Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Elena Monteiro Welper (MAST)

Minicurrículo

    Elena Welper é mestre e doutora em antropologia social (Museu Nacional/ UFRJ). Realizou pesquisas na área da etnologia indígena, atuando nos campos da etnografia amazônica, da etnologia alemã, do indigenismo e da história da antropologia. Desde 2022 desenvolve pesquisa sobre documentários alemães produzidos na Amazônia durante a República de Weimar.

Ficha do Trabalho

Título

    Uma sinfonia para o “inferno verde”: imagens da Amazônia nos anos 30

Mesa

    Amazonas: filmes culturais e o extrativismo visual alemão

Resumo

    No conjunto dos filmes culturais alemães produzidos na Amazônia nos anos da República de Weimar, o título Urwald Symphonie /Die grüne Hölle (1931) destaca-se por ter sido uma produção independente e ter sua direção creditada a uma mulher: Pola Bauer Adamara (1898-1981). Partindo de uma pesquisa histórica sobre a produção e divulgação desta obra, esta apresentação abordará as particularidades da autoria de Pola, seu repertório imagético e sua retórica ambiental.

Resumo expandido

    Em março de 1931 o filme Urwald Symphonie /Die grüne Hölle [Sinfonia da Floresta/ O Inferno Verde] (73 min.) foi lançado em Berlim. Apresentado como registro da expedição do cinegrafista alemão August Brückner (1891-1929) ao rio Amazonas, o filme tem a direção creditada a sua esposa, Pola Bauer-Adamara (1898-1981), pseudônimo de Paula Brückner (Welper 2025).
    Na historiografia do cinema amazônico Pola Bauer Adamara poderia constar como pioneira do filme documentário, tendo em vista que antecedeu todos outros os nomes conhecidos no Brasil (Charlote Rosenbaum, Aloha Wanderwell, Dina Dreifus, Doralice Avelar). Seu caso, porém, exige algumas considerações particulares, tendo em vista que Pola assumiu a “direção” da obra apenas em decorrência da morte do marido, e que não foi possível identificar as cenas que teriam sido feitas sob sua direção. Todavia, apesar dos dados reunidos pela pesquisa apontarem para uma pouca gerência de Pola sobre o repertório imagético apresentado no filme, uma análise comparativa de suas diferentes versões: Urwald Symphonie/ Die Grüne Hölle (1931, 73 min.); Symphonie da la foret vierge (1931, 59 min.); Die Grüne Hölle (1933/34, 45 min), sugere que sua agência (e o eventual olhar feminino) estejam inscritos no formato sinfônico da obra inicial, uma característica que remete a um subgênero do cinema experimental (Sinfonias Urbanas) que procurava registrar a vida urbana em um formato cine poético.
    Ao som de uma sinfonia composta por Hans Erdmann, autor da trilha sonora que acompanhou a primeira exibição de Nosteratu, Sinfonia da Noite (1922), Pola pretendeu trazer ao seu filme cultural “um olhar sobre a maravilhosa comunidade de vida deste fenômeno natural que chamamos de floresta primitiva” (Brückner, 1939, p.10). Sua audiência, porém, apesar de reconhecer o “valor científico e artístico” da obra, acabou mais impactada pelo aspecto aterrorizante e “repulsivo” da floresta tropical (Cinémagazine 1931, p.78), o que nos leva a pensar na (im)possibilidade que Pola teve para construir um olhar cinematográfico próprio a partir de imagens feitas por outros.
    Para além das questões que orbitam sobre o tema de gênero, esta pesquisa também lança luz sobre o acervo imagético produzido pelos filmes culturais amazônico, somando-se assim a estudos sobre as imagens cinematográficas da amazônia (Soranz 2009), e nos convida a revisitá-lo criticamente, examinando não apenas seus fotogramas mas também as imagens e textos oferecidos pelos resultados literários de suas expedições cinematográficas (livros e artigos de jornais).
    Entendendo os filmes culturais (Kulturfilme) como um subgênero do filme documental popularizado na Alemanha pela Universum-Film AG (Ufa) nos anos 1920 dentro de uma proposta manifestamente educativa (Bruch 2018), e considerando o caráter transnacional das produções amazônicas (Fuhrmann 2010) esta pesquisa busca alcançar uma compreensão mais profunda da retórica visual desses projetos multimidiáticos, e da relação dos filmes culturais com as frentes de exploração econômica e científica da Amazônia.

Bibliografia

    Bruch, Anne. Educational Cinema in the Weimar Republic. Educació i Història: Revista d’Història de l’Educació, Núm. 31, 2018, pp. 113-124.
    Brückner, Pola. Eine Frau ging in den Urwald. Schicksal einer Amazonas-Expedition. Ernst Steiniger Verlag, Berlin. 1939.
    Fuhrmann, Wolfgang . Deutsche Kultur- und Spielfilme im Brasilien der 1930er Jahre. Eine transnationale Perspektive. In: Schenk, Irmbert; Tröhler, Margrit; Zimmermann, Yvonne. Marburg, DE: Schüren Verlag, 2010, pp. 399-418.
    La Symphonie De La Forêt Vierge. Réalisée Par L’explorateur Aug. Bruckner” In:. Cinémagazine 1931, n°-12, p. 78 [12/1931].
    Welper, Elena. Pioneira por acaso: Pola Bauer Adamara e o Kulturfilm amazônico. In: Daniela Rothfuss. (Org.). Esperança e Saudade: História das mulheres imigrantes de língua alemã no Brasil. 1 ed.São Paulo: Instituto Martius-Staden, 2024, v. , p. 185-209.