Ficha do Proponente
Proponente
- Alexandra Castro Conceicao (Unicamp)
Minicurrículo
- Doutoranda em Multimeios – Unicamp; Mestra em Artes – UFPA, Especialista em Artes Visuais – Senac/Pa; Licenciada em Artes Visuais – Claretiano. Professora EBTT de Artes Do IFPA. Realizadora audiovisual e produtora cultural. Advogada e Administradora.
Ficha do Trabalho
Título
- As Amazonas do Cinema Paraense
Resumo
- Examina a trajetória das cineastas paraenses entre 1970 e 2010, analisando suas produções sob uma perspectiva interseccional e decolonial. Mapeia suas contribuições em um cenário dominado por homens, destacando desafios como a escassez de registros e o apagamento histórico. Ao subverter normas de raça, classe e gênero, essas cineastas constroem representações alternativas da Amazônia. Conclui-se que, apesar dos avanços, a invisibilização persiste, exigindo uma historiografia mais inclusiva.
Resumo expandido
- Este estudo examina a trajetória das cineastas paraenses entre 1970 e 2010, a partir de uma perspectiva interseccional e decolonial, destacando suas contribuições em um contexto historicamente dominado por homens. O mapeamento inicial identificou onze cineastas, embora esse número possa crescer com novas pesquisas. A escassez de documentos e a ausência de registros sistematizados dificultam a reconstrução dessa história, exigindo metodologias baseadas em relatos orais e consultas a arquivos dispersos.
Para consolidar essa base histórica, o estudo contou com colaborações fundamentais de pesquisadoras e realizadoras como Sônia Freitas, Luzia Alvares e Heloísa Buarque de Hollanda, além da memória do realizador Januário Guedes. Foram também consultados livros de Pedro Veriano e acervos de instituições como a Cinemateca Paraense e o Museu da Imagem e do Som de Belém. Esses materiais ajudaram a recompor a trajetória das cineastas pioneiras e suas obras.
A produção cinematográfica no Pará remonta ao final do século XIX, com a chegada do Vitascope de Thomas Edison, seguido do Cinematographo dos Irmãos Lumière. No entanto, a história das mulheres no cinema paraense só começa a ser visibilizada a partir da década de 1970. Sandra Coelho de Souza foi a primeira mulher a dirigir um filme no estado, Manosolfa (1975), exibido na Semana do Realizador em Cannes. Nos anos seguintes, outras cineastas ampliaram essa presença, como Sônia Freitas (Caeira, 1983), Edna Castro (Marias das Castanhas, 1987) e Risoleta Miranda (Saias, laços e ligas, 1990).
A década de 1990 trouxe novas realizadoras e avanços na diversidade de gêneros e temáticas abordadas. Flavia Alfinito, com Leonora Down (1991) e outros curtas, e Marta Nassar, com Nayara – a mulher gorila (1992), marcaram esse período. Além delas, Val Sampaio e Ursula Vidal contribuíram para o fortalecimento do cinema dirigido por mulheres no estado. Nos anos 2000, Jorane Castro emergiu como uma das mais prolíficas cineastas paraenses, dirigindo obras como Mulheres choradeiras (2000) e Para ter onde ir (2016), primeiro longa-metragem de ficção de uma mulher no estado.
Outras realizadoras, como Priscilla Brasil e Zienhe Castro, também ampliaram a produção audiovisual no Pará, dirigindo documentários e curtas que exploram questões sociais, culturais e identitárias da região amazônica. Suas obras participam de festivais nacionais e internacionais, reforçando a importância da presença feminina na historiografia cinematográfica.
A invisibilidade das cineastas paraenses não é um fenômeno isolado, mas sim o reflexo de um apagamento histórico sistemático que afeta mulheres no cinema em escala global. A predominância masculina nas narrativas cinematográficas e nas estruturas de produção resultou na exclusão das mulheres dos registros oficiais e na desvalorização de suas contribuições. A ausência de políticas públicas voltadas à preservação da memória cinematográfica feminina e a falta de incentivos específicos para mulheres no audiovisual contribuíram para que essas cineastas fossem relegadas à margem da historiografia.
A pouca representatividade feminina nas produções também reflete a desigualdade de gênero presente na sociedade, onde a autoria das mulheres frequentemente é desconsiderada ou atribuída a homens.
O estudo conclui que, apesar do aumento no número de mulheres cineastas no Pará, a invisibilidade ainda é uma barreira significativa. A falta de registros, a ausência de políticas de preservação da memória cinematográfica e a hegemonia masculina no audiovisual reforçam a necessidade de uma abordagem inclusiva e crítica na historiografia do cinema paraense. O resgate dessas cineastas e suas obras não apenas reconfigura a narrativa histórica, mas também contribui para a ampliação do reconhecimento da produção audiovisual feminina na Amazônia e no Brasil.
Bibliografia
- BFI. British film institute. Sandra Coelho de Souza. 1974. Disponível em:
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HOLLANDA, Heloisa Buarque de. Quase Catálogo 1 – Realizadoras de cinema no
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QUARESMA, Ramiro. Jorane Castro. Disponível em: . Acesso em: 15/08/2019.
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VERIANO, Pedro. A Crítica de cinema em Belém. Belém: Secretaria de Estado de Cultura, Desportos e Turismo, 1983.
______. Cinema no Tucupi. Belém: Secult, 1999.
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