Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Rodrigo Pereira Silva Fonseca (UFMT)

Minicurrículo

    Formado em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e pela Universidade da Beira Interior (UBI) em 2022, atualmente é mestrando no PPGCOM, com foco em estudos de estéticas e narrativas.
    Atua como realizador audiovisual e publicitário, com destaque para os curtas “Olanzapina” (2022), vencedor de Melhor Curta Curtíssimo na Mostra Audiovisual Universitária e Independente da América Latina; “Falta-me” (2023), finalista no Filmaê 2024; e “Afetos Monstruosos” (2024).

Ficha do Trabalho

Título

    Cinema Fantástico e decolonialidade: uma análise do filme As Boas Maneiras

Eixo Temático

    ET 3 – FABULAÇÕES, REALISMOS E EXPERIMENTAÇÕES ESTÉTICAS E NARRATIVAS NO CINEMA MUNDIAL

Resumo

    Este estudo analisa como o cinema fantástico brasileiro aborda traumas estruturais e questões decoloniais. Foca-se no filme As Boas Maneiras (2018), de Juliana Rojas e Marco Dutra, que ressignifica o horror ao discutir classe, raça, gênero e sexualidade. Partindo da compreensão de Kracaeur (2009) do cinema fantástico como sintoma de conjunturas sociais e dos estudos decoloniais de Quijano (2005), investiga-se como o filme reinterpreta o passado colonial e se torna uma ferramenta de reflexão.

Resumo expandido

    O cinema fantástico, cuja existência ocorre no campo da fantasia e do extraordinário, recorrentemente dispõe de suas características insólitas para abordar questões que cercam as sociedades. Em seu livro De Caligari a Hitler (2009[1947]), Siegfried Kracauer argumenta que o vampiro mais famoso do cinema alemão, Nosferatu (F. W. Murnau, 1922), é um reflexo das ansiedades sociais que precederam a ascensão do nazismo. De modo semelhante, o filme Invasores de Corpos (Don Siegel, 1956) recorreu a uma trama fantástica para abordar as paranoias da Guerra Fria que afligiam a classe média americana. Se o cinema fantástico, em suas diversas modulações no campo do insólito, pode ser compreendido como sintoma de traumas e ansiedades coletivas das sociedades, questionamos: como o cinema no Brasil se utiliza do fantástico para lidar com traumas estruturais da sociedade brasileira?
    Assim, este estudo busca discutir como o cinema brasileiro se vale do fantástico – pelo viés do terror e do maravilhoso (realismo mágico) – para debater questões decoloniais. Para tanto, destaca como objeto de análise o filme As Boas Maneiras, de Juliana Rojas e Marco Dutra (Brasil, 2018), representantes da geração do novíssimo cinema brasileiro (Oliveira, 2014). Tendo em vista que o Brasil passou por um longo processo de colonização, fundamentado na escravização e no genocídio de grupos sociais racializados, e que esses processos deixaram marcas e permanências estruturais na sociedade atual (Quijano, 2005), levantamos as seguintes indagações: De que maneira tais temáticas são abordadas pelo cinema fantástico brasileiro? Como essa produção fílmica cria discursos sobre o passado colonial brasileiro? Em especial, como o filme As Boas Maneiras se configura estética e narrativamente ao propor uma abordagem fantástica do colonialismo?
    O filme de Rojas e Dutra se apoia em uma narrativa baseada em elementos do folclore brasileiro (em especial, a figura do lobisomem) para questionar aspectos coloniais relacionados à classe, raça, sexualidade e gênero, enquanto trafega entre o horror e o fantástico. Partindo da perspectiva de Kracaeur (2009[1947]) que compreende o cinema como sintoma de conjunturas sociais e psicológicas das sociedades, este estudo busca explorar o filme de Rojas e Dutra como reflexo de discussões decoloniais que permeiam o contemporâneo.
    Entender como o cinema fantástico brasileiro se apresenta de forma singular, tanto na sua forma fílmica quanto na maneira como problematiza e debate a sua sociedade, é essencial para a construção do entendimento de que o cinema é sintoma de seu tempo, mas também é ferramenta de reflexão e resistência, capaz de promover discursos decoloniais.

Bibliografia

    CÁNEPA, L. L. Configurações do horror cinematográfico brasileiro nos anos 2000: continuidades e inovações. In: Série Comunicação & Inovação. 1a ed. São Caetano do Sul: USCS, 2016, v. 8, p. 121-144.

    KRACAUER, S. De Caligari a Hitler: uma história psicológica do cinema alemão. São Paulo: Iluminuras, 2009.

    LENNE, G. O cinema fantástico e suas máscaras. São Paulo: Martins Fontes, 1979.

    QUIJANO, A. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In: LANDER, E. A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Buenos Aires: CLACSO, 2005.

    OLIVEIRA-MONTE, E. KF. Queering Brazilian Horror: Race, Class, and Sexual Orientation in As boas maneiras (2017). Journal of Gender and Sexuality Studies/Revista de Estudios de Género y Sexualidades, v. 47, n. 1, p. 31-50, 2021.

    OLIVEIRA, M. C. “Novíssimo” cinema brasileiro: práticas, representações e circuitos da
    independência. São Paulo, 2016.

    TODOROV, T. Introdução à literatura fantástica. São Paulo: Perspectiva, 2019.