Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Sanio Santos da Silva (UFBA/UNEB)

Minicurrículo

    Sanio Santos da Silva é professor no Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e no Departamento de Ciências Humanas da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Possui mestrado e doutorado em Literatura e Cultura pela UFBA e graduação em Língua Estrangeira – Inglês pela mesma instituição. É líder do VOLTA – Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Cinema Irlandês Contemporâneo. Dedica-se a estudos sobre o cinema irlandês e as interfaces entre literatura e ensino de língua inglesa.

Ficha do Trabalho

Título

    Os vestígios do cinema de terror irlandês em Evil Dead Rise (2023), de Lee Cronin

Resumo

    O terror no cinema irlandês detém particularidades que contrastam com padrões hollywoodianos. Porém, questionamentos surgem quando cineastas irlandeses se envolvem em projetos nos Estados Unidos. Logo, o objetivo geral é mapear aspectos do cinema de terror irlandês em Evil Dead Rise (2023), de Lee Cronin, em busca de compreender como o cineasta atua nesse contexto. A metodologia é a análise de conteúdo (Bardin, 1977), e a pesquisa deve favorecer debates sobre o cinema irlandês e o gênero terror.

Resumo expandido

    Segundo Ruth Barton (2019), até o final dos anos 1990, o cinema irlandês não tinha um cenário reconhecível de terror. A autora discorre que, desde então, o gênero se tornou um dos mais proeminentes na cinematografia nacional. Porém, avanços foram retardados por limites orçamentários. O cinema irlandês depende do apoio da Screen Ireland, uma organização estatal responsável por financiar projetos de cineastas locais. Tais recursos podem não ser o suficiente para a realização de filmes de terror, uma vez que o gênero, por vezes, demanda efeitos especiais custosos para sequências com violência e acontecimentos sobrenaturais. Por exemplo, Derek Elley (2007), escreveu uma crítica para Shrooms (2007), um filme de terror irlandês dirigido por Paddy Breathnach, destacando que o longa evidenciava como é difícil fazer terror com um orçamento modesto. Apesar dos recursos limitados, o cinema irlandês de terror teve notável crescimento em meados dos anos 2010, acompanhando o aquecimento da economia em meio ao fenômeno Fênix Celta, que teve início em 2014. Entre 2014 e 2020, a Screen Ireland aprovou projetos de, pelo menos, doze filmes de terror, um número expressivo visto que é cerca de quatro vezes maior do que a quantidade de produções financiadas entre 2010 e 2013. Convém destacar que, mesmo existindo mais interesse no gênero, cineastas ainda precisaram lidar com recursos limitados. Dentro desse contexto, Lee Cronin escreveu e dirigiu The Hole in The Ground (2018), seu primeiro longa-metragem. Trata-se da história de Sarah, uma mãe solteira que se muda para um local isolado e começa acreditar que seu filho é um impostor. Em uma entrevista, disponível no canal do Youtube do Festival de Cinema Fantástico de Bilbao – FANT, Cronin, relata dificuldades logísticas e na execução de efeitos especiais. O cronograma de gravações foi comprometido por um dos protagonistas ser menor de idade e não poder trabalhar à noite. No entanto, o maior desafio para a produção foi o buraco no chão, que dá título ao filme. Cronin chegou a brincar com a equipe afirmando que o problema seria o “buraco no orçamento” (Silva, 2023). Apesar de ser um cineasta iniciante atuando fora do circuito hollywoodiano, o trabalho de Cronin chamou atenção de Sam Raimi, criador da série de filmes Evil Dead, quem o convidou para dirigir Evil Dead Rise (2023), o quinto filme da franquia (Scott, 2022). Deve-se destacar que, mesmo sendo um cenário recente, os filmes de terror irlandeses detêm particularidades, a exemplo de referências a lendas do passado celta, perturbações no ambiente doméstico e do amplo uso do design sonoro para acentuar inquietações no público (Silva, 2024). A partir disso, é possível propor discussões acerca de como cineastas irlandeses atuam em iniciativas fora do país, uma vez que, por vezes, interesses e padrões estabelecidos por Hollywood podem contrastar com as tendências do cinema irlandês. Assim, esta pesquisa surge a partir do seguinte questionamento: é possível identificar características do cinema de terror irlandês em filmes realizados por irlandeses no contexto hollywoodiano? O objetivo geral é mapear aspectos do cinema de terror irlandês em Evil Dead Rise (2023), de Lee Cronin, em busca de compreender como o cineasta irlandês atua dentro da indústria hollywoodiana. A metodologia adotada será a análise de conteúdo, tal como definida por Laurence Bardin (1977). A justificativa desta investigação está relacionada à necessidade de ampliar discussões acerca da cinematografia irlandesa, um campo ainda pouco estudado no contexto brasileiro. Ademais, filmes de terror espelham ansiedades latentes que permeiam o imaginário da comunidade. Logo, os resultados deste estudo podem contribuir para compreender como fenômenos sociais podem emergir através do cinema e de outras expressões artísticas.

Bibliografia

    BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.

    BARTON, Ruth. Irish cinema in the twenty-first century. Manchester: MUP, 2019.

    ELLEY, D. “Shrooms.” Variety, 23 Aug. 2007.

    EVIL DEAD RISE. Direção: Lee Cronin. Produção: Bruce Campbel, Robert Tapert, Sam Raimi. Burbank: New Line Cinema, 2023.

    SCOTT, R. EVIL DEAD RISE Will Knock Your Socks Off, Promises Sam Raimi. Fangoria, 2 maio 2022.

    SHROOMS. Direção: Paddy Breathnach. Produção: Paddy McDonald, Rob Walpole. Dublin: Treasure Films, 2007.

    SILVA, S. S. O horror pelos olhos de uma mãe: mapeando o familismo em The hole in the ground. In: DUARTE, J.; SILVA, S. S. (ed.). Na raiz de todos os males: terror doméstico no século XXI. Lisboa: Caleidoscópio, 2023. p. 43-66.

    SILVA, S. S. A morada do pesadelo–um estudo sobre terror doméstico no cinema Irlandês. Tese – UFBA, Salvador, 2024.

    THE HOLE IN THE GROUND. Direção: Lee Cronin. Produção: Conor Barry e John Keville. Londres: Universal Pictures, 2019.