Ficha do Proponente
Proponente
- Natália Marchiori da Silva (UFMG)
Minicurrículo
- Doutoranda no PPGCOM-UFMG (Bolsista CAPES). Co-coordenadora do grupo de pesquisa Poéticas Femininas, Políticas Feministas. Doutoranda sanduíche no Instituto de Comunicação da Nova de Lisboa (PDSE – ICNOVA).
Ficha do Trabalho
Título
- O Espaço da Casa no Cinema Brasileiro Realizado por Mulheres
Resumo
- Este estudo analisa a relação entre o espaço da casa e as personagens no cinema contemporâneo realizado por mulheres no Brasil. Por meio de um método de inventariado, nossa intenção é construir conexões entre filmes que se agrupam em torno dessa dinâmica, destacando elementos do cotidiano das mulheres e o papel desse espaço na divisão sexual do trabalho. Partimos dos filmes: Casa (Letícia Simões, 2019); Vermelho Bruto (Amanda Devulsky, 2023) e Fartura (Yasmin Thayná,2019).
Resumo expandido
- Junto às pesquisadoras Silvia Federici (2017) e Carole Pateman (1993), observamos que a constituição da esfera privada e sua perpetuação como um suposto espaço apartado do espaço público corresponde a um projeto político de controle dos corpos e vidas, que destinou e, portanto, interligou a vida das mulheres ao espaço da casa. Enfatizamos a importância de tal espaço ao destacar como a “divisão sexual do trabalho” foi base para a opressão das mulheres, e como tal divisão vem se atualizando e modulando de acordo com os interesses políticos. A partir dos estudos de Michel Foucault sobre o casamento nos textos da Antiguidade, pode-se perceber que as “artes do viver” foram transformadas em códigos éticos e morais nas sociedades ocidentais, o que promove a instituição do casamento ao topo da pirâmide social. Esta instituição responde às leis capitalistas e patriarcais, e tem papel fundamental, pois reorganiza a divisão sexual do trabalho ao longo do tempo.
Nota-se que o cinema ajudou a formular um imaginário sobre a vida privada, produzindo representações que reafirmam tais verdades codificadas sobre a conduta das mulheres e da vida familiar – a exemplo das imagens de família e de infância realizadas pelos irmãos Lumière. O cinema surge no final do século XIX, e seus primeiros filmes parecem demonstrar um interesse em exibir a vida burguesa e operária como formas de legitimar as transformações sociais e seus novos modos de vida. Com o desenvolvimento do campo, sua popularização e participação de grupos não hegemônicos (mulheres, pessoas racializadas, grupos LGBTQIAP+, entre outros) essas imagens sofrem interferências. Parece-nos que, em convergência com os debates de gênero, as mulheres diretoras utilizam o espaço da casa para combater – pelas imagens – as normas opressoras que atravessam a vida íntima das mulheres.
Dessa forma, a presente comunicação analisa a relação entre o espaço doméstico e as personagens no cinema realizado por mulheres no Brasil. Observa-se que, desde os filmes produzidos na década de 1960 até as produções contemporâneas, a casa se destaca como um espaço carregado de múltiplos significados. Esses significados variam em cada obra, sendo moldados pelos contextos de vida das diretoras, o que evidencia os atravessamentos raciais, de classe, de orientação sexual e, sobretudo, do momento histórico. Interessa-nos perceber como essas obras respondem de maneira significativa aos contextos geopolíticos nos quais estão inseridas
Por meio de um método que busca inventariar a relação entre a casa e as personagens, nossa intenção é construir correspondências entre filmes contemporâneos que se agrupam em torno da representação do espaço doméstico. Acreditamos que essa abordagem revelará alguns interesses e preocupações das diretoras brasileiras, exibindo características que ressignificam a casa e a colocam além dos paradigmas do casamento e da família tradicional, ou seja, da divisão sexual do trabalho. Como primeiros exemplos, destacamos os filmes Casa (Letícia Simões, 2019), Vermelho Bruto (Amanda Devulsky, 2023) e Fartura (Yasmin Thayná, 2019).
Bibliografia
- BUARQUE DE HOLLANDA, Heloisa. Pensamento feminista brasileiro: formação e contexto. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2019.
FEDERICI, Silvia. Calibã e a Bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva. São Paulo: Elefante, 2017.
FOUCAULT, Michel. Subjetividade e verdade: curso no Collège de France (1980-1981). São Paulo: Editora Martins Fontes, 2016.
PATEMAN, Carole. O contrato sexual. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993.
Holanda, Karla (ORG.). Mulheres De Cinema. Rio De Janeiro: Numa, 2019.