Ficha do Proponente
Proponente
- Eliany Salvatierra Machado (UFF)
Minicurrículo
- Professora do Departamento de Cinema e Vídeo e do Programa de Pós-Graduação PPGCine – UFF. Atualmente coordena o curso de Cinema e Audiovisual Licenciatura da mesma universidade.
Ficha do Trabalho
Título
- Utama: um diálogo epistêmico no campo do cinema-educação
Seminário
- Cinema e audiovisual na América Latina: novas perspectivas epistêmicas, estéticas e geopolíticas
Resumo
- O presente texto é fruto do estudo da perspectiva decolonial e a formação de educadores e educadoras audiovisuais realizada em 2023. O Resumo apresenta as discussões sobre a colonialidade do ver e a formação do cinema, em processos educacionais. Reflete como a análise de filmes, como Utama, pode contribuir no diagnóstico da colonialidade do ver e promover um diálogo epistêmico entre a América Latina, mas especificamente Brasil e Bolívia.
Resumo expandido
- A colonialidade do ver é um conceito que tenta demonstrar como a forma que vemos, que enxergamos as imagens dos indígenas, principalmente as imagens dos Quéchuas, Mayas, Aymaras, são fruto de um processo político e econômico moderno colonizador. Na América Latina vivem atualmente quarenta e cinco milhões de indígenas, pertencentes a mais de oitocentos e vinte e seis povos diferentes, disseminados entre Bolívia, Guatemala, Peru, México e outros países, sendo representados pelas tribos Achuar, Aymara, Quéchuas, Nahua, Maya e Ki’che. No Brasil pouco estudamos a população Quéchua ou Aymara, seja pela língua, seja pela distância epistêmica. Entretanto, pensar o processo de colonialidade do ver, a colonialidade da imagem, em culturas diferentes nos ajudam a rever o nosso processo de subjetividade colonizada e é uma oportunidade de abertura, de Alteridade Total do Outro.
Para estudar como a cultura Quéchua é representada iniciamos o nosso estudo analisando o filme Utama, uma coprodução internacional que envolveu a Bolívia, a França e o Uruguai. Lançado em 2022, teve como sinopse de divulgação:
No altiplano boliviano, um casal quéchua idoso vive a mesma vida cotidiana há anos. Durante uma seca incomumente longa, Virginio e sua esposa Sisa enfrentam um dilema: resistir ou ser derrotado pelo ambiente e pelo próprio tempo
Segundo o pesquisador, Joaquín Barriendos, a imagem dos Indígenas ameríndias ou do “indígena caribenho” foi racializada com o propósito de colonizar o corpo e principalmente a imagem que temos sobre ele. Para Barriendos (2010), precisamos desnaturalizar as formas como o olhar opera, precisamos destacar a racialização, a inferiorização e a discriminação visual da diferença. Mas, também como todos participamos ativamente na sua reprodução permanente, seja como consumidores/as, mediadores/as, produtores/as e, aqui incluímos, os/as educadores/as audiovisual.
Pensando a relação com a alteridade do indígena é que sugerimos o estudo do filme Utama, como uma possibilidade de encontro entre a Educação Básica Brasileira e o cotidiano de indígenas Quéchuas bolivianos. Acreditamos que o cinema na educação tem um papel fundamental que é criar diálogos epistêmicos, processos de reconhecimento da Alteridade do Outro.
Na análise do filme Utama refletimos sobre quais estudos sobre a visualidade são relevantes para a América Latina. Acreditamos que é importante ampliar os problemas interdepartamentais (acadêmicos) entre a história da arte, a filosofia, a sociologia, a iconologia, a antropologia da imagem e o cinema, para pensar diretrizes que não correspondem à realidade local do mundo acadêmico latino-americano.
É neste reconhecimento, dos temas e questões relevantes, que dialogamos com Barriendos para pensar problemas como a racialização dos sujeitos subalternos e a sua ligação com as hierarquias estéticas da modernidade/colonialidade.
Reconhecendo a alteridade do/a indígena boliviano/a é que nos debruçamos para refletir sobre o filme Utama e a dialogicidade entre epstemologias. Acreditamos que o cinema na educação tem um papel fundamental que é criar diálogos epistêmicos, processos de reconhecimento da Alteridade do Outro.
Bibliografia
- BARRIENDOS, J.; CARTAGENA, M.F., LEÓN, C. Diálogos sobre la colonialidad del ver. Entrevista com Joaquín Barriendos. La Tronkal, 1 maio de 2010. Disponível na Internet via: http://latronkal. blogspot.com/2010/05/dialogos-sobre-la- colonialidad-del-ver.html.
DUSSEL, Enrique. 1492: o encobrimento do outro: a origem do mito da modernidade: conferência de Frankfurt, tradução Jaime A. Clasen, Petrópolis, RJ:Vozes,1994.
Filmografia
UTAMA. Direção, Alejandro Loayza Grisi, Roteiro, Alejandro Loayza Grisi, Coprodução internacional, Bolívia, França e Uruguai, (88 min), 2022, Drama.