Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Laís de Lorenço Teixeira (UNICAMP)

Minicurrículo

    Laís de Lorenço Teixeira, doutoranda no Programa de Pós-graduação em Multimeios – UNICAMP (Bolsista FAPESP), com período de estágio na University College London – UCL. Mestra em Multimeios – UNICAMP e Graduação em Cinema e Audiovisual, Universidade Federal Fluminense – UFF. No doutorado, analisa a construção narrativa subjetiva de memória em documentários latino-americanos por meio do espaço e de materiais de arquivo.

Ficha do Trabalho

Título

    Investigação de si entre espaços, o físico e o subjetivo

Resumo

    Em “Hija” (María Paz González, 2011) a diretora investiga suas origens, paralelamente à história de sua mãe, ambas marcadas pela ausência paterna. Em viagem pelo Chile, os espaços ganham outro significado à luz das memórias compartilhadas. O espaço, assim, é ativo na construção de sentido do documentário, em conjunto com as investigações (físicas, subjetivas) das protagonistas. A comunicação procura analisar em que medida o espaço pode criar sentidos ao ter papel narrativo na construção de si.

Resumo expandido

    A narrativa de “Hija”, dirigido por María Paz González (2011, Chile), é baseada na viagem de mãe e filha por território chileno seguindo o rastro dos espaços onde parte de suas histórias foram vividas ou tiveram origem. A diretora coloca sua mãe como agente em cena e, juntas, viajam e registram o país acompanhadas de um fusca.
    No campo de documentários onde diretoras retratam suas próprias histórias de vida, “Hija” se distancia por dispensar tanto materiais de arquivo quanto a voz-over condutora da narrativa. Contudo, a presença de conversas e mediações da diretora, e o uso do espaço como meio para ancorar suas histórias de vida, acenam para as múltiplas habilidades da linguagem cinematográfica de criar sentidos e articular a memória em tela.
    A compreensão de espaço desenvolvida na pesquisa se distancia de uma dimensão exclusivamente física, associando-se a Doreen Massey (2005, 2009). O espaço, nesta análise, é construído em processo, associando as capacidades emocional, afetiva, e criando sentidos pela sua vivência e pelos agentes em contato. Os lugares do Chile retratos são, para as duas mulheres, os espaços onde seus pais nasceram, viveram, ou onde elas imaginam que determinado evento ocorreu. A escolha, portanto, é afetada pela história pessoal, e afeta a visão que elas têm da geografia, assim como a sua representação na obra audiovisual. Dessa maneira, a compreensão física do espaço se soma aos efeitos e sentidos figurados que conformam estes registros no filme.
    A multiplicidade, frutífera ao trabalho de Massey, associada à “aproximação” em Bruzzi (2022) – definida como a capacidade de relacionar diferentes temporalidades em um mesmo espaço, campo e/ou objeto – possibilitam a compreensão do espaço como um resultado do tempo e espaço vivido, pelos seres que ali transitam, em diferentes linhas temporais, que se somam e compõem. Desse modo, as expectativas de mãe e filha-diretora, e a própria história anterior dos lugares registrados em “Hija”, confluem em significado, temporalidade, afeto e fisicalidade, na criação de sentido, uma vez que inscritas na obra audiovisual. Analisa-se, somado a isso, a construção imagética e estética da obra, como um elemento colaborador para o processo de apresentação, elaboração e reflexão subjetiva da diretora em tela.
    Articulo o espaço no cinema, em conjunto com diversas temporalidades e seus diferentes reflexos, com Diego Velasco (2020, p. 149), como “o produto de interrelações entre suas multiplicidades discretas simultâneas e suas dimensões (física, social, plástica e simbólica), em um contínuo processo de produção de imagens-espaço diretas e indiretas no cinema”. Diante disso, os sentidos construídos pelo filme, a partir da reflexão da diretora sobre sua própria história, criam em processo uma reflexão de si que se relaciona com o espaço também construído na obra. A aproximação tempo-espaço se prolonga em uma aproximação eu-espaço. Em outras palavras, a capacidade de um mesmo arquivo, lugar ou objeto de remeter e irradiar para diferentes significados e temporalidades concomitantes, também pode ser transposto da relação espacial e associado as diferentes histórias. Dessa forma, a história apresentada por María Paz, é reflexo de histórias anteriores e posteriores, compreendendo um conjunto de vivências similares, que é indicativa de distintas instâncias: pessoal, física, social.
    O esforço deste trabalho concentra-se na análise da elaboração do espaço nas obras audiovisuais documentais. Além de sua aparente fisicalidade, o espaço também se revela como um meio de acesso a sentimentos, desejos, sonhos e capacidades criativas, subjetivas e emocionais daqueles que se inscrevem nas obras através dele. Dessa maneira, acredita-se, o espaço tem capacidade de refletir a construção e investigação pessoal da diretora em tela. Enfim, o trabalho de “Hija” é uma investigação pessoal através do espaço, ao mesmo tempo que ele também contribui para a história de suas protagonistas.

Bibliografia

    COOPER, Mark Garrett. Narrative Spaces. Screen, 43:2, p. 139-57, 2002.
    BRUZZI, Stella. Approximation: Documentary, History and the Staging of Reality. London; New York, NY: Routledge/Taylor & Francis, 2020.
    MASSEY, Doreen. Pelo espaço: uma nova política da espacialidade. [2. ed.] Rio de Janeiro, RJ: Bertrand Brasil, 2009.
    MASSEY, Doreen. La Filosofia y la política de la espacialidad: algunas consideraciones. In: Pensar este tiempo, espacios, afectos, pertenencias. Buenos Aires: Paidós, 2005.
    VELASCO, Diogo Cavalcanti. Imagem–Espaço. Rebeca – Revista brasileira de estudos de cinema e audiovisual, São Paulo, v. 9, n.1, p.148-167, jan/jun 2020.