Ficha do Proponente
Proponente
- Felipe Lopes (ESPM-Rio)
Minicurrículo
- Mestre em Cinema e Audiovisual e Bacharel em Comunicação pela UFF; pós-graduado em Gestão Empresarial e Marketing pela ESPM. Trabalhou com política pública audiovisual na Secretaria de Estado de Cultura do RJ e com distribuição na Vitrine Filmes. Atualmente é sócio-diretor Retrato Filmes, presidente da Associação Nacional das Distribuidoras Audiovisuais Independentes e professor da ESPM-Rio. Lançou filmes como “Bacurau”, “A Vida Invisível”, “O Farol” e a versão restaurada de “Cidade dos Sonhos”.
Ficha do Trabalho
Título
- Média de público por sessão: uma análise aprofundada da ocupação de salas de cinema no país
Seminário
- Políticas, economias e culturas do cinema e do audiovisual no Brasil
Resumo
- O trabalho coloca em foco a análise comparativa de público por sessão de obras brasileiras e dos EUA, em especial as distribuídas por majors em mais de 1000 salas. A partir deste indicador, somado a outras investigações críticas da economia e política audiovisual, em especial nos segmentos de distribuição e exibição, observa-se uma evidente ocupação predatória na programação de cinemas, algo que tem origem desde os primeiros atos dos grandes estúdios na construção da hegemonia hollywoodiana.
Resumo expandido
- Historicamente, a análise de dados do cinema brasileiro é pautada em uma janela: a sala de exibição. E o público é o principal dado citado tanto em observatórios e instituições que fazem monitoramento do setor quanto em notícias e em espaços de mídia que falam sobre o mercado cinematográfico. Recentemente, o resultado de Ainda Estou Aqui, com quase 6 milhões de espectadores, gerou uma onda de otimismo, ampliando o debate sobre a ocupação do cinema brasileiro e a demanda do público por nossos filmes. A participação do mercado (market share) dos filmes brasileiros e dos internacionais é um outro dado muito discutido. Com taxas anuais que, em geral, ficam entre 10 e 15% no período que abrange a política atual com a presença da Ancine e do Fundo Setorial do Audiovisual, o market share nacional foi alvo de muita discussão no governo Bolsonaro ao atingir, também impactado por efeitos da pandemia, índices preocupantes de 1,7% em 2021 e 4,2% em 2022.
A proposta deste trabalho surge de uma inquietação sobre escolhas e focos de observatórios e espaços com análises de mercado acerca de quais dados utilizar para gerar indicadores econômicos do audiovisual. Primeiramente, é importante reiterar que um dado isolado não constitui um indicador. Logo, ao citar apenas o público em salas de cinema de um determinado filme para se chegar a uma conclusão de sucesso ou fracasso, parte-se de um princípio extremamente reducionista e alinhado com uma visão neoliberal de meritocracia que ignora desequilíbrios de competição, além de outras variáveis como acesso a canais de exibição e capital investido no produto e em sua distribuição.
Ainda se comemoram casos isolados no cinema brasileiro de público acima de um milhão de espectadores, inclusive sendo um marco citado em diversos relatórios do Observatório do Cinema e do Audiovisual da Ancine. Mas, para se chegar a esse número, é preciso vários fatores como o interesse do público, investimento em comercialização e espaço de exibição, com horários e complexos exibidores programando os filmes. E é neste ponto que será aprofundada a discussão de ocupação, colocando em perspectiva obras brasileiras em comparação a filmes norte-americanos.
Quando a tecnologia de exibição era película, a programação de cinema em uma sala possuía uma lógica de ter todos os horários para um único filme (full) ou de dividir as sessões entre no máximo dois títulos, com duas sessões cada em média. Com a digitalização, há atualmente, além das sessões únicas diárias, casos de salas de arte que dividem uma mesma sessão durante a semana em mais de um filme. Portanto, alguns indicadores já se encontram defasados, como o público por cinema ou o público por sala. O indicador público por sessão permite ver mais detalhes sobre demandas reprimidas de títulos com poucas salas, sendo muitos brasileiros, ou superdimensionadas, principalmente de filmes americanos, que ocupam o mercado brasileiro de forma hegemônica há mais de um século, conforme evidenciados nos estudos de Butcher (2024). Serão analisados dados comparativos de obras brasileiras independentes e de obras americanas distribuídas por majors com ocupação de mais de mil salas, a partir da hipótese de que há um poder de barganha destas empresas para se garantir uma ocupação predatória do espaço de exibição brasileiro sem uma justificativa coerente de mercado, inclusive na continuidade do circuito em duas ou mais semanas. Dentre os casos, estão Nosso Sonho, Marte Um, As Marvels e A Noite das Bruxas.
Este estudo se faz em um momento de importantes disputas políticas, inclusive em esferas legislativas de regulações acerca do espaço do cinema brasileiro em diferentes telas, e busca ampliar o debate sobre a necessidade de se rever indicadores de política, economia e mercado audiovisual de forma a se combater falácias e provocar observatórios e instituições oficiais na necessidade de avaliação e reformulação das informações trabalhadas para o embasamento de decisões estratégicas do setor.
Bibliografia
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