Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    MARIA IASMIN DA COSTA SOARES (UFPB)

Minicurrículo

    Jornalista formada pela UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA em 2022, realizadora audiovisual e pesquisadora. Mulher indígena do povo Karirí da Paraíba, pesquisadora de cinema de mulheres indígenas e espiritualidade.

Coautor

    Flávia Affonso Mayer (UFPB)

Ficha do Trabalho

Título

    AFLUÊCIAS: processo criativo e de autodescoberta espiritual na realização de um documentário

Eixo Temático

    ET 1 – CINEMA, CORPO E SEUS ATRAVESSAMENTOS ESTÉTICOS E POLÍTICOS

Resumo

    O presente trabalho analisa a obra documental Afluências, com o objetivo de investigar a espiritualidade como parte central no modo de fazer cinema indígena de mulheres. Para tanto, adotamos como metodologia entrevistas, pesquisa documental, análise fílmica e autoetnografia – já que uma das autoras deste trabalho é roteirista, diretora e produtora indígena. Como resultado, foram encontrados marcadores de identidade espiritual da diretora enquanto mulher indígena.

Resumo expandido

    Entender o processo de criação de uma obra documental indígena levando em consideração a identidade e a espiritualidade como parte do processo criativo é o objetivo principal deste trabalho. Para tanto, analisamos como a espiritualidade guiou os processos de criação por meio de investigação de anotações da realizadora, roteiros e outros documentos que foram utilizados nesse processo. Para embasar essa análise, utilizamos o conceito de crítica genética (Salles, 2008), cujo objetivo principal é compreender o processo de criação artística através das pistas (documentos, manuscritos, rascunhos) deixadas pelos artistas. Também vamos utilizar teorias decoloniais de autoras como Bell Hooks (2019) e Eliane Potiguara (2019),  traçando um diálogo entre arte e espiritualidade com Kopenawa (2015). O documentário Afluências é um  projeto da realizadora Iasmin Soares e traz como tema principal a afetividade e sexualidade de mulheres indígenas. Além de questões que envolvem a intimidade da própria autora, o filme conta com a participação de outras três mulheres indígenas: Maria Lindinalva, Maria Bárbara e Maria Helena. Ademais, traz textos poéticos autorais em forma de locuções feitas pela realizadora. 

    No processo criativo, a metodologia utilizada para criação dos textos do documentário foi a escrita à mão, num caderno de anotações. De acordo com  a realizadora, as palavras iam saindo e sendo escritas com uma veracidade guiada pelo espiritual, na tentativa de “desentalar” um grito que estava ali guardado, passando de gerações para gerações. Isso porque, as vidas das entrevistadas e da própria realizadora (autoetnografia) foram afetadas pela colonialidade do poder, sobretudo porque o gênero não era uma categoria que nos dividia enquanto povos originários. Além da escrita dos textos, a realizadora também destaca o deciframento de sonhos, experiências intuitivas de informações que lhes eram “sopradas no ouvido”, além de um próprio tempo espiritual para organizar o processo de criação de Afluências.

    Ainda que não seja um meio “convencional” de criação, e sem desconsiderar que a amostra é bastante reduzida para se fazer qualquer tipo de afirmação categórica enquanto generalização referente a um grupo, o presente trabalho aborda de maneira exploratória uma dimensão importante no processo criativo de realizadoras indígenas: a espiritualidade. Trazer para a academia este debate, no âmbito das indústrias criativas é propiciar outras possibilidades às da crítica genética. Além disso, reforça a importância da produção fílmica e acadêmica serem realizadas em primeira pessoa, no caso, por uma representante de comunidades Karirí e Tabajara da Paraíba, de forma que suas narrativas e processos sejam contados a partir de suas próprias experiências e modos de fazer. 

Bibliografia

    HOLLANDA, Heloisa Buarque de (Org.). Pensamentos feministas hoje: perspectivas decoloniais. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2020. 

    HOOKS, Bell. Olhares negros: raça e representação. Tradução de Stephanie Borges. São Paulo: Elefante, 2019. 

    KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A Queda do Céu: Palavras de um Xamã Yanomami. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

    POTIGUARA, Eliane. Metade cara, metade máscara. Rio de Janeiro: Grumin, 2019.

    SALLES, Cecília Almeida. Crítica Genética: Fundamentos dos estudos genéticos sobre o processo de criação artística. Sao Paulo: EDUC, 2008.

    SANTOS, Silvio Matheus Alves. O método da autoetnografia na pesquisa sociológica: atores, perspectivas e desafios. 1Plural – Revista de Ciências Sociais, vol. 24, núm. 1, 2017, Janeiro-Junho, pp. 214-241 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.