Ficha do Proponente
Proponente
- Filipe Tavares Falcão Maciel (Unicap)
Minicurrículo
- Filipe Falcão – Doutor em Comunicação com pesquisa de pós-doutorado pela UFPE sobre cinema, cinema de horror e direção de fotografia. Docente da Unicap para os cursos de Jornalismo, Fotografia e Publicidade e Propaganda e do Mestrado em Indústrias Criativas. Coordenador do grupo de pesquisa Mídia e Cultura Contemporânea (Unicap) e Membro do Laboratório de Análise de Imagem e Som (LAPIS), grupo de pesquisa CNPq, vinculado ao PPGCOM da UFPE. Crítico/colunista de cinema da Rádio Jornal, Recife-PE.
Ficha do Trabalho
Título
- Autoria, fetiche visual e adaptação intercultural: um estudo sobre três versões de Nosferatu
Seminário
- Estudos do Insólito e do Horror no Audiovisual
Resumo
- O objetivo deste artigo concentra-se na análise comparativa de três adaptações cinematográficas do clássico “Nosferatu” através dos longas de 1922, 1979 e 2024. O estudo será desenhado através de uma análise comparativa entre os três filmes sob o conceito de adaptação intercultural, que enfatiza os contextos históricos e socioculturais de produção das obras, além de analisar questões de autoria dos diretores, período de produção e o aspecto visual presente em cada um dos títulos.
Resumo expandido
- A presente comunicação tem como objetivo traçar a evolução do vampiro na cultura midiática do século XX, concentrando-se na análise comparativa de três adaptações cinematográficas marcantes do clássico “Nosferatu”: “Nosferatu, eine Symphonie des Grauens” (1922), de F.W. Murnau; “Nosferatu: Phantom der Nacht” (1979), de Werner Herzog; e “Nosferatu” (2024), de Robert Eggers.
O estudo comparativo adota como ponto de partida a adaptação não oficial de Murnau do romance “Drácula”, de Bram Stoker (1897), buscando analisar como as diferentes épocas e contextos culturais influenciaram as subsequentes releituras de Herzog e Eggers. Através da lente da adaptação intercultural, proposta por Marcel Vieira Silva (2012, 2013), serão exploradas as semelhanças e diferenças entre as três obras.
A noção de adaptação intercultural, desenvolvida por Marcel Vieira Silva (2012), deriva da teoria de Patrice Pavis (2008) sobre adaptações literárias para o teatro. Silva, no entanto, adaptou a teoria para o cinema, com “pontuais alterações” (SILVA, 2012: 207), a fim de viabilizar estudos comparativos dos processos de adaptação cinematográfica. A principal operação realizada pelo conceito é a análise dos contextos socioculturais de produção das obras, demonstrando como esses elementos da cultura-fonte, em momentos históricos específicos, moldam as escolhas estilísticas e linguísticas dos cineastas (SILVA, 2012: 208).
Ao aplicar o conceito de adaptação intercultural, o estudo busca revelar como cada versão de “Nosferatu” reflete as preocupações, valores e estéticas de seu tempo. A análise de adaptações cinematográficas, sob a perspectiva da adaptação intercultural, exige a consideração de variáveis como condições econômicas, políticas e tecnológicas de produção, movimentos estilísticos e intenções autorais. Essa abordagem não descarta parâmetros tradicionais, mas os relativiza, como a noção de fidelidade ao texto original, já criticada por estudos que evidenciam seu caráter moral e redutor (MCFARLANE, 1996; CARDWELL, 2002; HUTCHEON, 2011). A intertextualidade (CORRIGAN, 1998; ALLEN, 2000) também é considerada, mas com ênfase nos contextos culturais dos processos criativos.
A relevância dos contextos socioculturais é corroborada por pesquisadores como Linda Hutcheon (2011), que destaca a importância da localização geográfica e da época de criação, especialmente em um contexto de globalização cultural.
Cinco categorias analíticas específicas, propostas por Silva (2012: 203), são cruciais para a análise comparativa entre obras de diferentes matrizes culturais, como literatura e cinema: língua falada, trama, cronótopo (recontextualização da trama em espaço e/ou tempo distintos), dominantes genéricas (alterações no gênero dominante da trama) e estilo de encenação (escolhas autorais dos realizadores). O conceito de estilo, inspirado em David Bordwell (2013), será utilizado para analisar as cinco categorias.
O contexto de produção de “Nosferatu, eine Symphonie des Grauens” (1922) é marcado pelo Expressionismo Alemão, que buscava expressar emoções de forma distorcida e exagerada. A estética expressionista, influenciada pela Primeira Guerra Mundial e pela crise social na Alemanha, se manifesta na atmosfera sombria, nos cenários estilizados e na maquiagem.
Em 1979, Herzog pensava no seu “Nosferatu” como uma maneira de atualizar os significados originais do filme de 1920 para os dilemas diferentes que a sociedade alemã enfrentava. Na obra é perceptível identificar o estilo autoral do diretor para narrar uma trama já conhecida, mas fazendo-a parecer quase inédita no aspecto visual e narrativo.
Já a mais nova adaptação dirigida por Eggers trabalha com questões visuais muito associadas ao seu próprio estilo visual já explorado em obras anteriores. Como adaptação, Eggers se limita em recontar pontos já conhecidos por meio de uma linguagem visual como assinatura estilística que deixa o filme narrativamente limitado como nova adaptação de uma obra já conhecida
Bibliografia
- Allen, Graham (2000). Intertextuality. Nova York: Routledge.
Bordwell, David (2013). Sobre a história do estilo cinematográfico. Campinas: Editora da Unicamp/ EdUSP.
Cardwell, Sarah (2002). Adaptation Revisited: Television and the Classic Novel. Manchester: Manchester University Press.
Corrigan, Timothy (1998). Film and Literature. New Jersey: Prentice Hall.
Hutcheon, Linda (2011). Uma teoria da adaptação. Santa Catarina: Editora da UFSC.
Hutchings, Peter (2008). Historical Dictionary of Horror Cinema. Toronto: The Scarecrow P
McFarlane, Brian (1996). Novel to Film: An Introduction to the Theory of Adaptation. Oxford: Clarendon Press.
Pavis, Patrice (2008). O teatro no cruzamento de culturas. São Paulo: Perspectiva.
Silva, Marcel Vieira Barreto (2012). “Adaptação intercultural: em busca de um modelo analítico” en Significação, volume 39, número 38. São Paulo: Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.