Ficha do Proponente
Proponente
- Marcos Alex Rodrigues do Andrade (UNESPAR)
Minicurrículo
- Marcos Alex Rodrigues do Andrade é mestrando em Cinema e Artes do Vídeo (PPG-CINEAV/Unespar) na linha de Processos de Criação e é membro do Grupo de Pesquisa Cinecriare – Cinema, criação e reflexão. Atua no mercado audiovisual desde 2010 nas áreas de pós-produção, edição e finalização. Pesquisa “Gestos que conectam ilhas”, investigando como ilhas de edição formam redes de trabalho e funcionam como arquivos vivos de processos criativos.
Ficha do Trabalho
Título
- Filmes Arquipélagos e Filmes Mosaicos: Estratégias de Montagem na Construção de Filmes Documentais
Eixo Temático
- ET 5 – ETAPAS DE CRIAÇÃO E PROCESSOS FORMATIVOS EM CINEMA E AUDIOVISUAL
Resumo
- Este trabalho investiga as diferenças conceituais e práticas entre “filmes arquipélagos”, que preservam a independência narrativa de cada personagem como “ilhas” distintas, e “filmes mosaicos”, que entrelaçam depoimentos em prol de uma narrativa integrada. Ao analisar documentários como “Na Ilha” (2020), “Um Lugar ao Sol” (2009), “The Cutting Edge” (2004) e “Edifício Master” (2002), examinamos o impacto destas escolhas de montagem nas relações entre cineastas, sujeitos filmados e espectadores.
Resumo expandido
- Partindo da Teoria de Cineastas (PENAFRIA et al., 2016, p. 10) como abordagem metodológica, esta pesquisa propõe uma investigação sobre duas visões distintas de montagem em documentários, denominadas “filmes arquipélagos” e “filmes mosaicos”, termos concebidos pelos cineastas Julia Bernstein e Vinicius Nascimento (2022) durante a produção do documentário “Na Ilha” (2020). Tais conceitos oferecem uma perspectiva valiosa para analisar como as escolhas de montagem determinam não apenas a estrutura narrativa dos filmes, mas também as relações éticas e estéticas estabelecidas com os sujeitos filmados. Em “Na Ilha”, por exemplo, a decisão de preservar a singularidade narrativa de cada montador entrevistado reflete um compromisso ético com a integridade de suas experiências profissionais, enquanto em “The Cutting Edge”, o entrelaçamento de depoimentos cria uma relação distinta, na qual as vozes individuais compõem uma narrativa coletiva sobre a história da montagem
Os filmes arquipélagos são caracterizados pela preservação da independência narrativa de cada personagem ou segmento do filme, mantendo suas falas e experiências como unidades distintas – verdadeiras “ilhas” de narrativa com contornos mais definidos. Esta abordagem evita embaralhar ou intercalar depoimentos de diferentes sujeitos, privilegiando a integridade de cada experiência individual. Em contraste, os filmes mosaicos entrelaçam diferentes depoimentos e sequências, criando conexões temáticas e formando uma narrativa mais integrada, situação em que os limites individuais tornam-se menos evidentes em prol da construção de uma imagem coletiva.
Partindo das reflexões de Sérgio Puccini Soares (2007) sobre o corte como “intervenção arbitrária do diretor”, podemos compreender que as escolhas de montagem em documentários revelam intenções específicas sobre como representar os sujeitos filmados. Quando um cineasta opta pela estrutura de arquipélago, ele limita suas intervenções arbitrárias, delegando maior independência narrativa aos personagens e convidando o espectador a estabelecer conexões por conta própria. Por outro lado, a estrutura em mosaico evidencia mais claramente as intervenções do cineasta, que assume papel ativo na criação de conexões e significados a partir dos materiais filmados.
Para ilustrar estas duas abordagens, realizaremos uma análise comparativa de quatro documentários. Os filmes “Na Ilha” (2020) dirigido e montado por Julia Bernstein e Vinícius Nascimento e “Edifício Master” (2002) dirigido por Eduardo Coutinho e montado por Jordana Berg exemplificam, em diferentes graus, a estrutura de filme arquipélago. Por outro lado, “Um Lugar ao Sol” (2009) dirigido por Gabriel Mascaro e montado por Marcelo Pedroso e “The Cutting Edge: The Magic of Movie Editing” (2004) dirigido por Wendy Apple e montado por Tim Tobin, representam a abordagem em mosaico. Esta seleção de obras nos permitirá examinar as características distintivas de cada estratégia de montagem.
É importante ressaltar que esta categorização não implica em julgamentos de valor, mas sim em reconhecer diferentes estratégias estilísticas que respondem a objetivos narrativos e éticos específicos. A escolha entre uma abordagem arquipelágica ou em mosaico reflete concepções distintas sobre como documentar experiências humanas e como estabelecer relações entre realizadores, sujeitos filmados e espectadores.
A relevância desta pesquisa para o campo dos estudos de montagem reside em oferecer ferramentas conceituais para analisar as escolhas estruturais em documentários e compreender suas implicações éticas e estéticas. Ademais, ao examinar estas estratégias de montagem, podemos refletir sobre diferentes formas de representar a realidade social e individual, contribuindo para discussões mais amplas sobre a relação entre cinema documentário e subjetividade.
Bibliografia
- BAGGIO, Eduardo Tulio. Documentário: filmes para salas de cinema com janelas. Curitiba: A Quadro, 2022. (Coleção escrever o cinema ; 5)
BERNSTEIN, Julia et al. Na ilha: Conversas sobre montagem cinematográfica. São Paulo: Paraquedas, 2022.
MELLO, Jamer Guterres de et al. Apresentação. In: MELLO, Jamer Guterres de; RODRIGUES, Carla Daniela Rabelo; CARVALHO, Marcelo; BASTOS, Thalita Cruz (org.). Teoria de Cineastas, processos de criação e reflexões teóricas. São Paulo: Gênio Editorial, 2025. p. 09-17.
PENAFRIA, Manuela et al. Ver, ouvir e ler os cineastas: Teoria dos cineastas, v. 1. COVILHÃ: Labcom, 2016.
SOARES, Sérgio José Puccini. Documentário e roteiro de cinema: da pré-produção à pós-produção. Tese (Doutorado). Universidade Estadual de Campinas, 2007.