Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Carlos Eduardo Japiassú de Queiroz (UFS)

Minicurrículo

    Graduação em Comunicação Social – Jornalismo – , pela Universidade Federal de Pernambuco. Mestrado e Doutorado em Teoria da Literatura, pela Universidade Federal de Pernambuco. Estágio Pós-Doutoral, na Universidade do Algarve – Portugal. Professor Associado do Departamento de Letras Vernáculas, da Universidade Federal de Sergipe. Membro do Programa de Pós-Graduação interdisciplinar em Cinema, da Universidade Federal de Sergipe. Pesquisador na área de Literatura, Cinema e outras Artes.

Ficha do Trabalho

Título

    A Lua em Plenilúnio: uma análise do espaço no romance e no filme, A Dama Fantasma

Resumo

    Este trabalho objetiva a análise do Espaço enquanto elemento estrutural narrativo das linguagens literária e cinematográfica, visando problematizar uma comparação intersemiótica de sua construção formal. Para tanto escolhemos como corpus analítico o romance, A Dama Fantasma, 1942, e a adaptação homônima para o cinema, 1944. Essa escolha se justifica pela possibilidade de analisar o espaço narrativo em tais obras a partir das convenções formais e estilísticas de um gênero específico, o Noir.

Resumo expandido

    Recorremos à imagem metafórica da lua em plenilúnio para uma problematização acerca do gênero, estilo e/ou corrente estética que a crítica denominou de noir, e que caracteriza o corpus contemplado nesse artigo. Tal expressão imagética, a de um locus iluminado, cercado por matizes de cinza, estaria associada a um simbolismo tanto na dimensão estética visual, como também no sentido do conteúdo temático. Concerne-se ela a um estilo de época cujas obras recobrem todo um escopo artístico pertencente à seara das narrativas literárias e cinematográficas. O termo noir, cujo teor circunscreve um campo semântico associado ao sombrio, ao recôndito, ao perigo, à tensão e ao medo, foi cunhado pelos críticos franceses Nino Frank e Jean-Pierre Chartier (Armin Jaemmrich, The American Noir a Rehabilitation, p.7) para se referir a um conjunto de filmes norte-americanos produzidos em Hollywood durante a segunda guerra mundial, os quais só puderam ser vistos na Europa com o final da guerra. Assim, não havia a adjetivação noir para os romances policiais do entre guerras, esta foi atribuída retrospectivamente, a partir do seu uso pela crítica cinematográfica.
    Adentrando no sentido visual dos filmes ditos noir. Observamos que o uso do claro-escuro (chiaroscuro) tem origem na estética barroca (Caravaggio, Rembrandt, entre outros), cujas figurações continham sempre um acontecimento principal – ação ou retrato – o qual surge como uma epifania, visto que recebe uma cor alva, sobrelevando, assim, o conteúdo em relação ao seu contorno, o qual carece de nitidez. Esse pressuposto estilístico da escola barroca veio a influenciar a corrente da vanguarda modernista cinematográfica referida como expressionismo alemão. Foram os realizadores germânicos, tais como Fritz Lang e Robert Siodmak, que pensaram o potencial estético do P&B no intuito de uma formalização que se coadunaria à construção do sentido temático dos filmes. Quando, com a ascensão do nazismo, os principais realizadores europeus migram para os EUA, forjam uma renovação no cinema clássico hollywoodiano, visto que influenciam o cinema norte-americano do pós-guerra justamente com as concepções estéticas das vanguardas modernistas europeias, entre elas talvez a mais predominante foi a do expressionismo alemão. Uma vez lá, diretores como Fritz Lang, Billy Wilder, Robert Siodmak, Otto Preminger, só para citar alguns mestres do noir, tiveram contato com o gênero literário posteriormente também popularizado como noir, cujas histórias já haviam recebido a denominação de hard-boiled. Esse consiste num subgênero da ficção policial com características estruturais que de algum modo subverte a tipologia do romance policial tradicionalmente estabelecido como tal. É neste momento que a problemática da adaptação cinematográfica entre a literatura policial hard-boiled e o cinema noir torna-se pertinente, a saber, no âmbito de um encontro de projetos estéticos entre duas linguagens artísticas distintas. Portanto, dada a potência estética que o espaço visual assume no estilo noir, nosso problema de pesquisa centrar-se-á em como o espaço, enquanto elemento estrutural de qualquer sistema narrativo, foi transposto quando da adaptação de romances de ficção policial hard-boiled para os Films Noir. Ou seja, que recursos de gramática fílmica permitiram a tradução do espaço literário, construído por um discurso verbal, para o espaço audiovisual cinematográfico do gênero/estilo noir? Para tal, escolhemos como corpus investigativo, o romance, A Dama Fantasma, publicado em 1942, pelo autor estadunidense Cornell Woolrich, o qual foi adaptado para o cinema, com título homônimo, em 1944, dirigido pelo realizador alemão Robert Siodmak.

    Palavras-chave: Narratologia; Espaço narrativo; Análise fílmica; Noir; A Dama Fantasma.

Bibliografia

    A DAMA FANTASMA. Direção: Robert Siodmak. Estados Unidos, 1944. 1 filme (87 min), son., P&B.
    AUMONT, Jacques. A Estética do Filme. Tradução: Marina Appenzeller. 9ª ed, Campinas: Papirus, 2012.
    AUMONT, Jacques. A Imagem. Tradução: Estela dos Santos Abreu, Claúdio C. Santoro. 16ª ed, Campinas: Papirus, 2012.
    BORDWELL, David. Figuras traçadas na luz: a encenação no cinema. Tradução: Maria Luiza Machado Jatobá. Campinas: Papirus, 2008.
    GAUDREAULT, André. A Narrativa Cinematográfica. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2009.
    JAEMMRICH, Amir. The American Noir: A Rehabilitation. Createspace independente publishing platform, 2016.
    MASSAUD, Moisés. A Criação Literária: prosa I. 20ª ed. São Paulo: Cultrix, 2006.
    ORTEGOSA, Marcia. Cinema Noir: espelho e fotografia. São Paulo: Annablume, 2010
    SILVA, Vitor Manuel de Aguiar e. Teoria da Literatura. 8ª ed, Coimbra: Livraria Almedina, 2004.
    WOOLRICH, Cornell. A Dama Fantasma. Tradução: S. Duarte. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.