Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Angelita Maria Bogado (UFRB)

Minicurrículo

    Docente do Curso de Cinema e Audiovisual e do PPGCOM da UFRB. Doutora pelo POSCOM (UFBA). Orga. do livro Cinema e vida em Curso publicado pela ed. UFRB (2022). Coord. do Grupo de Estudos em Experiência Estética: Com. e Artes (GEEECA)-UFRB/CNPq. Atualmente se dedica aos estudos dos cinemas periféricos com a pesquisa intitulada “Recôncavo da Bahia em imagens umbigadas: corpos da cena/em cena afeto e futuro”. Coord. na SOCINE do ST Cinemas Decoloniais, Periféricos e das Naturezas do biênio 2023-24.

Coautor

    Anna Carolline B B de Oliveira (UFRB)

Ficha do Trabalho

Título

    Corpos da cena/em cena e o saltar das audiovisualidades periféricas

Seminário

    Cinemas, Comunidades, Territórios: interpelações aos gestos analíticos

Resumo

    O cinema recente tem proposto experiências estéticas que ampliam discussões de diversos aspectos do fazer artístico, entre eles, perspectivas em torno da cena e suas formas de construção. Nos interessam obras que apontam para outras lógicas de experiência artística e estética e suas relações com o território. Os filmes Plutão (Nolasco, 2015) e Mugunzá (Rosa e Nicácio, 2022) serão analisados sob a ótica do operador analítico dos corpos da cena/em cena (Bogado, Alves Jr. e Souza, 2020).

Resumo expandido

    Este trabalho parte de uma abordagem estruturada em dois atos, tecida a partir dos filmes, Plutão (Daniel Nolasco, 2015) e Mugunzá (Ary Rosa e Glenda Nicácio, 2022), para pensar possibilidades em torno de espectros de construção da cena. O salto entre os fragmentos se dá em nossa abordagem a partir da construção de atos descontínuos, mas dialógicos entre si, com fragmentos dos filmes sendo analisados sob a ótica do operador analítico dos corpos da cena/em cena (Bogado, Souza, Alves Junior, 2020; Bogado e Souza, 2023). Por esta forma de abordagem analítica, os autores compreendem como corpos em cena os aspectos relacionados aos atores humanos e não humanos que performam na obra audiovisual. Por sua vez, o corpo da cena é um espectro que está relacionado diretamente aos elementos sensíveis da obra. A relação entre ambos os aspectos se dá de maneira dialógica e em fluxo, notadamente a partir da fabulação espectatorial. Essa abordagem parte de uma concepção da obra como entidade que brota do vivido/imaginado, a partir do território como experiência, que salta na obra por ser elemento importante para suas formas de produção/leitura. Em especial, nos interessa abordar a relação destas obras com o território e o gênero fílmico. Esses filmes são feitos distantes do perfil artístico e estético das grandes produções brasileiras, são produções periféricas, tanto do ponto de vista espacial/de suas territorialidades, quanto nas formas de produção adotadas pelos realizadores que, engajados em seus territórios de pertencimento, trazem para a cena fílmica outras lógicas de experiência artística e estética. Lançado em 2015, Plutão é um curta-metragem dirigido por Daniel Nolasco, tornando-se o segundo filme da trilogia dos planetas do diretor. Dessa trilogia escolhemos Plutão, que por se apresentar como um documentário distante dos parâmetros clássicos da cena do gênero, alcança pela experiência estética e narrativa um paralelo entre a cidade pequena de Catalão, Rio de Janeiro e um diálogo-texto franco com uma mãe. Assim, entendemos que o conflito está para além da relação dos dois, e que diz respeito à vivência com seu território de origem, Catalão, uma pequena cidade no interior do estado de Goiás. Dentro dessa perspectiva, a vivência no território/contexto está intimamente relacionada à construção da experiência dos personagens, por isso relacionamos a ideia de que o imaginado/filmado só é possível por estar imbricado com o vivido (Brasil, 2014). Mugunzá, ainda não lançado oficialmente nos cinemas, é um audiovisual que, sendo imagem-som, foge aos enquadramentos dos gêneros e formatos clássicos. O filme é centrado em uma trama encenada por dois atores que dão vida aos múltiplos personagens, em um único espaço: o palco teatral, localizado na rua 25 de junho, em Cachoeira-BA. Apesar da obra se passar majoritariamente dentro do teatro, o território se faz presente o tempo todo no filme através dos protagonistas e das escolhas estéticas às quais o filme se filia para trazer o Recôncavo para a cena. A obra transita por diferentes estratégias narrativas como o teatro épico de Bertolt Brecht. Os atravessamentos da poética fílmica são manipulados de maneira orgânica e ao mesmo tempo crítica. O Recôncavo da Bahia, lugar de pertencimento e de onde se expressam os realizadores Ary Rosa e Glenda Nicácio, é um território que carrega as cicatrizes do colonial, mas, acima de tudo, é morada de luta e resistência. As imagens-sons da dupla de cineastas, performam saberes populares, subjetividades, formas de vida e afetos oprimidos, acentuando o caráter político da cena e as relações entre palco e público. Assim, nos perguntamos: Que impactos a cena pode ter no lugar de experimentação que emerge entre esses outros territórios vividos e imaginados?

Bibliografia

    BOGADO, Angelita; ALVES JUNIOR, Francisco; DE SOUZA, Scheilla Franca. Um estudo sobre performance, dispositivos de regulagem entre formas de vida e formas de imagem no documentário contemporâneo. In. ALMEIDA, Gabriela; CARDOSO FILHO, Jorge. Comunicação, estética e política: epistemologias, problemas e pesquisas. Editora Appris, Curitiba, 2020. p. 265-280.
    CESAR, Amaranta. Documentário como prática de liberdade: uma experiência pedagógica universitária popular e periférica no Recôncavo da Bahia. In: WELLER, Fernando; RICARDO, Laércio; COSTA, Mannuela (orgs.). Pensar o documentário, volume 2. São José dos Pinhais: Estronho, 2022, p. 95-106.
    BRASIL, André. A performance: entre o vivido e o imaginado. In: Experiência estética e performance. PICADO, B; MENDONÇA, C. M.; CARDOSO, J. (Orgs.). Salvador: EDUFBA, 2014.
    GINZBURG. Jaime. A interpretação do rastro em Walter Benjamin. In: Walter Benjamin rastro, aura e história. Sedlmayer, S. Ginzburg, J.. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2012, p. 107