Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Helena de Araujo Zimbrão (UFF)

Minicurrículo

    Helena Zimbrão, mestranda no PPGCINE-UFF, pesquisa cinemas de rua e práticas de sociabilidade. É integrante do Grupo de Pesquisa “Modos de Ver – Estudos das salas de cinema, exibição e audiências cinematográficas” (ESPM/CNPq). Atua como Co-Editora de Memória, Preservação e Cultura Audiovisual no OCA-UFF. É diretora, montadora e fotógrafa. Destacam-se os trabalhos “Ensaio Sobre a Insegurança” (Festival do Minuto/2020) e “como nascem as farmácias” (Festival Ecrã/2024 e Mostra SESC de Cinema/2024).

Ficha do Trabalho

Título

    Carnavalizando a sala de cinema — O Grupo Estação e a celebração da cinefilia durante o Oscar 2025

Seminário

    Festivais e Mostras de Cinema e Audiovisual

Resumo

    O trabalho é um recorte de uma pesquisa de mestrado no PPGCINE-UFF sobre o Grupo Estação, na qual estudamos as salas de cinema como produtoras de subjetividade. Por meio da observação participante e da coleta de entrevistas semi-estruturadas, fazemos uma análise de eventos recentes ocorridos no Estação NET Rio, que estão relacionados à cultura carnavalesca da capital carioca e exemplificam a ideia de “cinefilia celebratória”: um culto ao cinema por meio de rituais festivos.

Resumo expandido

    Este trabalho é um desdobramento de uma pesquisa de mestrado, em curso no PPGCINE-UFF, sobre o Grupo Estação, empresa exibidora e distribuidora de filmes, situada no Rio de Janeiro há quarenta anos. A pesquisa parte da hipótese de que o caráter cineclubista presente na formação do Grupo Estação é preservado até hoje, ainda que contenha novos contornos devido às suas responsabilidades empresariais. Acreditamos que essa característica está ligada à forma como a empresa se singulariza atualmente, seja pela sua curadoria de programação e distribuição; seja pela promoção de eventos como festivais, estreias, debates e festas; ou seja pela construção de uma rede de apoio composta por diferentes agentes, capaz de forte mobilização social frente às crises financeiras e jurídicas pelas quais a empresa já passou.
    Atualmente, o Grupo Estação possui três complexos cinematográficos: o Estação NET Botafogo, o Estação NET Rio e o Estação NET Gávea. Enquanto os dois primeiros ocupam as calçadas do bairro de Botafogo, o terceiro se localiza no último piso do Shopping da Gávea. Por meio da observação participante e da coleta de entrevistas semi-estruturadas (CAIAFA, 2007), nos debruçamos a estudar de que forma esses cinemas operam como vetores nas produções de subjetividades e sociabilidades entre diferentes agentes, tais como frequentadores, funcionários, sócios etc. (FERRAZ, 2012).
    Durante os meses que circundam a cerimônia do Oscar 2025, o Grupo Estação serviu-se do forte engajamento de público em torno do representante brasileiro na competição, Ainda Estou Aqui (2024), para realizar eventos de grande repercussão midiática e popular. Para este Seminário Temático, propomos uma análise centrada nos seguintes episódios, ocorridos no Estação NET Rio, uma das poucas salas de cinema de rua ainda existentes na cidade: 1) os concursos de sósias dos atores Selton Mello e Fernanda Torres, em novembro e dezembro de 2024, respectivamente; 2) a transmissão e o bolão do Oscar 2025, em março, no domingo de Carnaval; 3) a mostra de filmes brasileiros com temática carnavalesca, “Farra do Delírio”, em março de 2025.
    Nosso intuito é discutir como esses eventos supracitados traduzem aquilo que estamos chamando de “cinefilia celebratória” (CARVALHO, 2023), isto é, uma forma de cultuar o cinema por meio de rituais festivos, nos quais uma comunidade expressa e reforça valores identitários (FALASSI, 1987). Buscamos também refletir sobre como essa “cinefilia celebratória” pode estar relacionada com aspectos culturais da capital carioca, sobretudo o Carnaval. Segundo Simas (2021, p.108), “o carnaval de rua é um grande ritual de subversão do território pelo terreiro”. Por “terreiro”, entendemos “qualquer espaço praticado na dimensão do encantamento do mundo” (SIMAS, 2022 p.5), ou seja, locais de encontro, locais onde os sujeitos estão suscetíveis a diferentes níveis de afecções, geradas por algo ou alguém (MARTINS, 2000). Seguindo os trilhos de Mattos (2018), trabalhamos com um alargamento da ideia de festival: mais do que um evento periódico, os festivais são “fenômenos de comunicação” que propiciam “trocas simbólicas” e “experiências de cidade”. Nesse sentido, acreditamos que as atividades promovidas pelo Grupo Estação têm a capacidade de festivalizar, carnavalizar as salas de cinema, isto é, ressignificar esses espaços, transformar o território em terreiro por meio da celebração e do culto à sétima arte.

Bibliografia

    CAIAFA, Janice. Aventura das cidades: ensaios e etnografias. FGV Editora, 2007.
    CARVALHO, Thiago. Cinema é Celebração: a cena de exibição de cinema e audiovisual independentes do Rio de Janeiro na virada dos anos 2000. Rio de Janeiro: Autografia, 2023.
    FALASSI, Alessandro. Time out of time: Essays on the festival. University of New Mexico Press. 1987.
    FERRAZ, Talitha. A segunda Cinelândia carioca. MV Serviços e Editora LTDA-Mórula Editorial, 2012.
    MARTINS, André. Nietzsche, Espinosa, o acaso e os afetos: encontros entre o trágico e o conhecimento intuitivo. O que nos faz pensar, 2000, 11.14: 183-198.
    MATTOS, Tetê. O Festival do Rio e a construção do imaginário da cidade. In: Gabriel Menotti. (Org.). Curadoria, cinema e outros modos de dar a ver. 1ed. Vitória: EDUFES, 2018, v. 1, p. 177-188.
    SIMAS, Luiz Antonio. Maracanã: quando a cidade era terreiro. Mórula Editorial, 2021.
    SIMAS, Luiz Antonio. Sonetos de birosca e poemas de terreiro. 1 ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2022.