Ficha do Proponente
Proponente
- Matheus José Pessoa de Andrade (UFPB)
Minicurrículo
- Matheus Andrade é professor de direção de fotografia do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal da Paraíba. Doutor em ciências da informação. Integra o Grupo de Pesquisa Cinematografia, Expressão e Pensamento (Cnpq/UFF). Autor do livro A noite no cinema: ensaios sobre direção de fotografia em cenas noturnas (2023). Interessado em estudo sobre fotografia em cenas noturnas e percursos formativos em direção de fotografia.
Ficha do Trabalho
Título
- De fotógrafo de Lula a diretor de fotografia de cinema
Mesa
- Direção de fotografia: memória, criação e trajetória
Resumo
- Ricardo Stuckert é o fotógrafo oficial do presidente Lula desde 2003. Em 2019, estreou como diretor de fotografia do filme Democracia em vertigem, de Petra Costa. Este estudo visa o entendimento desse trajeto, de alguém reconhecido pelo trabalho com a fotografia fixa e que chegou à cinematografia de uma obra de impacto por causa do seu arquivo audiovisual. A análise do caso permite uma compreensão do arquivo pessoal como uma forma de capital para atuar na direção de fotografia de cinema.
Resumo expandido
- Em 2019, a cineasta Petra Costa lançou, pela Netflix, Democracia em vertigem, um documentário sobre as mudanças na política brasileira no começo do século XXI, da ascensão e queda do partido dos trabalhadores ao crescimento de uma extrema direita no país. A obra traz uma narrativa pessoal, engajada, com voz off da diretora, depoimentos, testemunhos e imagens de arquivos do universo político, entrelaçando as vivências de Petra com falas e questões públicas de tudo aquilo. Um ano depois, o filme concorreu ao Oscar de Melhor Documentário em Longa-metragem.
Antes disso, em 2003, o fotógrafo Ricardo Stuckert aceitou o convite para trabalhar com o presidente da república recém eleito Luiz Inácio da Silva. Nessa função, ele passou a acompanhar, fotografando e filmando, o cotidiano de Lula. Fez isso, não apenas durante as duas primeiras gestões, como faz até os dias de hoje, há mais de 20 anos. Atualmente, Stuckert integra a Secretaria de Produção e Divulgação de Conteúdo Audiovisual da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República.
Petra Costa se aproximou de Ricardo Stuckert por volta de 2016, nas pesquisas iniciais do filme, enquanto tentava articular uma entrevista com Lula: “[…] eu pude conhecê-lo melhor e ele me contou do material que ele tinha” (Canal da resistência, 2019). Ambos sabiam da importância histórica do arquivo dele e, ao longo das conversas, ela entendeu que Ricardo “achou interessante que pudesse não ser esquecido nesse momento tão crucial” (Canal da resistência, 2019). O diretor de fotografia João Atala já integrava o projeto quando Stuckert adentrou também como diretor de fotografia e de imagens exclusivas. A saber, a obra contou com muitas horas de material bruto captado ao longo de três anos e com o aporte de alguns acervos de imagens, tais como: o arquivo familiar da diretora, imagens do Coletivo Mídia Ninja e o arquivo de Ricardo Stuckert. “As imagens costuradas no ritmo da história narrada mostram como foi criada a polarização política no País e os meandros escusos do poder” (Queiroz, 2020, p. 05).
Desde 2006, Stuckert havia incorporado a filmadora ao seu trabalho, tanto pelas mudanças tecnológicas da época quanto pelas tendências de padrão de documentação no setor. Inclusive, se considera como o pioneiro de Brasília a conciliar os dois tipos de registro, muito embora tenha sido deveras criticado pelos colegas naquela fase. “[…] Eu comecei a usar uma filmadora, uma Ex3 da Sony” (ConsumArte, 2021). Sua atuação com o audiovisual na assessoria da presidência foi oficialmente a público em 2012, quando postou no Youtube, num canal próprio, um trailer que anunciava um filme intitulado Pela primeira vez, dirigido por ele, sobre a posse de Dilma Rousseff. O trailer apresenta uma fração impactante do arquivo audiovisual dele. Contudo, não achamos o filme de Stuckert em nossas pesquisas. Já sobre Democracia em vertigem, ele recorda os primeiros contatos com a diretora: “sentamos e conversamos. E eu falei, ‘Petra, estou fazendo esse filme há 18 anos’” (Moraes, 2020), demonstrando, ao mesmo tempo, a dimensão dos registros exclusivos feitos ao longo de suas vivências de trabalho e a razão de integrar o projeto. Anos depois, ele relata sobre sua presença na cerimônia do Oscar 2020: “Quando começou a premiação – e aí eles passam um trailer dos três concorrentes do Oscar –, aí apareceu lá Democracia em vertigem, as minhas imagens para aquelas pessoas que a gente, a vida inteira, sempre viu aquelas pessoas e sempre sonhou com aqueles filmes de Hollywood” (ConsumArte, 2021).
O arquivo de Stuckert, nesse trabalho, é observado tanto pela existência do poder político inscrito no controle dessas memórias audiovisuais (Assmann, 2011), quanto pela distinção incorporada ao fotógrafo na forma de capital que o permitiu o agenciamento no campo do cinema (Bourdieu, 2011), objetivando um entendimento sobre essa trajetória de fotógrafo de Lula a diretor de fotografia do filme de Petra Costa.
Bibliografia
- ASSMANN, Aleida. Espaços da recordação. Campinas: Unicamp, 2011.
BOURDIEU, Pierre. A distinção. 2ed. São Paulo: Zouk, 2011.
CANAL DA RESISTÊNCIA. Entrevista com a cineasta Petra Costa, diretora do documentário “Democracia em vertigem”. Youtube, 11 jul. 2019. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=f5Tzw9yzkEU. Acesso em: 10 mar. 2025.
MORAES, Felipe. Fotógrafo de Democracia em vertigem: “Agora, o mundo está vendo”. Metrópoles, 2020. Disponível em: https://www.metropoles.com/entretenimento/cinema/fotografo-de-democracia-em-vertigem-agora-o-mundo-esta-vendo. Acesso em: 21 mar. 2025.
QUEIROZ, Eliani. Democracia em vertigem: uma narrativa documental que vai além da mera representação. Revista Panorama, Goiânia, v. 10, n. 1, p. 02-07 jan./jun. 2020.
RICARDO Stuckert ConsumArte#26. Locução: Leonardo e Rick. Entrevistado: Ricardo Stuckert. [S.L.], ConsumArte, 14 jun. 2021. Disponível em: https://open.spotify.com/episode/5DWhGZSwxzB6wRNm63nP3y. Acesso em: 20 mar.2025.