Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Barbara Barreto Marcel da Fonseca (Bauhaus / UFRJ-PPGAV)

Minicurrículo

    Barbara Marcel é artista visual, documentarista e pesquisadora, doutoranda em Artes e Design na Bauhaus-Universität Weimar e mestra em Arte em contexto de Produção de Imagens Relacionadas a Mídia e Ciência (Institut Künst im Kontext, 2015) pela Universität der Künste Berlin. Atualmente pesquisa as intersecções entre o campo da arte e ciência a partir de investigações práticas e teóricas voltadas à produção artística com foco em temas como justiça socioambiental e pensamento decolonial.

Ficha do Trabalho

Título

    Arte, Ciência e a Reimaginação da Amazônia: Cine Cipó na torre ATTO

Seminário

    Estudos Comparados de Cinema

Resumo

    O trabalho analisa a interseção entre arte, ciência e ecologia decolonial por meio do projeto “Ciné-Cipó na Torre ATTO” (2019-21), que promoveu um diálogo entre cientistas da torre ATTO e comunidades locais, mediado por radialistas da Resex do Tapajós-Arapiuns. O projeto mobilizou o poder do afeto para criar imagens radicais e desafiar hierarquias de conhecimentos. A fala compara os dois formatos finais do projeto, examinando a transformação da vídeo-instalação no documentário “Suraras” (2024).

Resumo expandido

    Este trabalho propõe investigar a interseção entre pesquisa artística, ecologia decolonial e imaginários pós-extrativistas por meio da análise do projeto “Ciné-Cipó na Torre ATTO” (2019–2021), uma vídeo instalação de quatro canais criada para a exposição “Critical Zones: Observatories for Earthly Politics” (2020–2021), curada por Bruno Latour – entre outros- no Centro de Arte e Mídia em Karlsruhe, na Alemanha. O projeto foi comissionado pelo Instituto Max-Planck de Biogeoquímica, com apoio do Instituto Serrapilheira e do INPA no Brasil. A vídeo instalação promoveu um diálogo inédito entre cientistas ligados ao Observatório da Torre Alta da Amazônia (ATTO) e comunidades locais, mediado por duas comunicadoras populares de uma rádio comunitária em Vila de Boim, na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns.

    Transformando temporariamente a mais alta estrutura de monitoramento climático da América Latina em uma estação de rádio comunitária, o projeto amplificou vozes locais, indígenas e ribeirinhas, criando tanto alianças quanto fricções (Anna Tsing) entre diferentes formas de conhecimento e visões de mundo. A metodologia do projeto foi pautada na escuta ativa (Silvia Cusicanqui) e na valorização do conhecimento situado (Donna Haraway), reconhecendo a resistência e o saber coletivo como formas de construção política (Verónica Gago).

    A análise parte da provocação de Ailton Krenak sobre a necessidade de “desaprender” narrativas dominantes sobre a Amazônia e argumenta que projetos artísticos como “Ciné-Cipó na Torre ATTO” (2019-21) mobilizam o poder do afeto para criar imagens radicais (Marie-José Mondzain) e redistribuir o sensível (Jacques Rancière), desafiando hierarquias de conhecimento e imaginários coloniais (Enrique Dussel). A apresentação refletirá sobre os desafios e potencialidades da co-produção de conhecimento decolonial por meio da arte, comunicação comunitária e colaboração científica.

    Além da vídeo instalação, o trabalho examinará o documentário “Suraras” (2024), produzido a partir do mesmo material bruto filmado para o projeto instalativo e concebido posteriormente como um rivermovie para projeções imersivas em salas de cinema e público mais amplo. A fala propõem comparar os dois formatos finais do projeto, examinando a transformação da vídeo instalação de 4 canais, realizada para a exposição “Zonas Críticas” (2020-21), no documentário “Suraras” (2024), que teve sua estreia na mostra Territórios, competitiva de longa metragens do 18 CineBH – Festival Internacional de Cinema de Belo Horizonte em 2024. Enquanto a vídeo instalação apostava em uma estética próxima ao cinéma vérité (Bill Nichols), criando uma ilusão de transparência (Ismail Xavier), o documentário recorre a estratégias meta documentais de anti ilusionismo (Silvio Da-Rin) e autorreflexividade (Trinh T. Minh-ha), transformando as tensões e fricções em linguagem.

    Em sintonia com o tema da Socine 2025 – “Do extrativismo de imagens ao cinema amazônico” – a proposta argumenta que projetos como Ciné-Cipó na Torre ATTO constroem imagens pós-extrativistas (Maristella Svampa) e perspectivas pluriversais (Marisol de la Cadena), imaginando futuros mais justos e compartilhados (Bruno Latour). A proposta dialoga diretamente com os Estudos Comparados de Cinema ao examinar, por meio de uma abordagem metodológica situada, as relações entre formatos audiovisuais (instalação e documentário), tradições cinematográficas (cinema observacional, terceiro cinema, metacinema), e epistemologias diversas (científica, comunitária, decolonial), produzindo uma reflexão comparativa sobre estética, política e modos de conhecimento no cinema documental contemporâneo.

Bibliografia

    CUSICANQUI, Silvia. Ch’ixinakax utxiwa. South Atlantic Quarterly, vol. 111, nº 1, 2012.
    DUSSEL, Enrique. Filosofia da Libertação. Wipf and Stock, 2003.
    GAGO, Verónica. A Potência Feminista. Tinta Limón, 2019.
    HARAWAY, Donna. Saberes Situados. Feminist Studies, vol. 14, nº 3, 1988.
    KRENAK, Ailton. Ideias para Adiar o Fim do Mundo. House of Anansi Press, 2020.
    LATOUR, Bruno. Onde Aterrar? Polity Press, 2018.
    MONDZAIN, Marie-José. Confiscation. Les Liens Qui Libèrent, 2021.
    NICHOLS, B. Introdução ao Documentário. Indiana University Press, 2001.
    RANCIÈRE, Jacques. A Partilha do Sensível. Bloomsbury, 2004.
    SVAMPA, Maristella. Neoextrativismo na América Latina. Cambridge University Press, 2019.
    TSING, Anna. Fricção. Princeton University Press, 2005.