Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Julia Gonçalves Declié Fagioli (UFJF / PUC-MG)

Minicurrículo

    Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da UFMG. Mestre pela mesma instituição. Atua como professora colaboradora no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFJF e professora temporária no curso de Cinema e Audiovisual da PUC Minas. Atuou como professora substituta no curso de Comunicação Social da UFMG nos anos de 2012 e 2013 e, novamente, em 2019. Realizou estágio pós-doutoral no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFJF entre 2019 e 2023.

Ficha do Trabalho

Título

    As imagens do acervo do MIS-BH: o que um arquivo pode dizer de um território?

Seminário

    Cinemas, Comunidades, Territórios: interpelações aos gestos analíticos

Resumo

    Quando pensamos na história de uma grande cidade como Belo Horizonte, os pontos de vista podem ser muito diversos. Nesta comunicação propomos relatar e discutir os percursos imagéticos e pedagógicos trilhados durante oficina “Documentário e memória: preservação e reutilização de imagens de arquivo”, destinada a professores de escolas públicas da Região Metropolitana de Belo Horizonte. O curso teve como principal referência o acervo do Museu da Imagem e do Som.

Resumo expandido

    Quando pensamos na história de uma grande cidade como Belo Horizonte, os pontos de vista podem ser muito diversos. No texto “Amansar o giz”, Célia Xakriabá diz que assim como a cerâmica ou o barro para os Xakriabá, os objetos podem carregar uma subjetividade. É como se a materialidade da cerâmica ganhasse uma imaterialidade. Esta relação pode ser estabelecida de outro modo ao pensarmos as imagens e os acervos de filmes. A materialidade das imagens – papeis fotográficos, rolos de filmes, fitas VHS – ganham uma certa imaterialidade por seu valor simbólico e memorialístico. Para Célia Xakrabá, cada objeto carrega em si algo de um território. A partir daí, perguntamos: um acervo de imagens de uma cidade guarda algo dela, do significado do seu território?
    As imagens de arquivo produzem um testemunho dos acontecimentos filmados. No momento em que se produz uma imagem, não é possível apreender completamente aquilo que ela representa, apenas após a passagem do tempo é possível lançar a elas novos olhares, à luz do presente. No entanto, não dizem respeito somente ao passado, possibilitam compreender melhor o presente.
    Com base nesses pressupostos, iniciamos este percurso, a partir da experiência da oficina “Documentário e memória: preservação e reutilização de imagens de arquivo”, destinada a professores de escolas públicas da Região Metropolitana de Belo Horizonte. O tema do curso foi a preservação e reutilização de imagens de arquivo no documentário, tendo como principal referência o acervo do Museu da Imagem e do Som de Belo Horizonte. O Museu possui mais de 45 mil filmes em diversos suportes, tais como películas, fitas VHS, DVDs e arquivos digitais e aproximadamente 40 mil fotografias. Tal acervo é pouco conhecido e pouco acessado e a oficina buscou estender o acesso a ele a um público que convive majoritariamente na periferia da cidade.
    O mergulho nos arquivos da cidade, nos levou a pensar a relação entre as imagens e um território, a partir das possibilidades que os acervos oficiais podem oferecer. Buscávamos, num primeiro momento, a história de Belo Horizonte, não aquela, linear, dos livros de história, mas a história das imagens de Belo Horizonte ou, mais precisamente, uma história, dentre muitas possíveis.
    Nesta comunicação propomos relatar e discutir os percursos imagéticos e pedagógicos trilhados durante a oficina, desde as imagens da fundação de Belo Horizonte, ainda Curral Del Rey, organizadas em uma coleção da Comissão Construtora da cidade, que nos mostram a Serra do Curral e a Rua Sabará. Chegamos a um registro da sede do Museu Histórico Abílio Barreto de 1942, a única edificação resistente do período anterior à 1897, a antiga Sede da Fazenda do Leitão. A referência retorna em Era uma vez um Leitão, cinejornal que registra as enchentes na Av. Prudente de Morais, antigo córrego. Assim, percebemos o território se transformar e no exercício de ver juntos as imagens, com professores e estudantes, construímos uma rede de percepções e histórias da maneira como os sujeitos são atravessados pela cidade, suas características, seus espaços e seus problemas.
    Num segundo momento da análise e do percurso, questionamos de qual história um acervo dá conta? Quais histórias ficam de fora? Há um fora de campo do acervo, algo que percebemos, por exemplo, ao contrapor um cinejornal de festas populares realizado pelo Departamento de Turismo entre 1963 e 1965, e o filme Salve Maria (Júnia Torres e Cida Reis, 2006). No primeiro, ao caracterizar o Congado o narrador diz se tratar de danças exóticas e músicas frenéticas. Já no segundo, diante da percepção das ausências de uma certa história oficial contemplada num acervo, as duas realizadoras recuperam a memória da religiosidade afro-brasileira em Belo Horizonte, ao mapear e documentar a as festividades das Irmandades do Rosário. Tal comparação evidencia a importância de uma multiplicidade de perspectivas para se construir a memória e a história de um território, com imagens.

Bibliografia

    DERRIDA, Jacques. Mal de arquivo: uma impressão freudiana. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001.
    GUZMÁN, Patrício. As imagens perdidas. In: ______. Filmar o que não se vê: um modo de fazer documentários. São Paulo: Edições São Paulo, 2017.
    LEANDRO, Anita. Os acervos da ditadura na mesa de montagem In: LOGOS 45 Vol.23, Nº 02, 2º semestre 2016.
    LINDEPERG, Sylvie. Imagens de arquivos: imbricamento de olhares. Entrevista concedida a Jean-Louis Comolli. In: Catálogo Forum.doc. Belo Horizonte: Filmes de quintal, 2010.
    LISSOVSKY, Maurício. Quatro + uma dimensões do arquivo. In: MATTAR, Eliana. (Org.). Acesso à informação e política de arquivos. Rio de Janeiro, 2004, p. 47-63.
    MORETTIN, Eduardo. Acervos fílmicos, imagem-documento e cinema de arquivo: cruzamentos históricos. In: BRANDÃO, Alessandra; LIRA, Ramayana. A sobrevivência das imagens. Campinas: Papirus, 2015.
    XAKRIABÁ, Célia. Amansar o giz. PISEAGRAMA, Belo Horizonte, n. 14, p. 110-117, jul. 2020.