Ficha do Proponente
Proponente
- Isabel Veiga (PUC-Rio)
Minicurrículo
- Professora do Departamento de Comunicação da PUC-Rio. Mestre em Comunicação e Cultura, pela Linha de Pesquisa Tecnologias da Comunicação e Estéticas (PPGCOM/UFRJ). Graduada em Cinema pela UFF. Educadora, realizadora e pesquisadora de projetos em audiovisual. Curadora de mostras e festivais de cinema.
Ficha do Trabalho
Título
- Orí: quando quilombo encontra a festa
Seminário
- Cinemas, Comunidades, Territórios: interpelações aos gestos analíticos
Resumo
- Orí (1989, 92min), dirigido por Raquel Gerber, nos apresenta uma costura única de personagens e espaços da história brasileira recente. Através da narração da historiadora Beatriz Nascimento, que retoma o conceito de quilombo na atualidade, o filme coloca as festividades populares afrodiaspóricas como ativas na luta política. Nosso intuito, portanto, é analisar como esta obra nos convoca a refletir sobre as festas populares e seu papel na construção de elos de pertencimento e comunitários.
Resumo expandido
- Realizado por Raquel Gerber ao longo de dez anos entre Brasil e África, e na aproximação com o pensamento de Beatriz Nascimento, Orí (1989, 92min) nos convoca a refletir sobre o passado colonial escravista e a formação cultural brasileira. Disparador conceitual, sendo referenciado e retomado ao longo de todo o filme pela narração em voz over de Beatriz, o termo quilombo é utilizado tanto para afirmar a busca das origens raciais afrodiaspóricas como para evidenciar a reconstrução de modos de vida por grupos historicamente marginalizados.
Através de uma montagem dinâmica que conecta imagens de África, bailes black, encontros do movimento negro, ensaios e desfiles de carnaval, arquivos históricos, paisagens naturais, rituais em terreiros, história biográfica de Beatriz Nascimento, entrevistas com pessoas atuantes nesses espaços, o filme aproxima diferentes tempos, territórios e corpos, produzindo uma relação de continuidade entre esses elementos, mas ao mesmo tempo evidenciando sua fragmentação. Religar assumindo a descontinuidade é a premissa dialética presente tanto na fala de Beatriz como na montagem da obra.
Nesse gesto de aproximação entre diferentes elementos, há algo fundamental que nos interessa aqui, e que diz respeito ao entendimento das festas populares enquanto espaços de organização política. Se, historicamente, tanto a religião como a festividade popular foram colocados em campos opostos da luta política, em Orí essas manifestações são tomadas como quilombos contemporâneos. Isto é, espaços que engendram formas de organização social e de defesa, que manejam saberes, técnicas e práticas ancestrais ligados à herança afrodiaspórica.
A presente comunicação faz parte de uma pesquisa em andamento que procura mapear a presença de festas populares em obras documentais, híbridas e ficcionais nacionais, investigando como as escolhas estéticas e narrativas concernente às festas se relacionam com o território, o sagrado, a comunidade e as reivindicações políticas. Essa pesquisa encontra sua gênese no filme Orí.
A montagem criativa e conectiva de Orí é o que primeiro percebemos como ferramenta de ligação entre as festas, o sagrado e o político, através da justaposição de eventos dessa natureza com a voz over de Beatriz na banda sonora. Algumas questões nos guiam para seguir no desenvolvimento desta análise : Como se dá a ordenação desses elementos pela montagem? Uma outra pista para entendermos a abordagem das festas se dá pelas entrevistas, todas realizadas in loco. Qual o efeito disso? Nas cenas dos bailes blacks, terreiros e escolas de samba, como os corpos são retratados? Como a corporalidade faz aparecer a relação de pertencimento?
Bibliografia
- BRASIL, André. “Tempo é o vento, vento é o tempo”: montagem cósmica em Abá. In: Catálogo forumdoc.bh.2018. Belo Horizonte: Associação Filmes de Quintal, 2018. p. 150.
GONZALEZ, Lélia. Festas populares no Brasil. São Paulo: Boitempo, 2024.
SILVA, Vagner Gonçalves da e MANN, Gustavo, “A terra é circular”: cosmologias afro-atlânticas e ação
política no filme Ôrí. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 29, n. 67, e670403, set./dez. 2023
SIMAS, Luiz Antonio. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2021