalização de drogas — com destaque para a ambivalência nas aplicações das leis referentes ao tema. Ademais, também questionam ideias de mobilidade social na Argentina, no Brasil e no México, tanto em contextos urbanos quanto rurais. Apesar de dispostas de maneiras individualizadas, almeja-se uma integração na análise das três obras elencadas, com o objetivo de uma avaliação mais completa desse recorte da produção recente do gênero. Em resumo, defendo que seu exame revela um entrecruzamento de estéticas e ideologias em constante diálogo com a arte e a sociedade de seu tempo.
    Okupas acompanha a trajetória de quatro amigos redescobrindo Buenos Aires durante a estadia em uma casa ocupada, alternando entre ocupações legais e ilegais. O desenvolvimento da série acompanha essa questão limítrofe, tensionando convenções do filme de crime a partir das experiências de seus personagens em diversas situações marginalizadas. Desde o início, Okupas é pautada por uma tentativa de aproximação do real, fazendo uso de gravações nas ruas da cidade e seus arredores, bem como pela exploração de espaços públicos e privados diversos na capital argentina.
    Por sua vez, Pico da Neblina projeta, em um futuro não muito distante, um cenário onde o comércio de cannabis é tornado legal no Brasil. Ambientada na cidade de São Paulo, a série é protagonizada por William, um vendedor de maconha conhecido informalmente como Biriba, e acompanha as suas tentativas de mudar de vida através da legalização. Por conseguinte, Biriba deve aprender os meios e processos de uma empresa legítima, com códigos e procedimentos diferentes do tráfico — mas que, por vezes, também atuam fora da conformidade da lei. Paralelamente, Pico da neblina elabora sobre as iniciativas de profissionalização do crime nessa nova conjuntura.
    Heli narra a história do protagonista homônimo, trabalhador precarizado de uma fábrica em Guanajuato, que acidentalmente envolve-se em um caso de tráfico de drogas. Tornado cúmplice de um esquema envolvendo o contrabando de cocaína, o filme narra os desdobramentos trágicos desse acontecimento. Em meio às dificuldades de obter justiça, Heli retrata as dificuldades em navegar pelas complexas relações entre o narcotráfico, a polícia e o Estado mexicano.
    Para além do exame das obras, pretendo delinear certas características de recepção do filme e de ambas as séries. À título de exemplificação, Heli obteve uma série de prêmios importantes internacionais, em festivais como os de Viña del mar, Lima e Havana. Ademais, o seu diretor, Amat Escalante, venceu o prêmio de melhor diretor no Festival de Cannes. Para além de sua recepção crítica, a trajetória do filme em circuitos de arte também promoveu a participação de Escalante em diferentes partes do circuito comercial, como na direção de Narcos: México para a Netflix em 2020. Em relação a circulação das séries, tanto Okupas quanto Pico da Neblina tiveram suas exibições pautadas por tendências de plataformas de streaming. Enquanto o primeiro teve uma ressurgência mais recentemente por conta de sua distribuição internacional através da Netflix, o segundo foi produzido pela HBO Latinoamerica e distribuído via Max no Brasil e em diversos países desde a sua estreia.
    Desse modo, analisarei não apenas as obras em si, com desenvolvimentos estéticos e narrativos particulares, mas também examinarei como suas movimentações no campo de produção artístico revelam certas tendências do audiovisual contemporâneo, configurando novas oportunidades de exibição. A apresentação visa apresentar resultados parciais de uma pesquisa de doutorado em andamento.

Bibliografia

    ALTMAN, R. Film Genre. Londres: BFI Publishing. 1999.
    LEITCH, T. Crime Films. Cambridge: Cambridge University Press. 2004.
    KING, G. Arthouse Crime Scenes: Art Film, Genre and Crime in Contemporary World Cinema. Londres: Bloomsbury. 2024.
    NAGIB, L. Realist Cinema as World Cinema: Non-Cinema, Intermedial Passages, Total Cinema. Amsterdã: Amsterdam University Press. 2020.