Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Manuela Bezerra Gouveia de Andrade (UFF)

Minicurrículo

    Manuela Andrade é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual da Universidade Federal Fluminense com o trabalho “Vocações epistemológicas nas narrativas anticoloniais do cinema de realizadoras contemporâneas ameríndias e brancas” e em 2024 atuou como pesquisadora visitante através do Programa de doutorado sanduíche no exterior da Capes no Centro de Investigaciones sobre América Latina y el Caribe na Univerisidade Auntônoma do México.

Ficha do Trabalho

Título

    Cinema indígena latino-americano de realizadoras: a cosmopolítica, o comum e a comunalidad

Resumo

    O presente trabalho se debruça no cinema da diretora zapoteca Luna Marán e da roteirista Pankararu, Bia Pankararu, com enfoque na temática da luta presente nos longas-metragens Rama Pankararu (2022) e Tio Yim (2019). Para tal análise, conceitos como cosmopolítica, sob a ótica de Isabelle Stengers (2018), o comum, sob a perspectiva de Silvia Federici (2014) e Raquel Gutiérrez (2017) e a comunalidad de Floriberto Diáz (2004) serão utilizados como instrumento para refletir sobre modos de viver.

Resumo expandido

    Tecer diálogos entre cinemas ameríndios de distintas partes da América Latina tem significado se deparar com universos e contextos políticos bastante diferentes. Se, por um lado, existem as diferenças, por outro, tem sido crucial notar que as aproximações, quando notáveis, podem abrir novas janelas de percepção quanto às narrativas acerca dessas regiões. O presente trabalho se debruça no cinema da diretora zapoteca Luna Marán e da roteirista Pankararu, Bia Pankararu, com enfoque na temática da luta presente nos longas-metragens Rama Pankararu (2022) e Tio Yim (2019). Tal aproximação entre as duas obras busca por diálogos acerca da representação das lutas simbólicas e materiais que circundam a rotina dos povos ameríndios do México e do Brasil.
    No longa-metragem de ficção brasileiro, Rama Pankararu (2022), a ativista indígena Bia Pankararu interpreta a si mesma, assim como roteiriza em uma narrativa que se passa no Nordeste do Brasil, região onde vive com a sua comunidade. Já o mexicano Tio Yim (2019), da diretora zapoteca Luna Marán é uma obra documental que narra, em primeira pessoa, uma espécie de desenho biográfico comunitário do seu pai, ativista político da comunidade zapoteca. A peculiaridade do filme de Luna Marán se dá a partir da escrita de uma narrativa construída de modo compartilhado à sua família, inclusive contando com a colaboração do protagonista, seu pai. Os filmes, assim, tratam de dois povos ameríndios e de duas militâncias em cena.
    Nesse sentido, a partir da discussão acerca das narrativas, da montagem e das escolhas estéticas – seja pela definição de uma abordagem mais experimental, como é o caso do início de Tio Yim, seja pela mescla entre ficção e documentário, como é realizado em Rama Pankararu – é que será costurada a análise sobre as representações da luta nas obras, buscando delinear um fluxo de diálogo entre ambos os filmes ao posicioná-los lado a lado. Em concomitância a essa análise também será realizado um paralelo entre a luta presente na narrativa do longa-metragem e a batalha profissional das diretoras para produzir e distribuir os filmes, uma vez que realizadores latino-americanas e ameríndias custaram a conquistar um espaço no cinema e ainda enfrentam diversos obstáculos colonialistas.
    Para tal reflexão, conceitos como cosmopolítica, sob a ótica de Isabelle Stengers (2018), o comum, sob a perspectiva de Silvia Federici (2014) e Raquel Gutiérrez (2017) e a comunalidad, de Floriberto Diáz (2004), serão utilizados como instrumento para refletir sobre os modos de viver e de lutar presentes no cinema das diretoras.

Bibliografia

    DÍAZ, Floriberto. Comunidad y comunalidad. Diálogos en la acción, segunda etapa. México: Culturas Populares e Indígenas. 2004.

    FEDERICI, Silvia. La revolución feminista inacabada. Mujeres, reproducción social y lucha por lo común. Colombia: Ediciones desde Abajo, 2014.

    GUTIÉRREZ AGUILAR, Raquel. Horizontes comunitario-populares: producción de lo común más allá de las políticas estado-céntricas. Madrid: Traficantes de Sueños, 2017.

    MATTA, Priscila. Dois lados da mesma corrente: Uma etnografia da corrida do imbu e da penitência entre os Pankararu. Dissertação de mestrado do programa de Pós-graduação em Antropologia USP. 2005.

    PANKARARU, Bia. Entrevista cedida à Manuela Bezerra Gouveia de Andrade. Recife, 4 de agosto de 2023.

    STENGERS, Isabelle. The challenge of ontological politics in DE LA CADENA, Marisol; BLASER, Mario (ed.). A world of many worlds Durham: Duke University Press. 2018.