Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Silvia Seles Peres (UAM)

Minicurrículo

    Silvia Seles Peres, bacharel em Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, pós-graduada em Cinema, Vídeo e Fotografia – Criação em Multimeios pela Universidade Anhembi Morumbi e em Roteiro de Ficção Audiovisual pelo Centro Universitário Senac. Mestranda do programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi, bolsista do Programa de Suporte à Pós-Graduação de Instituições de Ensino Superior – PROSUP/CAPES.

Coautor

    Marcella Ferrari Boscolo (UAM)

Ficha do Trabalho

Título

    “Os Autos das Compadecidas” – uma análise comparada dos filmes de Guel Arraes e Flávia Lacerda

Eixo Temático

    ET 2 – INTERMIDIALIDADES, TECNOLOGIAS E MATERIALIDADES FÍLMICAS E EPISTÊMICAS DO AUDIOVISUAL

Resumo

    Esta pesquisa propõe uma análise comparada dos longas O Auto da Compadecida (2000) e O Auto da Compadecida 2 (2024), com base nos conceitos de adaptação e intertextualidade de Robert Stam. O estudo investiga como as duas versões fílmicas reinterpretam elementos centrais da obra de Ariano Suassuna, como a fé, a cultura popular e a teatralidade, explorando as continuidades e transformações na transposição da obra teatral para o cinema, ao mesmo tempo em que aponta para mudanças no cinema nacional.

Resumo expandido

    A presente pesquisa tem como objetivo realizar uma análise comparada das duas adaptações inspiradas na peça teatral “O Auto da Compadecida”, realizadas pelos cineastas Guel Arraes e Flávia Lacerda.
    A análise será conduzida a partir dos conceitos de adaptação e intertextualidade propostos por Robert Stam. Para o autor, a adaptação deve ser entendida como um processo intertextual dinâmico, no qual elementos do hipotexto são reinterpretados conforme os contextos históricos e culturais da produção audiovisual (Stam, 2006).
    A investigação buscará compreender como os filmes abordam e ressignificam aspectos centrais da obra de Ariano Suassuna. Para isso, serão observadas as estratégias narrativas e estilísticas empregadas na transposição cinematográfica, considerando a adaptação como um fenômeno de recriação e ressignificação, e não de fidelidade ao original.
    A peça recebeu a primeira adaptação para o cinema por George Moura, em 1969, no filme “A Compadecida”, e ganhou uma nova releitura sob a direção de Roberto Farias com a trupe mais famosa da época, os Trapalhões, no longa “Os Trapalhões no Auto da Compadecida” (1987).
    Dirigido por Guel Arraes e com assistência de direção de Flávia Lacerda, o longa “O Auto da Compadecida” (2000) popularizou a peça de Suassuna, e chamou a atenção por levar mais de 2 milhões de espectadores ao cinema mesmo sem ter o caráter inédito da obra, uma vez que a obra é derivada da minissérie veiculada na TV Globo em 1999.
    O filme ganhou uma sequência após 24 anos, e trouxe novamente os atores Selton Mello e Matheus Nachtergaele para viver a dupla cômica de protagonistas, além de parte do elenco principal, diretor, roteiristas e equipe técnica.
    No dia 25 de dezembro de 2024, “O Auto da Compadecida 2” foi lançado em mais de 600 salas de cinema pelo Brasil, com co-direção de Guel Arraes e Flávia Lacerda, e teve ampla divulgação midiática e um orçamento de 30 milhões de reais, levando mais de 4 milhões de espectadores às salas de cinema (2025). Os números alcançados pelo filme são expressivos para o mercado brasileiro, sobretudo quando se pensa na bilheteria alcançada pelas produções nacionais após a pandemia (Ancine, 2023).
    No primeiro longa, o arco dramático é completo e possui final fechado semelhante à peça original. Já a sequência teve como desafio não se basear em uma obra direta e de continuidade escrita por Ariano Suassuna, falecido em 2014. Coube aos roteiristas Guel Arraes e João Falcão, com colaboração de Adriana Falcão e Jorge Furtado, desenvolver toda a narrativa desta sequência.
    Além do desafio narrativo, a estética naturalista do primeiro longa, filmado na cidade de Cabaceiras, contrasta com a estética utilizada na sequência, recriando a Taperoá em estúdio e com uso intenso de efeitos visuais (Site G1 Paraíba, 2024).
    Diante desse cenário, o recorte proposto pela pesquisa busca estabelecer uma análise comparada entre os longas para compreender quais foram as escolhas estéticas feitas pelos idealizadores para a criação das duas obras, sobretudo nos aspectos relacionados ao desenvolvimento do roteiro e a construção visual dos filmes, levando em consideração os contextos mercadológicos e os recursos tecnológicos audiovisuais disponíveis para a produção das duas obras, separadas por um hiato de mais de duas décadas.
    Em fase inicial, a pesquisa fará extensa revisão bibliográfica e levantamento do conteúdo noticioso acerca da recepção da crítica e do público, e também realizará entrevistas com os profissionais diretamente envolvidos na criação dos dois projetos.
    Assim, o estudo comparativo entre O Auto da Compadecida (2000) e O Auto da Compadecida 2 (2024) contribui para uma compreensão mais profunda do processo de adaptação no cinema, oferecendo uma análise crítica sobre como as obras podem se transformar ao longo do tempo, sem perder a conexão com suas raízes culturais e com o imaginário coletivo de seu público.

Bibliografia

    A COMPADECIDA. Direção: George Jonas. Produção de Norcine Indústria Cinematográfica. Brasil: Alpha Filmes, 1969. DVD.
    ANCINE, Anuário Estatístico do Audiovisual Brasileiro 2023. 2 ago. 2024. Disponível em:
    https://www.gov.br/ancine/pt-br/oca/publicacoes/arquivos.pdf/anuario-estatistico-2023.pdf. Acesso em: 3 mar. 2025.
    O AUTO DA COMPADECIDA. Direção: Guel Arraes. Produção de Globo Filmes. Brasil: Columbia TriStar Home Video, 1999-2000.
    O AUTO DA COMPADECIDA 2. Direção: Guel Arraes e Flávia Lacerda. Produção: Conspiração e H2O Filmes. Brasil: 2024.
    OS TRAPALHÕES no Auto da compadecida. Direção: Roberto Farias. Europa Filmes, 1987. DVD.
    STAM, Robert. Teoria e prática da adaptação: da fidelidade à intertextualidade. Ilha do Desterro, Florianópolis, n. 51, p. 19-53, jul./dez. 2006. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/desterro/article/view/2175-8026.2006n51p19. Acesso em: 5 mar. 2025.
    SUASSUNA, Ariano. Auto da Compadecida, 39ª edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2018.