Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Rodrigo Fernandez dos Reis (UFRGS)

Minicurrículo

    Mestrando em Comunicação e Bacharel em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Faz parte do Grupo de Pesquisa em Semiótica e Culturas da Comunicação (GPESC).

Ficha do Trabalho

Título

    Investigação, materialidade, percepção: Forensickness (2020) entre o cinema e os estudos de mídia

Eixo Temático

    ET 2 – INTERMIDIALIDADES, TECNOLOGIAS E MATERIALIDADES FÍLMICAS E EPISTÊMICAS DO AUDIOVISUAL

Resumo

    Com base na Teoria de Cineastas, o trabalho busca identificar de que maneira determinados agenciamentos produzidos por Forensickness (2020) expressam, suscitam ou problematizam enunciados teóricos e políticos sobre o regime midiático contemporâneo, seus dispositivos e relações com formas de percepção, visualidade, pensamento, expressão e ação. Para isso, arriscamos uma aproximação, ainda exploratória, entre os problemas do filme e os do campo frequentemente referido como Estudos de Mídia.

Resumo expandido

    O trabalho busca identificar de que maneira determinados agenciamentos produzidos por Forensickness (2020) expressam, suscitam ou problematizam enunciados teóricos e políticos sobre o regime midiático contemporâneo, seus dispositivos e relações com formas de percepção, visualidade, pensamento, expressão e ação. Lastreados na Teoria de Cineastas, procuramos coadunar manifestações verbais de Lého Galibert-Laîné, cineasta responsável pelo filme, com a dimensão sensível e os territórios de significação observados em nosso objeto.

    Quanto ao potencial das imagens de produzir pensamento, trabalhamos a partir da filosofia de Deleuze (2016) e de uma apropriação crítica de Aumont, sobretudo através do que Leites (2024) aponta como o primeiro eixo de um “programa para estudos” em Teoria de Cineastas – nosso foco de atenção, portanto, é produzir novas inferências e tensionamentos que caminhem ao lado das imagens que “pensam a si próprias” e dos problemas teóricos que as animam.

    Entendemos que as problemáticas acionadas por boa parte dos filmes de Galibert-Laîné são de ordem midiática, epistemológica e política – com especial apreço por evidenciar a indissociabilidade das três. É com isso em mente que arriscamos, ainda de forma preliminar, exploratória e com ressalvas, uma aproximação especulativa entre os problemas abordados pela pessoa cineasta e o campo frequentemente referido como Estudos de Mídia (Telles, 2021). Há objetos, angulações e impasses partilhados que normalmente rondam a questão do papel das materialidades, dos suportes, das imagens técnicas, dos meios e suas ecologias.

    Galibert-Laîné (2020) situa Forensickness como um “remake exploratório” de Watching the Detectives (2017), documentário netnográfico que cria um inventário de postagens feitas no Reddit durante as caçadas amadoras em busca dos culpados pelo atentado terrorista de Boston, em 2013. Seu objetivo, diz, era criar uma “fábula de pesquisa” em que a protagonista, instigada pelo filme de Chris Kennedy – que julga como excessivamente austero –, decide, ela própria, vasculhar essas imagens. Forensickness é por vezes lido como um “documentário de desktop”, outras inserido sob a rubrica do filme-ensaio. Pouco nos interessa a insistência exaustiva em tipologias – fato é que o filme utiliza recursos de gravação de tela e apresenta forte inflexão ensaística (Almeida, 2018).

    Os primeiros minutos de Forensickness assumem um tom bastante descritivo da filmografia de Kennedy. Com o passar do tempo, no entanto, o filme se torna uma espécie de arqueologia de diferentes regimes de imagens e ecologias midiáticas que têm em comum a extremação de uma mesma postura obsessivamente hermenêutica e desconfiada. Em tom jocoso, por exemplo, Galibert-Laîné rearranja a célebre cena de They Live (1988) em que o protagonista, após longa briga, consegue colocar os óculos em seu colega de trabalho, montando, logo na sequência, videos do YouTube que desmascaram técnicas de falseamento de imagem; à partir da criação desse novo agenciamento, Galibert-Laîné desloca o sentido de ambas as imagens – e ambas a mídias – e demarca um posicionamento diante delas.

    Com o decorrer da pesquisa, a protagonista se mostra cada vez menos confiável, tendo suas próprias formas de percepção contaminadas pela mesma rede discursiva que estetiza os protocolos metodológicos de OSIT. Dois minutos após fazer troça de Carpenter, a narradora cai na própria armadilha: a vemos desmembrando, em um software de edição, todas as imagens do filme de Kennedy – são 571 – e relutando para não atribuir efeitos de sentido às congruências que percebe. Ao final, imprime dezenas de capturas de tela, que cola na parede para traçar enormes setas e círculos vermelhos, buscando relações de sentido ocultas. Galibert-Laîné, ao des/re/montar objetos que tematizam práticas investigativas nas/com as mídias, constrói o seu próprio, mas com uma inversão fundamental: interessa mais a forma como o fenômeno constitui o sujeito, e não o contrário.

Bibliografia

    ALMEIDA, Gabriela. Ensaio fílmico, eterno devir: projeto de filme inacabado e de um cinema futuro. DOC on-line, [s. l.], n. 24, p. 91–111, 2018.

    DELEUZE, Gilles. Dois regimes de loucos. São Paulo: Editora 34, 2016.

    ELSAESSER, Thomas. Cinema como arqueologia das mídias. São Paulo: Edições Sesc, 2018.

    GALIBERT-LAÎNÉ, Lého. Forensickness – Presentation video. 2020.

    GALIBERT-LAÎNÉ, Lého. Documenter internet: essais sur le réemploi d’internet dans le cinéma contemporain de non-fiction. 2021. 677f. Tese (Doutorado em Art et histoire de l’art) – Université Paris, Paris, 2021.

    LEITES, Bruno. O programa de Jacques Aumont para Estudos em Teoria de Cineastas. In: MELLO, Jamer Guterres de. et al. (Orgs.). Processos de Criação e Reflexões Teóricas no Cinema. São Paulo: Gênio Editorial, 2024.

    TELLES, Márcio. Uma breve introdução aos Estudos de Mídia alemães. Anais do 44º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 2021.