Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Adil Giovanni Lepri (UFBA)

Minicurrículo

    É professor adjunto da Faculdade de Comunicação da UFBA e possui doutorado pelo Programa de Pós Graduação em Cinema e Audiovisual da Universidade Federal Fluminense e mestrado em Comunicação pela mesma instituição. É co-coordenador do Grupo (An)arqueologias do sensível (UFBA).

Ficha do Trabalho

Título

    A distribuição de “Hoje eu quero voltar sozinho” (2014) sob a influência do curta no qual é baseado

Seminário

    Políticas, economias e culturas do cinema e do audiovisual no Brasil

Resumo

    A comunicação analisa o sucesso de público do longa “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho” (2014) e sua relação com o curta-metragem “Eu Não Quero Voltar Sozinho” (2010). Usando a teoria ator-rede, identifica quatro fatores-chave: a popularidade do curta no YouTube, a distribuição estratégica do longa, o reconhecimento em festivais e a cobertura midiática. Conclui que a trajetória online do curta, aliada à mobilização de fãs e à legitimação artística, impulsionou o desempenho do longa nos cinemas.

Resumo expandido

    A categoria que Silva (2010) chama de “filme médio” é a faixa na qual a distribuidora Vitrine Filmes fez diversos lançamentos bem-sucedidos desde 2010 (LAGE, 2023), no entanto o longa-metragem Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (Daniel Ribeiro, 2014), abreviado como HEQVS, chama atenção pela sua carreira longuíssima, alta taxa de ocupação das salas e o fato de ter alcançado a marca de 200mil espectadores, a maior para a Vitrine Filmes até aquele ano e o 5º maior público da distribuidora até hoje.
    Esta comunicação tenta compreender quais os fatores que levam o filme a alcançar estes resultados e apresenta como hipótese o fato de que ele é baseado em um curta-metragem de nome similar e enredo quase idêntico, Eu Não Quero Voltar Sozinho (Daniel Ribeiro, 2010) abreviado como ENQVS, que contou com uma circulação relevante por festivais no Brasil e no mundo e com uma carreira no YouTube na qual acumulou mais de 9 milhões de visualizações apenas na postagem oficial da produtora.
    A teoria ator-rede (LATOUR, 2021; LEMOS, 2020; VENTURINI; MUNK; JACOMY, 2018) foi a chave metodológica escolhida para dar conta da multiplicidade de fenômenos a serem estudados. São propostos quatro conjuntos de actantes que têm influência sobre a carreira do longa-metragem, são eles as: (1) a plataforma YouTube que se relaciona com a circulação do curta-metragem; (2) as instituições diretamente ligadas a distribuição do longa (plataforma Facebook como rede de divulgação e mobilização de comunidades, produtoras envolvidas na feitura do filme, distribuidora e salas de exibição); (3) as instituições de legitimação artística (festivais de cinema e crítica especializada); e (4) instituições de divulgação e notícias (jornais, revistas, blogs e portais especializados).
    Foram coletados metadados do curta-metragem tanto em sua postagem oficial quanto em alternativas por meio do uso da ferramenta YouTube Data Tools (RIEDER, 2023), entre eles uma lista de vídeos ranqueados pelo algoritmo da plataforma de acordo com a relevância para a busca das palavras “Eu não quero voltar sozinho” que retornou 401 resultados, localizando o filme dentro de uma rede mais ampla de recomendação de curtas-metragens internacionais com temática LGBT no ranqueamento algorítmico do YouTube.
    Na segunda categoria optou-se por focar atenção na distribuição do longa-metragem em salas de cinema, um dos poucos filmes da Vitrine (e em geral) que consegue crescer o público semanal nas primeiras 3 semanas, sendo a maior média de público por sala da distribuidora para uma segunda semana de exibição. Sugiro que este resultado deriva não só do reconhecimento do enredo por meio do sucesso do curta-metragem na internet, mas também da mobilização de seus fãs para levar o filme a suas cidades, situação que é incentivada pela equipe de divulgação de HEQVS na página do Facebook do longa. Sobre a quarta categoria, é relevante o fato de que todas as notícias de jornal da época que foram levantadas – com exceção de uma – mencionam o fato de o filme ser baseado em um curta de sucesso.
    Por fim cabe destacar que a terceira categoria é também fundamental para o sucesso da distribuição, já que tanto o curta quanto o longa tiveram notável carreira em festivais e o último venceu o prêmio Teddy do festival de Berlim, importante premiação para filmes de temática LGBT. A crítica especializada também é majoritariamente positiva com relação ao longa, tanto que o filme recebeu o prêmio da Federação Internacional de Críticos de Cinema, também em Berlim.
    Embora não seja possível afirmar taxativamente que a carreira do curta-metragem na internet foi o fator determinante para o sucesso de público de HEQVS, é possível dizer que este aspecto em conjunção com outras agências dentro da rede descrita, como as instâncias de legitimação e a mobilização de fãs em plataformas de redes sociais, foi fundamental para que o filme tenha se notabilizado como um sucesso de público dentro da sua faixa de distribuição média.

Bibliografia

    LAGE, Adhemar Soares. Impactos da pandemia na distribuição cinematográfica: estudo de caso das estreias de dois longas-metragens da Vitrine Filmes. 2023. Dissertação (mestrado Interdisciplinar em Cinema) – UFS, São Cristóvão, 2023.
    LATOUR, Bruno. Reagregando o social: uma introdução à teoria do ator-rede. Salvador: Edufba, 2021.
    LEMOS, André Luiz Martins. Epistemologia da Comunicação, Neomaterialismo e Cultura Digital. GALÁxIA. Revista Interdisciplinar de Comunicação e Cultura, n. 43, 2020.
    RIEDER, Bernhard. YouTube Data Tools, 2023. Disponível em: https://ytdt.digitalmethods.net/. Acesso em: 11 set. 2024.
    SILVA, Hadija Chalupe Da. O filme nas telas: a distribuição do cinema nacional. São Paulo, SP: Editora Terceiro Nome : Iniciativa Cultural : Ecofalante, 2010.
    VENTURINI, Tommaso; MUNK, Anders; JACOMY, Mathieu. Ator-rede versus Análise de Redes versus Redes Digitais: falamos das mesmas redes? Galáxia (São Paulo), p. 5–27, 2018.