Ficha do Proponente
Proponente
- Maria Gabriela Capper (UFF)
Minicurrículo
- Doutoranda no PPGCine-UFF, pesquisa o cinema expandido na educação. Bolsista CAPES/Brasil no Projeto Impactos da Pandemia. Mestre em Artes, na área de concentração: Arte e Cultura Contemporânea, pela UERJ (2015). Graduação em Música pela Universidade Estácio de Sá (1992) e Licenciatura em Música na Universidade Cândido Mendes (2005). Docente EBTT Música, no Colégio Universitário Geraldo Reis/UFF. gabriela_capper@id.uff.br
Ficha do Trabalho
Título
- TECENDO EXPERIÊNCIAS PEDAGÓGICAS COM UM CINEMA ARTEIRO
Eixo Temático
- ET 5 – ETAPAS DE CRIAÇÃO E PROCESSOS FORMATIVOS EM CINEMA E AUDIOVISUAL
Resumo
- Esta comunicação aborda o cinema no campo da educação a partir da noção de cinema expandido (YOUNGBLOOD, 1970), pensa o deslocamento do cinema para a escola, as conexões que surgem desse trânsito e que implicam na ampliação dos modos de ver o mundo. Problematiza a relação dos estudantes com o cinema industrial, e atende aos chamados de um cinema xamânico (RUIZ, 2000) que incita singularidades. Propõe a experimentação coletiva do cinema em devir-criança (DELEUZE, 1995), um cinema arteiro.
Resumo expandido
- O cinema se desloca para diferentes espaços, propõe experiências múltiplas para/com o público, solubiliza suas fronteiras disciplinares para se hibridizar com outros campos, entre eles o campo da educação. Esta pesquisa considera o deslocamento do cinema para o campo da educação como um movimento de expansão do cinema, e fundamenta essa ideia com a noção de cinema expandido (YOUNGBLOOD, 1970). Sonda os contágios recíprocos entre os campos e as possibilidades que surgem com a transdisciplinaridade entre o cinema e outros domínios do conhecimento. Investiga que outros gestos com o cinema comparecem na contemporaneidade e como eles podem emergir na escola com uma prática experimental. Defende que as experiências expandidas com o cinema podem ampliar as relações sensíveis, inventivas e críticas de crianças e jovens com o mundo, por um viés experimental e coletivo. Interessa especialmente a esta pesquisa, refletir sobre o deslocamento do cinema para as escolas, e as conexões que surgem desse trânsito, como condição de possibilidade para agenciamentos singulares com o cinema, que implicam na ampliação dos modos de existir e estar no mundo, assim como podem ampliar as possibilidades do cinema. Tendo como objetivo criar experiências nas escolas que promovam a produção de subjetivações, a inventividade na criação de formas, a criticidade na relação com o mundo e a emancipação do pensamento no trabalho coletivo com o cinema, acionamos os pensamentos de Fernand Deligny que nos adverte que as crianças não devem acreditar que aquilo que elas assistem no cinema é uma amostra em estado bruto da realidade. Elas precisam saber que se trata de uma “linguagem”. Gilles Deleuze nos empresta a noção devir-criança para refletirmos a potencialidade do imaginário infantil como força imanente para um fazer cinema ‘arteiro’. Adriana Fresquet nos fala sobre o trabalho com o cinema na escola, e um desaprender o que foi aprendido para reaprender com os olhos livres outras possibilidades de viver. Alain Bergala defende o cinema como arte na escola, subversivo a um modelo tradicional de educação, privilegia o processo mais do que um produto final. Cezar Migliorin aponta, com a pedagogia do dispositivo, para processos do cinema na educação que possibilitem a criação coletiva com as singularidades de cada um. Jorge Larrosa pensa a formação como uma aventura que se faz pela experiência e indaga quais seriam as condições de um pensamento da educação que não estivesse normatizado pela intencionalidade do educador. Raúl Ruiz propõe uma alternativa ao cinema de regras e nos aproxima de um cinema xamânico, no qual, planos-monstros e sequências-rituais nos provocam a ver para além das imagens. Os diálogos com esses autores são inestimáveis para as reflexões sobre o cinema na educação, em um modo arteiro. Indagamos sobre como envolver as crianças com o cinema para além de suas vivências com um cinema padronizado, industrial. Pareceu-nos instigante a ideia de Raúl Ruiz de criar certos ‘monstros’ cinemáticos. O cineasta alvitra astutamente que “sendo o cinema, de fato, uma arte da mistura e da combinação de trechos de imagens descontínuas, como rebelar-se contra a padronização industrial sem produzir, sabe-se lá, que monstros”(RUIZ, 2000, p.91). No cinema no modo ‘arteiro’, forjado com a brincadeira e a arte, vamos experimentar sabe-se lá, que cinemas-monstros que rondam o imaginário infantil, para isso, os cine-exploradores precisam provocá-los.
Bibliografia
- BERGALA, Alain. A hipótese-cinema: Pequeno tratado sobre a transmissão do cinema na escola; tradução: Mônica Costa Netto, Sílvia Pimenta – Rio de Janeiro: Booklink; CINEAD – LISE – FE/UFRJ; 2008.
BONDÍA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber da experiência. In: Revista Brasilerira de Educação. Trad. João Wanderley Geraldi. 2002.
DELEUZE, Gilles & GUATTARRI, Félix. Tradução de Ana Lúcia de Oliveira, Aurélio Guerra Neto e Célia Pinto Costa. Revisão técnica de Luiz B. L. Orlandi. Editora 34. 1995.
DELIGNY, Fernand. Colóquio Internacional Fernand Deligny. Rio de Janeiro. 2016.
FRESQUET, Adriana. Cinema e Educação: Inventar o Possível. Autêntica Editora. 2013.
MIGLIORIN, Cezar, et al. Inventar com a diferença: cinema e direitos humanos. Niterói:
Editora da UFF, 2014.
______. Inevitavelmente Cinema Educação Política e Mafuá. Editora Azougue. 2015.
______. PIPANO, Isaac. Cinema de Brincar. Belo Horizonte: Ed. Relicário, 2019.
VERTOV, Dziga. Extrato do Abc dos Kinoks (1929). In: