Ficha do Proponente
Proponente
- Ingrid Hannah Salame da Silva (Unicamp)
Minicurrículo
- Ingrid Hannah Salame da Silva é mestre e doutora pelo Programa de Pós Graduação em Multimeios – Unicamp. A sua pesquisa é voltada para o cinema silencioso brasileiro e cinema científico silencioso. Formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Juiz de Fora.
Coautor
- Alfredo Luiz Paes de Oliveira Suppia (Unicamp)
Ficha do Trabalho
Título
- O Cinematógrafo na Exposição Nacional da Borracha de 1913
Resumo
- Nossa comunicação se propõe a revisitar o lugar ocupado pelo cinematógrafo na Exposição Nacional da Borracha, ocorrida no Rio de Janeiro em outubro de 1913. A ENB foi um ambicioso projeto do governo brasileiro para atrair potenciais investidores estrangeiros e revitalizar a indústria do látex nacional, em declínio desde o começo dos anos 1910. Além de maquinários e produtos feitos de borracha, palestras, mapas, panfletos, fotografias, gráficos e filmes de caráter instrutivo enriqueceram o evento
Resumo expandido
- Buscamos, com este trabalho, continuar nosso estudo sobre a primeira (e única) Exposição Nacional da Borracha (ENB) e o cinematógrafo, meio usado ao longo de quase toda a programação do evento para educar e entreter os visitantes. A ENB aconteceu entre 12 e 31 de outubro de 1913, no Palácio Monroe (Rio de Janeiro) e em um pavilhão anexo, construído especialmente para a ocasião.
A partir de 14 de outubro, cerca de cinco curtas-metragens (sequências) foram projetadas diariamente (entre 20h e 23h) no salão nobre do Palácio Monroe e no jardim à direita do prédio contíguo. Igualmente, autoridades políticas e científicas ministraram palestras, por vezes recorrendo a projeções de imagens fixas ou “animadas”, como foi o caso do médico Carlos Chagas. Responsável por uma das conferências mais aguardadas, Chagas falou das doenças endêmicas amazônicas, região recém visitada por ele em nome do Instituto Oswaldo Cruz, com financiamento da Superintendência da Defesa da Borracha (SDB).
A SDB foi criada em abril de 1912 como medida provisória do governo federal para estudar, organizar e fiscalizar a indústria da borracha brasileira diante da ameaça comercial estrangeira. Isso porque, desde o início dos anos 1910, as colônias britânicas e holandesas estabelecidas no sudeste da Ásia e parte da África passaram a extrair grandes quantidades de látex e logo dominaram a produção da borracha no mercado internacional. O material advindo da Ásia era mais barato e dependia de melhores rotas de transporte, fatores determinantes para ruína do império da borracha brasileira, visível desde o final dos anos 1870.
Sendo assim, a ENB pretendia reaquecer a indústria da borracha nacional, atraindo investidores e compradores estrangeiros. Outro ponto fundamental era convencer os próprios brasileiros do potencial continuado de um setor que acumulava gastos exorbitantes e causava déficits econômicos cada vez mais evidentes. No fim, a ENB se provou um grande “elefante branco.”
A SDB e a ENB eram ligadas ao Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, chefiado por Pedro de Toledo desde o final de 1910. Neste período, o Brasil, fundamentalmente agrícola e com indústria insipiente, procurou expandir suas relações internacionais e conquistar novos mercados, investindo em eventos tais como a Exposição Internacional de Turim, em 1911, e a Terceira Exposição Internacional da Borracha de 1912, em Nova Iorque. Para tais ocasiões, bem como para a ENB, o ministério financiou e incentivou a produção de filmes de conteúdo propagandístico dos recursos naturais brasileiros. A ideia era acumular uma coleção de materiais (livros, panfletos, fotografias e filmes) para serem mostrados permanentemente nos escritórios locais e internacionais vinculados ao governo. Ou seja, a exemplo de outras exposições e eventos equivalentes, por ocasião da ENB uma variedade de suportes, linguagens e/ou mídias foi utilizada no sentido de produzir sentidos com impacto social, econômico e político. Este trabalho pretende, também, considerar as eventuais dimensões da intermidialidade ou multimidialidade no caso em tela.
Nesse sentido, é importante destacarmos como a elaboração da ENB seguiu a orientação das Feiras e Exposições Universais do final do século XIX e começo do século XX, fundadas no conhecimento científico de então, no ideal de progresso, e no interesse em “educar” e “entreter as massas.” Os visitantes da ENB tiveram acesso a uma infinidade de produtos derivados da extração do látex e presenciaram o funcionamento dos maquinários mais modernos para a lavagem e produção da borracha, além de serem estimulados sensorialmente por filmes e outros media. Pretendemos recontar um pouco dessa história, em retrospecto, com recurso a determinado instrumental teórico contemporâneo nosso, como a intermidialidade.
Bibliografia
- BERNARDET, Jean-Claude. Cinema Brasileiro: propostas para uma história. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
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