Ficha do Proponente
Proponente
- Helom Paulino Ferreira (UFJF)
Minicurrículo
- Bacharel em Rádio, TV e Internet e em Direito, Mestrando em Comunicação do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora, Bolsista CAPES. Se dedica a estudar cinema negro, performance, vivências africanas no cinema, relações do direito com o audiovisual. e-mail: helompaulino@msn.com
Ficha do Trabalho
Título
- A PERFORMANCE COMO INSTRUMENTO DE LUTA POLÍTICA NO CINEMA: Uma análise de Noir Blue e Alma no olho.
Eixo Temático
- ET 1 – CINEMA, CORPO E SEUS ATRAVESSAMENTOS ESTÉTICOS E POLÍTICOS
Resumo
- O presente trabalho deseja analisar os filmes, Alma no Olho (Zózimo Bulbul, 1974) e Noir Blue – Deslocamentos de uma dança (Ana Pi, 2018), sob a ótica do conceito de performance. Com o objetivo de entender como o cinema unido a performance pode servir como um instrumento de resposta política ao racismo. Passearemos por temas como, racismo estrutural, relações sociais racistas e representações racistas no cinema, aticulando-os com os objetos supramencionados.
Resumo expandido
- A presente pesquisa pretende analisar os filmes Alma no Olho (1974) de Zózimo Bulbul e Noir Blue – Deslocamentos de uma dança (2018) de Ana Pi, sob a ótica do conceito de performance dos autores Richard Schechner (2006), Diana Taylor (2012) e Marvin Carlson (2010). Nossa investigação parte da seguinte indagação: “de que maneira a linguagem cinematográfica unida à performance dos corpos dos realizadores de Alma no Olho (1974) e Noir Blue (2018) serviram como instrumento de resposta política e antirracista, mesmo as duas obras cinematográficas estando dentro de contextos históricos distintos?”
Os dois objetos, supramencionados, mesmo guardando 44 anos de diferença entre seus lançamentos, evocam uma discussão relevante sobre temas raciais, cada qual em sua época. Por um lado, Zózimo Bulbul, um dos pioneiros no cinema negro brasileiro, inova ao trazer às telas o corpo preto, sendo mostrado sem censura na década de 70, performando criticamente sobre as relações sociais racistas. Por outro lado, Ana Pi, mulher, dançarina, preta, que não se entendia cineasta, performa ao viajar até países africanos e refletir sobre temas como ancestralidade, sociedade e reconhecimento do povo preto. Trajetos diferentes que se encontram em suas artes, mas acima de tudo em suas dores.
Como caminho teórico para estudar o tema, entendemos ser de suma importância um mergulho nos reflexos sociais do racismo e seus desdobramentos. Como bem explica Frantz Fanon (2003), o negro historicamente, em diferentes tipos de relações, é colocado como se subordinado fosse. O reflexo disso, segundo o autor, é uma crise de identidade que fará com que o negro queira agir como um branco. Com o cinema não é diferente, o mesmo se desenvolveu sob um DNA racista, tendo desde seus primórdios obras que estereotiparam o povo preto e que não deram a oportunidade que histórias pretas fossem contadas. Surge assim, a necessidade dos chamados “Discursos Marginais” (Grada Kilomba, 2018), que dizem respeito à abertura de espaços onde as histórias dos explorados possam ser contadas. Entendemos que o cinema pode ser esse espaço quando politicamente utilizado. Nos dois filmes por nós analisados, performance e arte cinematográfica se encontram, e a performance unida ao fazer artístico tem um conteúdo essencialmente político (Diana Taylor, 2012).
Para nosso percurso metodológico abarcaremos a ideia que “Analisar um filme ou um fragmento é, antes de mais nada, no sentido científico do termo, assim como se analisa, por exemplo, a composição química da água, decompô-lo em seus elementos constitutivos” (VANOYE E GOLIOT-LÉTÉ, 2002, p.15), e que apesar da importância dos detalhes técnicos, devemos também buscar entender o contexto histórico dentro do qual a obra foi criada (AUMONT & MARIE, 2009). Para analisarmos tanto Noir Blue – Deslocamentos de uma dança (2018), como Alma no Olho (1973), devemos ter um olhar histórico para a situação dentro da qual cada realizador vivia. Zózimo Bulbul como um dos primeiros realizadores de cinema negro brasileiro, decide fazer uma manifestação performática política, traz à tela seu corpo, por vezes nu, criticando situações sociais e narrando a história do povo preto escravizado. Já Ana Pi, subverte, já em seu título, uma expressão racista: “De tão preto é azul”, e em sua obra utiliza a performance junto à poesia, para discursar sobre situações raciais relevantes, fazendo um exercício de ancestralidade enquanto visita países africanos. Uma mulher que até então não se entendia cineasta, mas viu a necessidade de dividir sua vivência.
Objetivamos assim, ao analisar Noir Blue – deslocamentos de uma dança (Ana Pi, 2018) e Alma no Olho (Zózimo Bulbul, 1973), investigar de que forma a performance unida ao cinema pode responder politicamente ao racismo. Pretendemos também, humildemente, ao escrutinar o tema, servir de inspiração para que novos cineastas políticos desenvolvam suas obras denunciando realidades de injustiça e opressão.
Bibliografia
- AUMONT, J. MARIE, M. A análise do filme. Tradução: Marcelo Félix. Lisboa: Edições Texto & Grafia, 2009.
CARLSON, Marvin. Performance: Uma introdução crítica. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2009.
FANON, Frantz. Pele Negra, mascaras brancas. Tradução Renato da Silveira. Salvador-BA: EDUFBA, 2008.
KILOMBA, Grada. Memórias da Plantação. Episódios de Racismo Cotidiano. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.
OLIVEIRA, Janaína; FREITAS, Kênia (org). Cinema negro contemporâneo e protagonismo feminino. In: Diretoras Negras no Cinema Brasileiro, 2017, (Catálogo).
SCHECHNER, Richard. O que é performance? O percevejo – Revista de Teatro, Crítica e Estética, n.12, UNIRIO, Rio de Janeiro, 2023.
TAYLOR, D. O arquivo e o repertório: “performance” e memória cultural nas Américas Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2013.
VANOYE, Francis; GOLIOT-LÉTÉ, Anne. Ensaio sobre a análise fílmica. Tradução: Marina Appenzeller. 4ª ed. Campinas: Papirus, 2006.