Ficha do Proponente
Proponente
- Matheus Jose Vieira (UFSCar)
Minicurrículo
- É pesquisador, diretor, roteirista e fotógrafo. Membro da Associação Brasileira de Cinematografia (ABC) e da A Associação Paulista de Cineastas – APACI. Mestrando no Programa de Pós Graduação em Imagem e Som (PPGIS) da UfSCar, onde desenvolve pesquisa acadêmica relacionada a narrativas e representações do negro no audiovisual brasileiro.
Ficha do Trabalho
Título
- AmarElo: Do Fonograma ao Filme
Seminário
- (Re)existências negras e africanas no audiovisual: epistemes, fabulações e experiências
Resumo
- Este trabalho analisa o projeto intermidiático AmarElo, que resultou no documentário Emicida: AmarElo – É Tudo Pra Ontem (2020), observando suas passagens intermidiáticas como estratégias narrativas e políticas. A partir das músicas “AmarElo”, “Quem Tem um Amigo Tem Tudo” e “Pantera Negra”, investiga-se como som e imagem articulam memória e resistência negra no Brasil, propondo passagens para a realidade política e social (Paiva; Nagib, 2019).
Resumo expandido
- Este trabalho apresenta a conclusão da pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Imagem e Som da Universidade Federal de São Carlos, dedicada à análise do projeto AmarElo, de Leandro Roque de Oliveira (Emicida), com foco no documentário Emicida: AmarElo – É Tudo Pra Ontem (2020), dirigido por Fred Ouro Preto. A investigação se concentra nas passagens intermidiáticas entre os diferentes produtos do projeto – álbum fonográfico, videoclipe, show e documentário – observando como essas operações se configuram enquanto estratégias narrativas que articulam discursos estéticos e políticos.
Parte-se da hipótese de que essas passagens não operam apenas como recursos formais, mas como mecanismos de construção discursiva. Com base nos conceitos de “passagens” (NAGIB, 2018) e “valor acrescentado” (CHION, 2008), o trabalho considera que som e imagem, ao transitar entre mídias, atuam como dispositivos que vinculam a narrativa audiovisual à realidade social. A intermidialidade é tratada aqui como procedimento estruturante, que rearticula os sentidos da obra e seus efeitos no campo simbólico.
A análise de três músicas presentes no documentário – “AmarElo”, “Quem Tem um Amigo Tem Tudo” e “Pantera Negra” – permite observar como essas canções estabelecem conexões entre os dispositivos estéticos do filme e elementos da memória coletiva negra no Brasil. A pesquisa considera que o documentário constrói articulações entre registros diversos, como imagens de arquivo, performances, relatos e composições sonoras, estabelecendo relações com eventos históricos e com o pensamento de figuras como Lélia Gonzalez e o Movimento Negro Unificado.
O trabalho mobiliza autores que discutem os processos de estereotipagem no audiovisual (HALL, 2016; STAM, 2022; MATOS, 2022), os apagamentos na memória social brasileira (CAMILO, 2021; MBEMBE, 2021) e os efeitos da intermidialidade na produção de sentido (RAJEWSKY, 2012; PETHŐ, 2009; PAIVA, 2019). A partir da noção de “necromemória” (CAMILO, 2021), compreende-se que o documentário propõe um deslocamento da narrativa histórica ao ativar lembranças silenciadas, tensionando as formas de inscrição da população negra no imaginário audiovisual.
A conclusão aponta que o projeto AmarElo, ao realizar passagens entre mídias, opera um deslocamento do fonograma para a narrativa fílmica, construindo uma articulação que ativa relações com a experiência social e histórica de sujeitos negros. Esse trânsito entre formatos não se organiza apenas em função da linguagem, mas se vincula a uma estratégia discursiva que produz sentido político a partir das formas da enunciação.
O documentário Emicida: AmarElo – É Tudo Pra Ontem se insere em um conjunto de produções recentes que problematizam as relações entre cinema, memória e política no Brasil, com enfoque em perspectivas negras. A intermidialidade observada evidencia um processo em que som, imagem e discurso se organizam de forma a instaurar um campo de reflexão sobre o pertencimento, a exclusão e a possibilidade de reconfiguração da história.
Bibliografia
- ALMEIDA, Silvio. O que é racismo estrutural. São Paulo: Jandaíra, 2019.
CAMILO, Vandelir. Necromemória: política de esquecimento e silenciamento das memórias negras. Revista Áfricas, v. 8, n. 15, p. 1-12, 2021.
CHION, Michel. Audiovisão: o som no cinema. 2. ed. Campinas: Papirus, 2008.
HALL, Stuart. Cultura e representação. Trad. Adelaine La Guardia Resende. Rio de Janeiro: Apicuri, 2016.
MATOS, Cristina. As imagens da mulher negra na televisão brasileira: estereótipos, corpos e resistências. Cadernos Pagu, n. 63, p. e216310, 2022.
MBEMBE, Achille. Necropolítica. São Paulo: n-1 edições, 2021.
NAGIB, Lúcia. Passagens: caminhos cruzados entre o cinema e a geografia brasileira. RumoRes, v. 12, n. 23, p. 229-252, 2018.
PAIVA, Samuel. Sobre intermidialidade: cinema, maracatus, tatuagem e pós-tropicalismo. Revista Contracampo, v. 38, n. 1, 2019.