Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Priscila de Assis Lopes de Andrade (UFC)

Minicurrículo

    Priscila Smiths é artista visual e realizadora em audiovisual. Assinou direção nos curtas-metragens O Vigia (2017), Curió (2022), Cavalo Serpente (vol.1) (2024), que participaram de diversas exibições nacionais e internacionais, ganhando algumas premiações. Graduada em Artes Visuais pelo Instituto Federal do Ceará, mestranda em Artes pelo PPGARTES-UFC. Atuando na interface entre fantasmagorias, assombros e agência das mulheres negras no processo de criação.

Ficha do Trabalho

Título

    Poéticas do segredo: experiências fantasmagóricas nos processos de criação.

Eixo Temático

    ET 3 – FABULAÇÕES, REALISMOS E EXPERIMENTAÇÕES ESTÉTICAS E NARRATIVAS NO CINEMA MUNDIAL

Resumo

    Esta comunicação investiga as noções de fantasmagoria, ficção e fabulação em processos de criação, com ênfase na obra finalizada Cavalo Serpente (vol.1) (2024) e na obra em andamento Cavalo Serpente (2025), ambas de Priscila Smiths. Examinando o pensamento fantasmagórico e sua capacidade de diagnosticar sintomas históricos, com foco na criação artística da mulher negra, trabalha-se a fabulação crítica numa costura – conluio contra-colonial – entre experiências vividas e processos artísticos.

Resumo expandido

    “Como a narrativa pode encarnar a vida em palavras e, ao mesmo tempo, respeitar o que não podemos saber?” (HARTMAN, 2020, p.16). Partindo dessa reflexão, irei analisar gestos de uma poética do segredo, através de uma escuta fantasma, a partir da experiência de processos de criação dos filmes Cavalo Serpente (vol.1) e Cavalo Serpente. Para elaborar sobre a experiência proposta, é importante compreender que Cavalo Serpente é um curta-metragem de ficção em processo de desenvolvimento; e, como fruto da pesquisa desse filme, nasceu o curta intitulado Cavalo Serpente (vol.1).
    Na pesquisa, foram investigados documentos, fotografias e arquivos pessoais, como parte de uma elaboração sobre a ausência e a memória. Cavalo Serpente (vol.1) foi concebido especificamente com os arquivos encontrados, sem a presença em cena de personagens. Já Cavalo Serpente encena a história de uma mulher negra que consegue se revisitar em várias fases da vida e, a partir disso, transformar a própria história. Nesse encontro, são repassados informações geracionais, segredos e pistas para uma sobrevivência. Proponho analisar, nesta comunicação, o processo tanto do curta já finalizado, quanto do filme em desenvolvimento, em uma pesquisa que surge do encontro entre o documento, a fabulação e o fantasmagórico, através de uma investigação da experiência da mulher negra na criação.
    Inserida dentro de práticas de realização no cinema, esta comunicação tem ênfase no meu próprio processo de elaboração fílmica, examinando pistas de uma poética negra feminista (DA SILVA, 2019a), conexa à relação fantasmágorica (GORDON, 2008), que motiva a metodologia das obras criadas. Não se trata apenas de analogias imagéticas de fantasmas, mas de operar com o elemento da lacuna. Essa lacuna é elaborada por meio da fabulação crítica (HARTMAN, 2020), que a partir da ausência de informações em documentos, reconstitui histórias através de pistas.
    Os filmes abordam relações estabelecidas por memórias apagadas e usam a fabulação como ferramenta para criação de um inventário geracional que atravessa o espaço-tempo. Em um manejo do álbum familiar como ato de imaginação, aposto na fabulação a partir do arquivo, pensando os documentos como motores de uma ficção e de assombrações na história. Trabalharei a discussão de Jon K Shaw e Theo Reeves-Evison (2017) sobre o lugar que a ficção ocupa na formação e ordenação do mundo, como ponto convergente do “efeito operativo de algo” (2017, p.17), considerando a ficção a partir de uma reflexão sobre a forma como ela pode agenciar sujeitos e suas histórias.
    Trabalharei em consonância com a poética negra feministra (DA SILVA, 2019a), que lança um olhar para formas de pensamento que quebram a relação que a razão universal tem sobre a História, que é de um tempo linear e internalizada de apagamentos. Faço isso em concordância com o próprio conceito de fantasmas que irei elaborar: este tem como motor o desprendimento da lógica temporal, histórica e ficcional criada pela hegemonia branca, para que sujeitos possam reassumir seu espaço nos tempos.
    Irei trabalhar a fantasmagoria através do retorno de mulheres negras e de suas existências, seja ela através do documento como em Cavalo Serpente (vol.1); seja ela através da encenação, como em Cavalo Serpente, tanto em uma abordagem de análise fílmica, quanto nos atravessamentos com os processos de criação dessas obras. Trata-se de identificar uma lacuna na história da mulher negra, enquanto construtora da sua imagem e a efetivação dessa imagem enquanto documento. Estamos falando de um sintoma social presente, ligado à invisibilidade do corpo e da produção de imagem, em uma relação fantasmagórica “daquilo que deixa sua marca por estar lá e não estar lá ao mesmo tempo” (GORDON, 2008, p.6). Espera-se propor, dessa forma, uma reflexão sobre mecanismos usados pela lógica moderna para capturar pensamentos de criação, e também algumas ferramentas que podem criar fissuras nessa lógica.

Bibliografia

    DA SILVA, Denise Ferreira. A dívida impagável. Trad: Amilcar Packer e Pedro Daher. São Paulo: Forma Certa, 2019a. Disponível em: https://casadopovo.org.br/wp-content/uploads/2020/01/a-divida-impagavel.pdf.
    DA SILVA, Denise Ferreira. Em estado bruto (J. N. Otoch , Trad.). ARS (São Paulo), 17(36), 45-56. 2019b. Disponível em: https://doi.org/10.11606/issn.2178-0447.ars.2019.158811
    GORDON, Avery. Ghostly matters: haunting and the sociological imagination. Minneapolis: New University of Minnesota Press, 2008.
    HARTMAN, Saidiya. Vênus em dois atos. Revista Eco-Pós, [S. l.], v. 23, n. 3, p. 12–33, 2020. DOI: 10.29146/eco-pos.v23i3.27640. Disponível em: https://revistaecopos.eco.ufrj.br/eco_pos/article/view/27640. Acesso em: 1 abr. 2025.
    SHAW, K. Jon; EVISON, Reeves Theo (org.). Fiction as Method. Londres: Sternberg Press. 2017.
    _______________________________. Ilha Nula (Introdução de Ficção como Método). Tradução de Anti Ribeiro.