Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Pedro Henrique Alves Silva (UFF)

Minicurrículo

    Doutorando na Universidade Federal Fluminense com pesquisa sobre horror infanto-juvenil. Mestre em Comunicação e licenciado em Cinema e Audiovisual pela mesma instituição. Cocoordenador do AnimaMídia – Grupo de Pesquisa em Desenho Animado (UFF). Investiga a relação entre o horror e a infância em suas múltiplas ocorrências: produções cinematográficas, televisivas e creepypastas virtuais. Além de pesquisador, atua como roteirista, curador e coordenador educativo.

Ficha do Trabalho

Título

    A infância como território do insólito: trauma e amadurecimento em Dorm: O Espírito (2006)

Seminário

    Estudos do Insólito e do Horror no Audiovisual

Resumo

    O estudo analisa como Dorm: O Espírito (Songyos Sugmakanan, 2006) utiliza elementos do insólito para representar experiências infantis. Apoiando-se nos conceitos de liminaridade e do fantástico, a pesquisa examina como o filme tailandês posiciona crianças como agentes ativas frente ao sobrenatural, transformando o elemento fantasmagórico em memória de traumas infantis. O estudo contribui para a compreensão do horror infanto-juvenil e amplia perspectivas sobre produções não-ocidentais.

Resumo expandido

    O cinema tailandês de horror conquistou visibilidade internacional nas últimas décadas, destacando-se por suas abordagens singulares do sobrenatural e por incorporar elementos culturais e religiosos próprios em suas obras. Entre estas produções, Dorm: O Espírito (2006), dirigido por Songyos Sugmakanan, apresenta uma perspectiva instigante ao combinar horror e narrativa iniciática (Lopes, 2008), estabelecendo o fantástico como mediador privilegiado para a representação de experiências infantis.
    Esta pesquisa propõe analisar como o filme mobiliza elementos do insólito ficcional para articular questões relacionadas ao abandono, luto e memória sob a perspectiva da infância. Ao contrário de muitas produções do gênero que posicionam crianças como fontes ou vítimas do horror, Dorm as situa como agentes ativas na negociação com o sobrenatural, criando uma narrativa onde o elemento fantasmagórico funciona como memória de traumas infantis passados. O filme, ambientado em um internato tailandês, narra a história de Ton (Charlie Trairat), um garoto enviado contra sua vontade a um colégio interno tradicional. Isolado de sua família e enfrentando um ambiente hostil, o protagonista desenvolve uma amizade com Vichien (Sirachuch Chienthaworn), um misterioso colega que, posteriormente, revela-se um fantasma. A partir dessa relação, a obra entrelaça elementos sobrenaturais com questões cotidianas do amadurecimento como, por exemplo, bullying, relações de amizade e confronto com figuras de autoridade.
    A investigação será estruturada em três eixos complementares: 1) Análise dos elementos do insólito que caracterizam a narrativa, examinando como tradições fantasmagóricas tailandesas são reconfiguradas para abordar experiências infantis. Serão consideradas as manifestações visuais e sonoras do sobrenatural, assim como suas relações com a representação dos espaços físicos (piscina e dormitórios) como territórios liminares entre o ordinário e o fantástico; 2) Investigação da representação da infância como fase da vida liminar particularmente suscetível ao fantástico, analisando como a narrativa posiciona a criança como mediadora privilegiada entre mundos. Serão examinadas as manifestações da sensibilidade infantil e os mecanismos de adaptação desenvolvidos pelos personagens para lidar com o sobrenatural e com adversidades do cotidiano; e 3) Estudo da maneira como Dorm dialoga tanto com tradições do cinema tailandês de horror quanto com convenções internacionais do horror infanto-juvenil, criando uma obra híbrida distinta.
    A pesquisa se fundamenta teoricamente no conceito de liminaridade (Turner, 1974), nas reflexões de Todorov (2017) sobre o fantástico, e em pesquisas sobre o horror infanto-juvenil (Antunes, 2020; Lester, 2021). Também dialogará com estudos sobre cinema tailandês de horror (Ancuta, 2011; Gardenour, 2012) e com teorizações específicas sobre representações da infância em narrativas de horror (Lennard, 2014).
    Dorm apresenta uma narrativa onde o monstro não é meramente um recurso para provocar medo ou repulsa, mas um dispositivo para elaborar questões próprias da experiência infantil. Ao analisar como o filme articula o insólito para representar os traumas e descobertas da infância, esta pesquisa busca contribuir para a compreensão das potencialidades do horror infanto-juvenil em acessar dimensões da experiência humana que resistem à representação realista. Além de se inserir no campo emergente das análises do insólito ficcional em obras infanto-juvenis, este estudo contribui para ampliar as perspectivas dos estudos brasileiros sobre produções não-ocidentais de horror.

Bibliografia

    ANCUTA, Katarzyna. Global spectrologies: Contemporary Thai horror films and the globalization of the supernatural. Horror Studies, v. 2, n. 1, p. 131-144, 2011.
    ANTUNES, Filipa. Children Beware!: Childhood, Horror and the PG-13 Rating. McFarland & Company, 2020.
    GARDENOUR, Brenda S. Left Behind: Child Ghosts, The Dreaded Past, and Reconciliation in Rinne, Dek Hor, and El Orfanato. manycinemas, v. 3, p. 12-25, 2012.
    LENNARD, Dominic. Bad seeds and holy terrors: the child villains of horror film. SUNY Press, 2014.
    LESTER, Catherine. Horror Films for Children: Fear and Pleasure in American Cinema. Bloomsbury Academic, 2021.
    LOPES, José de Sousa Miguel. O cinema da infância. Revista Txt: Leituras Transdisciplinares de Telas e Textos, v. 4, n. 7, p. 22-35, 2008.
    TODOROV, Tzvetan. Introdução à literatura fantástica. São Paulo: Perspectiva, 2017.
    TURNER, Víctor W. O Processo Ritual: estrutura e anti-estrutura. Petrópolis: Vozes, 1974.