Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Marina Cavalcanti Tedesco (UFF)

Minicurrículo

    Professora do Departamento de Cinema e Vídeo e do Programa de Pós-graduação em Cinema e Audiovisual da Universidade Federal Fluminense. Seus principais temas de pesquisa são mulheres no audiovisual latino-americano e direção de fotografia. Nos últimos anos, tem desenvolvido o projeto “Fotografia como diferencial competitivo em telenovelas brasileiras: transformações nas produções da Rede Globo no século XXI”, pelo qual é bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq – Nível 2.

Ficha do Trabalho

Título

    “Garota do Momento”: imagens de arquivo e direção de fotografia

Mesa

    Telenovela e Contemporaneidade: História, Estética, Identidade.

Resumo

    “Garota do Momento” (2024-2025) é uma telenovela da Rede Globo. Sua história transcorre no passado, como muitas de sua faixa horária, a “das seis”. Para recriar o final dos anos 1950, a emissora se valeu das direções de fotografia e de arte e de imagens de arquivo – estas últimas de forma bem mais intensa que em outras produções do tipo. Na presente comunicação, refletiremos sobre diferentes relações visuais nesta telenovela entre imagens de arquivo e material captado durante a sua realização.

Resumo expandido

    Muitas das chamadas “novelas das seis” da TV Globo se passam em algum momento histórico anterior aos dias de hoje. Na categoria “novela de época” do Globoplay, serviço de streaming do grupo ao qual a emissora pertence, encontramos 15 produções assim classificadas. 10 delas tiveram sua primeira veiculação em tal faixa horária.
    Com a atual “novela das seis”, “Garota do Momento” (criada e escrita por Alessandra Poggi, direção geral de Jeferson De e direção artística de Natalia Grimberg, 2024-2025), não é diferente. No final da década de 1950, Beatriz é uma professora de crianças em um orfanato em Petrópolis, interior do Rio de Janeiro. Ao ver uma fotografia de sua mãe desaparecida na coluna social de uma revista, decide ir para a capital em busca da mulher que supostamente a abandonou (mas que, na verdade, sofre de um longo processo de perda de memória). O reencontro com a mãe não dá certo inicialmente. Mas Beatriz se torna a primeira mulher negra a conquistar uma série de espaços na mídia, até converter-se na “garota do momento”.
    A escolha pela segunda metade dos anos 1950, segundo a criadora Poggi, deu-se pela “positividade que vibrava no país. ‘Era realmente um ano em que dava tudo certo. Tinha um sonho no Brasil. A copa, a bossa-nova, Brasília. Então, para gente, esse sonho continuou. Acho que esse horário das seis fala muito sobre essa coisa do público sonhar e sonhar muito. Por isso usamos a conexão de fábula de esperança’” (Ferreira, 2024).
    Para auxiliar os espectadores a sonharem e “se transportarem” para o passado, “Garota do Momento” se vale de diferentes recursos: a “presença” de personagens reconhecíveis (por exemplo Elza Soares, que protagoniza um comercial de produto de limpeza); a referência a Rio, Zona Norte (Nelson Pereira dos Santos, 1957) e ao Cinema Novo, os quais levam o mocinho da trama a querer fazer cinema; e imagens de arquivo.
    Em um mesmo capítulo, o 115º, é possível verificar que diferentes relações visuais são estabelecidas nessa telenovela entre as imagens de arquivo e o material captado em estúdio, no presente. Por um lado, encontra-se seu uso mais comum: inserções rápidas apenas para fazer transições. É o caso dos planos de bondes passando logo depois da abertura. Após uma imagem colorida, porém granulada e já anoitecendo, de um bonde passando, dois planos de bondes em dias de sol, bem expostos e com granulações muito discretas, antecedem uma sequência diurna que transcorre no interior da casa de Anita, Edu e Guto. A iluminação emula o sol entrando por uma janela, as imagens não têm ruído e as relações de contraste e a saturação das cores são semelhantes às do segundo e terceiro planos de arquivo recém mencionados. Ainda é possível perceber a mescla de temporalidades, mas há uma mimetização do passado pelo contemporâneo.
    Por outro lado, está o bloco que mostra diferentes núcleos reunidos em volta do rádio para acompanhar a final da Copa do Mundo de 1958. O Brasil também vence a Suécia na ficção, e a comemoração alterna o elenco de “Garota do Momento”, em cores, com imagens de arquivo das comemorações à época, em preto e branco. Há elementos em comum: a chuva de papel picado, que se transforma em confete na encenação, e a camiseta que o personagem Ulisses veste, bastante parecida com a de um torcedor anônimo da década de 1950. Contudo, a discrepância visual é enorme, cabendo à canção “A Taça do Mundo é Nossa” construir unidade.
    Entre câmeras, equipamentos de pós-produção e recursos humanos, a TV Globo tem uma estrutura de produção capaz tanto de produzir imagens muito semelhantes às de diferentes momentos históricos quanto de se diferenciar totalmente delas. É considerando isso – tratar-se de opções estéticas – que refletiremos sobre diferentes relações visuais entre imagens de arquivo e material captado em estúdio em “Garota do Momento”.

Bibliografia

    BARON, Jaimie. O Efeito Arquivo: Imagens de Arquivo como uma Experiência de Recepção. Lumina, v. 14, n. 2, p. 134–157, 2020. Disponível em: https://periodicos.ufjf.br/index.php/lumina/article/view/31518. Acesso em: 26 mar. 2025.
    FERREIRA, Caroline. “Garota do Momento”: saiba por que autora ambientou trama na década de 1950. CNN Brasil, São Paulo, 25 de outubro de 2024. Pop. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/entretenimento/garota-do-momento-saiba-por-que-autora-ambientou-trama-na-decada-de-1950/#goog_rewarded. Acesso em: 21 mar. 2025.
    KORNIS, Mônica. Cinema, história e televisão. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.
    LOPES, Maria Immacolata Vassallo de. O Que Está Acontecendo Com As Narrativas Na Ficção Televisiva Ibero-Americana?. Santiago: Ediciones Universidad Católica de Chile, 2024.
    SILVA, Marcel Vieira Barreto; FONTENELE, Melissa M. Entre realidade e ficção: a voz over e as imagens de arquivo em Narcos. Revista Fronteiras – estudos midiáticos, v. 19, n. 1. p. 62-71, 2017.