Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Rodrigo Corrêa Gontijo (UEM)

Minicurrículo

    Rodrigo Gontijo é artista, curador e professor na Universidade Estadual de Maringá. É Doutor e Mestre em Multimeios pelo Instituto de Artes da UNICAMP e Bacharel em Comunicação e Multimeios pela PUC-SP. Organizou os livros “Cineclubismo à Distância” (EDUC, 2022) e “Sobre o Contemporâneo: multimeios de possibilidade” (Vox Littera, 2023). Como artista desenvolve projetos de cinema ao vivo, instalações audiovisuais e filme-ensaio.

Ficha do Trabalho

Título

    DELÍRIOS À MEIA-NOITE: UM CINE-ENCONTRO ENTRE GLAUBER E OITICICA

Mesa

    DESLOCAMENTOS ENTRE CINEMA E ARTE CONTEMPORÂNEA

Resumo

    Este trabalho analisa “À Meia-Noite com Glauber” (1997), de Ivan Cardoso, a partir das proposições “Experimentar o Experimental” (1974) e “Estado de Invenção” (1979) de Hélio Oiticica. Ao romper com as convenções do documentário tradicional, este cine-encontro “glauberélico/ helioglauberiano” (CAMPOS, 1996) se transforma em um evento estético, que fala sobre Glauber Rocha a partir dos conceitos de Hélio Oiticica.

Resumo expandido

    Este trabalho analisa o curta-metragem “À Meia-Noite com Glauber” (1997), de Ivan Cardoso, como um cine-encontro, formato que se diferencia das entrevistas tradicionais e dos documentários biográficos convencionais ao transformar o filme em um acontecimento estético. Nos cine-encontros de Ivan Cardoso, os artistas filmados não são apenas objetos de registro, mas encenam a si mesmos, improvisam e deliram, tornando-se participantes ativos de um jogo cinematográfico onde entrevista, performance e montagem se fundem em um espaço híbrido e experimental.

    “À Meia-Noite com Glauber” se estrutura a partir do material bruto do curta H.O. – cine-encontro de Cardoso sobre Hélio Oiticica – que se mescla com fragmentos de obras de Glauber Rocha e de realizadores do cinema marginal. A montagem fragmentada e não-linear articula cortes abruptos e sobreposições que dialogam com a eloquência e os excessos discursivos de Glauber. O Ivampirismo (CAMPOS, 1990, p.38) de Ivan Cardoso se alimenta da estética ao seu redor, se reapropria de imagens, reciclando-as e recontextualizando-as. Nesta operação, o diretor promove um fluxo sonoro e visual ininterrupto, aproximando “a estética da fome glauberiana com a vontade de comer antropofágica do Hélio Oiticica” (CARDOSO, 2008, p. 397).

    Declarado nas cartelas de texto como um “cineclip”, “À Meia-Noite com Glauber” funciona como uma espécie de um trailer de vanguarda que fala sobre Glauber Rocha a partir dos conceitos de Hélio Oiticica. Ao aproximar o cineasta do artista, Haroldo de Campos declarou: “este filme-invenção glauberélico/ helioglauberiano, é uma partitura de iluminuras em mosaico, belas e brutas, como pedras recém-saídas de seus geodos” (CAMPOS, 1996, p.319). Nesta comunicação, realizamos uma leitura de “À Meia-Noite com Glauber” à luz das proposições “Experimentar o Experimental” (OITICICA, 1974) e “Estado de Invenção” (OITICICA, 1979). Ao romper com as convenções e tradições do cinema documental, este cine-encontro de Ivan Cardoso exige um espectador ativo – um participador – convocando-o a um estado de invenção, a partir do qual o filme se transforma em uma experiência imersiva e delirante.

Bibliografia

    CAMPOS, Haroldo. Glauberélio/ Heliglauber. In: CARDOSO, Ivan. De Godard a Zé do Caixão. Rio de Janeiro: Funarte, 2002.
    CAMPOS, Haroldo. Ivampirismo – O cinema em pânico. In: CARDOSO, Ivan; LUCCHETTI, Rubens Francisco. Ivampirismo – O cinema em pânico. Rio de Janeiro: EBAL, 1990.
    CARDOSO, Ivan. O mestre do terrir. São Paulo: Imprensa Oficial, 2018.
    OITICICA, Hélio. Experimentar o Experimental. In: NETO, Torquato; SALOMÃO, Waly (org.). Navilouca. Rio de Janeiro: Edições Gernasa e Artes Gráficas, 1974.
    OITICICA, Hélio. Depoimento para Ivan Cardoso, janeiro de 1979. In: OITICICA FILHO, César; VIEIRA, Izabela (org.). Encontros – Hélio Oiticica. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2009.
    OITICICA, Hélio. Aspiro ao Grande Labirinto. Rio de Janeiro: Rocco, 1986.