Ficha do Proponente
Proponente
- Andrea C. Scansani (UFSC)
Minicurrículo
- Professora do Pós-graduação em Literatura e do curso de Cinema da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Ficha do Trabalho
Título
- Geopolítica das imagens: Stroessner e as narrativas transnacionais em “Bajo las banderas, el Sol”
Resumo
- O documentário “Bajo las Banderas, el Sol” (2025), de Juanjo Pereira, investiga a ditadura de Stroessner no Paraguai (1954-1989) por meio de um extenso material de arquivo. A obra revela como o cinema constrói ideologias e apaga memórias. Combinando análise fílmica, entrevistas e pesquisas sócio-históricas, este estudo examina o papel do cinema na consolidação de regimes totalitários, em uma perspectiva global, na busca por compreender as narrativas geopolíticas atuais na América Latina.
Resumo expandido
- Segundo as palavras do cineasta Juanjo Pereira, “Bajo las banderas, el sol” (2025) “é uma viagem, um percurso através de fragmentos de imagens, de registros cinematográficos oficiais da ditadura, de arquivos ocultos e recuperados, que explora os 35 anos do regime de Stroessner e os efeitos que ecoam até hoje. O trabalho revela como o ditador chegou ao poder, como manteve-se através de eleições fraudulentas, as alianças internacionais que o sustentaram, as obras grandiosas que promoveu, e seu eventual exílio político e morte no Brasil sem nunca ter sido julgado” (PEREIRA, 2025).
Apresentando uma extensa pesquisa iconográfica feita na Alemanha, Argentina, Bélgica, Brasil, Espanha, Estados Unidos, França, Japão, Paraguai, Reino Unido e Taiwan, o filme resgata esses fragmentos de História, até então desarticulados, demosntrando como o regime stronista manipulou a memória nacional, utilizando o cinema simultaneamente como instrumento de propaganda e mecanismo de apagamento histórico. Mais do que um documentário, a obra configura-se como um espaço de denúncia e preenchimento de lacunas que sustentaram e ainda sustentam o imaginário político do período ditatorial.
O atual avanço e consolidação de governos autoritários no cenário global impõem desafios de pesquisa para a compreensão da escalada desses e as remodelações dos jogos de poder mundial. Estamos vivendo em uma época de incertezas que nos instiga a olhar para o passado recente, particularmente para a mais longa ditadura da América do Sul e suas articulações transnacionais.
“Bajo las banderas, el sol” mostra-se um caminho aclarador, pois identifica fatores comuns nos diversos registros coletados: opressão, propaganda e censura. Além disso, há um diálogo formal, tanto nos materiais encontrados no Paraguai quanto nos de outros países, que apresenta indícios de um programa geopolítico que extrapola as fronteiras paraguaias.
Olhar para esses vínculos formais e temáticos, em diálogo com pesquisadores que se debruçam sobre a história do Paraguai e que, de certo modo, também auxiliam a construção fílmica – como Milda Rivarola, Juan Rafael Espínola Cantero, Ana Barreto Valinotti, Andrew Nickson e Luc Capdevilla -, é o caminho escolhido por esta proposta. Desse modo, o documentário de Juanjo Pereira oferece uma importante ferramenta para compreender as atuais narrativas geopolíticas latino-americanas, estabelecendo conexões entre passado e presente autoritários.
Bibliografia
- CAPDEVILLA, Luc. “Para una historia del tiempo presente paraguayo: del pasado/presente entre dictadura y democracia: los historiadores bajo la ditadura”. Res Gesta – Instituto de Historia de la Facultad de Derecho y Ciencias Sociales del Rosario, 2008, p. 37-58.
ESPÍNOLA CANTERO, Juan Rafael. “A sesenta años del Programa Alianza para el Progreso. ¿Qué ha dejado para el Paraguay?” Cuadernos De Sociología, 1(2), 2021, p. 10-24.
NICKSON, Andrew , “La Caída de Alfredo Stroessner y el ocaso del sultanismo”, Nuevo Mundo Mundos Nuevos, Débats, 2020.
PEREIRA, Juanjo. Entrevista concedida a Jimmi Peralta. La Nación. Assunção, 12 de janeiro de 2025.
RIVAROLA, Milda. “Paraguay: una larga y tortuosa transición”. In IGLESIAS, Enrique et al (org.). El momento político de América Latina. Madri: Fundación Carolina, 2011.