Ficha do Proponente
Proponente
- Laura Tainá Sales Bandeira (UNIFOR)
Minicurrículo
- Graduanda em Cinema e Audiovisual pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Participou de eventos acadêmicos na mesma instituição, como o IX Encontro de Extensão Universitária e o IV Encontro de Curricularização da Extensão, apresentando o artigo “Entre Nós e Linhas: A preservação da memória através da conexão entre gerações pela arte tradicional”. Atualmente é estagiária da ALECE TV, atuando principalmente na área de edição e pós-produção audiovisual.
Ficha do Trabalho
Título
- COMO O ENQUADRAMENTO DOS CORPOS REPRESENTA O DESEJO E A CULPA EM HILDA FURACÃO (1998)?
Eixo Temático
- ET 1 – CINEMA, CORPO E SEUS ATRAVESSAMENTOS ESTÉTICOS E POLÍTICOS
Resumo
- Na presente pesquisa, analisaremos a minissérie Hilda Furacão (Glória Perez, 1998), adaptação do romance homônimo de Roberto Drummond (1991), a partir da visão psicanalítica. Pretendemos demonstrar que a obra analisada é marcada por rastros da culpa cristã e intentamos compreender como ela impacta os personagens e a dinâmica entre eles.
Resumo expandido
- A culpa é um dos pilares da construção dos valores ocidentais, fortemente influenciados pela Igreja Católica. O cristianismo atrelou a ideia de culpa ao pecado, utilizando-o como instrumento de repressão perante atitudes que transgridem suas normas, e tratando a obediência como um estado natural do ser humano, que passa a se autopunir e a reprimir seus impulsos. O filósofo alemão Friedrich Nietzsche, um dos principais da contemporaneidade e do ocidente, argumenta em seu livro Genealogia da Moral (1887) que essa ferramenta surgiu para subjugar os indivíduos, alimentando constantemente uma dívida impagável:
“O grande estratagema de que se utilizou o sacerdote ascético para fazer ressoar na alma humana toda espécie de música pungente e arrebatada consistiu — todos sabem — em aproveitar-se do sentimento de culpa. A origem deste foi tratada brevemente na dissertação anterior — enquanto parte da psicologia animal, não mais: lá deparamos com o sentimento de culpa em seu estado bruto, por assim dizer.” (NIETZSCHE, 2009, p. 109).
Michael Foucault, filósofo francês que se declarava nietzschiano por ter Nietzsche como uma de suas maiores influências, a quem ele se referia como um “instrumento de pensamento”. explicou em seu livro Vigiar e Punir (1975) que a espetacularização das punições físicas existia para suprir a falta de poder dos governantes sobre o seu povo, que começaram a enxergar os atos de execução e tortura como cruéis e dignos de piedade, o que gerou revolta. Ao perceberem a ineficácia dessa tática de controle, o foco de punição passou a não ser mais o corpo, e sim, a psique, que é um alvo muito mais suscetível. A psique, dividida entre Id, Ego e Superego, abrange a experiência mental e emocional, consciente e inconsciente; o ato de reprimir impulsos e desejos não os apaga, apenas os direciona ao inconsciente, no qual permanecem, impactando as ações, reações e interpretações dos acontecimentos de maneira sintomática. (FREUD, 1923).
No final de 2023, a minissérie Hilda Furacão (Glória Perez, 1998), adaptação do romance homônimo de Roberto Drummond (1991), tornou-se popular novamente, agora entre os usuários do TikTok em todo o mundo, inclusive entre os jovens brasileiros que ainda não haviam tido contato com a obra, como destacado no artigo de Pietra Carvalho (2023), publicado no UOL Splash; “Ela andou pra Fleabag correr: por que gringos estão amando ‘Hilda Furacão’”. A comparação entre as duas obras, levou pessoas não-falantes de português à procura de cenas legendadas da minissérie, que antecede a dramédia inglesa, após associarem e apontarem as suas semelhanças temáticas.
Em Hilda Furacão (1998), Hilda, interpretada por Ana Paula Arósio, é uma jovem da burguesia mineira, que foge no dia de seu casamento e encontra abrigo no Maravilhoso Hotel, na zona boêmia de Belo Horizonte. A morte de seu namorado, que se suicidou após ter seu pedido de casamento recusado, ainda a assombra, e ela, no fundo muito religiosa, enxerga na prostituição uma forma de pagar sua penitência. Malthus, interpretado por Rodrigo Santoro, é um jovem frei, que cresceu obcecado pela sua beatificação. Quando os homens de Belo Horizonte começam a fazer fila na porta do quarto de Hilda, ele é convocado para exorcizá-la. O encontro entre os dois o leva a muitos questionamentos, não apenas sobre si mesmo ou a sua postura, mas também sobre a sua fé, tudo que ele aprendeu ao longo de sua vida, e o que ele representa.
Este trabalho tem como objetivo investigar a influência da Igreja Católica sobre os personagens Hilda Furacão e Frei Malthus, que são levados a caminhos de repressão e culpa, ou à subversão dessas normas. Pretendemos compreender como esse poder é exercido, explorando o contexto histórico da obra, escolhas estéticas e narrativas, até obter um entendimento mais detalhado de como esse processo acontece a partir da visão psicanalítica.
Bibliografia
- AZEREDO, Vânia Dutra de. A Metodologia de Foucault no trato dos textos Nietzschianos. Scielo, 2014. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S2316-82422014000200004. Acesso em: 24 mar. 2025.
CARVALHO, Pietra. Ela andou pra Fleabag correr: por que gringos estão amando ‘Hilda Furacão’. UOL Splash, 2023. Disponível em: https://www.uol.com.br/splash/noticias/2023/11/23/fleabag-hilda-furacao-hit-tiktok.htm. Acesso em: 17 fev. 2025.
FREUD, Sigmund. O eu e o id. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
HILDA FURACÃO. Direção: Luciano Sabino, Maurício Farias e Wolf Maya. Rio de Janeiro: TV Globo, 1998.
MULVEY, Laura. Visual pleasure and narrative cinema. Screen, Oxford, v. 16, n. 3, p. 6-18, 1975.
NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da moral. São Paulo: Companhia de Bolso, 2009.
PINHO, Lúcia de Fátima Souto. Culpa e graça na perspectiva da Igreja Católica: um estudo fenomenológico. João Pessoa, 2012.