Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Samara Gabrielle Meneses Aragão (UFS)

Minicurrículo

    Pesquisadora com interesse nas intersecções entre o audiovisual/cinema e a literatura. Mestranda em Cinema pelo Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Cinema (PPGCINE/UFS) e Graduada em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal de Sergipe.

Ficha do Trabalho

Título

    Aproximações entre a desmarginação e o desenquadramento na série My Brilliant Friend (2018-2024).

Eixo Temático

    ET 2 – INTERMIDIALIDADES, TECNOLOGIAS E MATERIALIDADES FÍLMICAS E EPISTÊMICAS DO AUDIOVISUAL

Resumo

    O trabalho busca aproximar a desrmarginação e o desenquadramento a partir de oito episódios da adaptação seriada My Brilliant Friend (2018-2024): The Dolls (EP01T01), The Metamorphosis (EP03T01), Dissolving Boundaries (EP04T01), The New Name (EP01T02), The Body (EP02T02), Erasure (EP03T02), The Fever (EP02T03) e The Treatment (EP02T03). O diálogo é sustentado pelos estudos de Jacques Aumont (2004) sobre o quadro, bem como através dos escritos ficcionais e não ficcionais de Elena Ferrante.

Resumo expandido

    A apresentação desta comunicação é fruto da monografia “Apagar-se era uma espécie de projeto estético”: aproximações entre a desmarginação e o desenquadramento na série My Brilliant Friend (2018-2024) cujo objetivo é, como consta no título, aproximar a desmarginação e o desenquadramento. O primeiro termo está vinculado à série napolitana escrita por Elena Ferrante – A amiga genial (2015), História do novo sobrenome (2016), História de quem foge e de quem fica (2016) e História da menina perdida (2017). A narrativa é um gesto de Elena Greco (Lenuccia/Lenu) frente ao desaparecimento de Raffaella Cerullo (Lina/Lila) sem deixar vestígios.

    A desmarginação é, de acordo com o texto literário, a dissolução das margens das pessoas e das coisas. Dantas (2019) aponta que a desmarginação é o duplo narrativo da frantumaglia, haja vista que trata de dar nome àquilo que não se sabe, que foge da ordenação das palavras. A frantumaglia é um vocábulo utilizado pela mãe da autora italiana a fim de contornar um mal-estar sem causa definida. Ferrante, por outro lado, revela que não sabe o que isso significa, mas tem consigo algumas imagens capazes de delinear essa sensação, dentre elas: “(…) o efeito da noção de perda, quando temos certeza de que tudo o que nos parecia estável, duradouro, uma ancoragem para a nossa vida, logo se unirá àquela paisagem de detritos que temos a impressão de enxergar.” (FERRANTE, 2017, p. 106).

    Lenuccia atravessa o seu processo de desmarginação narrando, a partir da perda da amiga, a história de ambas desde a infância até a maturidade. Dessa forma, a primeira parte da nossa pesquisa mapeou as situações nas quais esse fenômeno aparece na obra literária e, posteriormente, se dedicou a investigá-lo na adaptação audiovisual My Brilliant Friend (2018-2024). A série televisiva criada por Saverio Costanzo conta com 34 episódios e 4 temporadas, no entanto, nosso recorte contempla oito episódios: The Dolls (EP01T01), The Metamorphosis (EP03T01), Dissolving Boundaries (EP04T01), The New Name (EP01T02), The Body (EP02T02), Erasure (EP03T02), The Fever (EP02T03) e The Treatment (EP02T03).

    A partir deles realizamos uma análise das imagens a fim de observar os artifícios estéticos pelos quais a desmarginação se apresenta na linguagem audiovisual. Depois disso, desenvolvemos uma aproximação entre o acontecimento literário e o desenquadramento baseada na discussão de Jacques Aumont sobre o quadro, a centralização e a descentralização na obra “O olho interminável” (2004). Sendo assim, questionamos, perante o exposto, quais as relações entre a perda como motor da escrita e o vazio suscitado pela imagem, como as palavras e as linhas do quadro tecem uma borda que tenta capturar o indizível e o infilmável, assim como indagamos os modos pelos quais a forma literária e a narrativa clássica tentam, cada uma ao seu modo, capturar a ausência.

    Portanto, conduzidos pela proposta de “reinvenção cinematográfica” (FERRANTE, 2017, p.26), nós escrevemos sobre as imagens que existem em livro e em série, sobre aquelas que existem no primeiro, mas não existem no segundo e vice-versa. O nosso trabalho relembra o impossível que gesta um dizer, seguimos tomados pela fantasia de uma mulher-cidade desenquadrada da imagem e da palavra que são incapazes de fazê-la durar. Nós podemos olhá-la, mas não guardá-la – movimentamo-nos diante da desmarginação.

Bibliografia

    AUMONT, Jacques. De um quadro a outro: a borda e a distância. In: O olho interminável. São Paulo: Cosac&Naify, 2004. P. 109-137.

    DANTAS, Tatianne S. Ali onde está o assombro: desmarginação e criação literária na tetralogia de Elena Ferrante. Orientadora: Simone Zanon Mochen. Porto Alegre: UFRGS, 2019. 139f. Dissertação (Mestrado em Psicanálise) – Programa de Pós-Graduação em Psicanálise: Clínica e Cultura, Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2019.

    FERRANTE, Elena. A amiga genial: infância, adolescência. São Paulo: Biblioteca Azul, 2015.

    _______________. História do novo sobrenome: juventude. São Paulo: Biblioteca Azul, 2016.

    _______________. História de quem foge e de quem fica: tempo intermédio. São Paulo: Biblioteca Azul, 2016.

    _______________. História da menina perdida: maturidade-velhice. São Paulo: Biblioteca Azul, 2017.

    _______________. Frantumaglia: os caminhos de uma escritora. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2017.