Ficha do Proponente
Proponente
- Lein Machado (UNESPAR)
Minicurrículo
- Mestrando do Programa de Pós-Graduação – Mestrado Acadêmico em Cinema e Artes do Vídeo (PPG-CINEAV) – da Universidade Estadual do Paraná (Unespar), campus de Curitiba II/Faculdade de Artes do Paraná (FAP). Pela mesma instituição, é bacharel em Cinema e Audiovisual. Membro do grupo de pesquisa CineCriare (Unespar/PPG-CINEAV/CNPq). Atua em atividades artísticas no meio do cinema e audiovisual, com participação em equipes de realização de filmes, festivais e cineclubes.
Ficha do Trabalho
Título
- A CONSTRUÇÃO DE CENAS DE VIOLÊNCIA EM RELAÇÕES GAYS: UMA ANÁLISE CRÍTICA
Eixo Temático
- ET 1 – CINEMA, CORPO E SEUS ATRAVESSAMENTOS ESTÉTICOS E POLÍTICOS
Resumo
- Propõe-se neste trabalho uma análise a respeito da masculinidade em relações gays nos filmes Bom Trabalho (1999), O Beijo da Mulher Aranha (1985) e Tabu (1999). A masculinidade dos personagens é tensionada entre cenas contendo brigas físicas disparadas pela homofobia internalizada e cenas de sexo. Além disso, será olhado de maneira crítica para a reprodução de estigmas acerca da homossexualidade presente em filmes que abordam essas relações através de um viés violento.
Resumo expandido
- Há na história do cinema filmes pertecentes à categoria de cinema queer que trabalham de maneira explícita a homossexualidade masculina em contextos em que há um conflito entre a necessidade de performance de masculinidade hegemônica (Connel, 2005) e o desejo sexual. Essa tensão está presente em filmes como Bom Trabalho (Beau Travail, 1999) de Claire Denis, O Beijo da Mulher Aranha (1985) de Héctor Babenco e Tabu (御法度, 1999) de Nagisa Ōshima. Em todas as obras citadas, o conflito entre performance de masculinidade hegemônica e desejo sexual desencadeia uma luta corporal entre dois homens que têm interesse romântico um no outro.
Em Bom Trabalho, o sargento Galoup e Gilles Sentain, recruta do batalhão, têm uma relação repleta de tensão sexual e abuso de poder, havendo confrontos físicos entre os dois que são disparados, aparentemente, sem causa alguma. No filme, há três cenas nas quais os personagens se enfrentam de maneira coreográfica, parecendo em alguns momentos que estão dançando, característica marcante de outras cenas da obra que também envolvem embates corporais.
No filme O Beijo da Mulher Aranha, a relação entre dois colegas de cela cresce de maneira romântica por parte de Luís Molina e, perto do final do filme, Valentin Arregui “cede” e tem uma relação sexual com Molina. Em momento anterior à relação sexual dos personagens, há uma cena de luta quando Molina fantasia sobre nazistas enquanto um dos camaradas de Arregui é torturado em uma cela ao lado. Essa briga não ocorre necessariamente pela tensão da atração sexual reprimida e talvez tal confronto só ocorra dessa maneira por Molina se apresentar e comportar-se de maneira feminina, gerando tensão na masculinidade hegemônica.
Em Tabu, Sozaburo Kano é um jovem e belo samurai que chega em um quartel buscando emprego simultaneamente a Hyozo Tashiro. O segundo se apaixona pelo primeiro e busca estabelecer com ele relações sexuais, mas o primeiro não parece ter sentimentos por ninguém, por mais que se relacione com alguns rapazes do quartel. Um dos comandantes começa a se relacionar com Sozaburo e isso passa a ser um problema para a instituição, fazendo com que seja armado um plano para que ele seja morto e, para realizar tal tarefa, Tashiro é escolhido. A cena que nos interessa em especial nesse filme é a última, que é uma longa cena em que os dois lutam com espadas, sendo Tashiro derrotado no final.
O ponto em comum nos três filmes são essas relações em situações de tensão e negação de vontades, a presença de homofobia internalizada, que é, segundo Meyer e Dean (1998), o ódio e a vergonha de si mesmo que o indivíduo sente após se entender pertencente a uma orientação sexual dissidente (no caso homossexual gay), e o conflito físico entre dois personagens que se relacionam de maneira violenta. Para além da violência física, nos três filmes existem outras violências implicadas nessas relações, como abusos sexuais. Existe uma problemática na replicação desses estigmas e em não olhar para esse tipo de representação sem um olhar crítico, porém diferente do que foi considerado por Antonio Moreno (1995), neste trabalho não se pretende classificar tais retratos enquanto “positivos” ou “negativos”, acreditando-se que a discussão precisa se dar em outra esfera.
Portanto, o objetivo da comunicação é abordar essas cenas enquanto objetos fílmicos de pesquisa e fazer a seguinte pergunta: Como se dão, no cinema, a masculinidade e as representações da masculinidade em relações gays cercadas de violência? Pretende-se buscar respostas para essa pergunta a partir dos próprios filmes, sem tentar fabricar modelos do que essas representações “devem” ou “não devem” ser.
Bibliografia
- BOM Trabalho. Direção: Claire Denis. França: La Sept-Arte, 1999. (93 min), son., color.
CONNELL, R. W. Masculinities. 2a ed. Londres: Routledge, 2005.
MEYER, I. H. & DEAN, L. Internalized homophobia, intimacy, and sexual behavior among gay and bisexual men. Thousand Oaks: Sage; 1998.
MORENO, A. A personagem homossexual no cinema brasileiro. Dissertação (Mestrado em Artes). Instituto de Artes da Unicamp. Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1995.
O BEIJO da Mulher Aranha. Direção: Hector Babenco. São Paulo: HB Filmes, 1985. (120 min), son., color.
TABU. Direção: Nagisa Ōshima. Japão: Oshima Productions, 1999. (100 min), son., color.