Ficha do Proponente
Proponente
- Patricia Furtado Mendes Machado (PUC-Rio)
Minicurrículo
- Patrícia Machado é pesquisadora, professora e coordenadora do PPGCOM da PUC-Rio, Jovem Cientista do Nosso Estado FAPERJ e coordenadora do projeto Práticas do contra-arquivo: mapeamento e análise de imagens de ditadura militar. É autora do livro Cinema de Arquivo: imagens e memória da ditadura.
Coautor
- Thais Blank (CPDOC FGV)
Ficha do Trabalho
Título
- Experiências contra-arquivísticas e os confrontos à hegemonia da memória
Seminário
- Arquivo e contra-arquivo: práticas, métodos e análises de imagens
Resumo
- Esta comunicação explora as potências e limites do conceito de contra-arquivo e sua aplicação em diferentes contextos e práticas audiovisuais. Em vez de se concentrar em um único objeto, propomos um mapeamento de experiências contra-arquivísticas que dialogam com materiais não canônicos – registros clandestinos, filmes militantes e produções amadoras – e questionam narrativas institucionais de memória.
Resumo expandido
- Esta comunicação propõe explorar os limites e potências do conceito de contra-arquivo, analisando sua aplicação em diferentes contextos e práticas audiovisuais. Em vez de nos concentrarmos em um único objeto de estudo, realizaremos um mapeamento de experiências contra-arquivísticas, considerando materiais não canônicos, como registros clandestinos, filmes militantes e produções amadoras. O objetivo é investigar como essas práticas desafiam narrativas institucionais de memória, ampliando a compreensão do arquivo como espaço de disputa política, resistência e fabulação.
A reflexão apresentada tem origem no Seminário Internacional Arquivo e Contra-Arquivo: política e migração das imagens, organizado pelas autoras desta comunicação e coordenadoras do painel em 2024, no Rio de Janeiro, que reuniu pesquisadores, artistas e cineastas para discutir as implicações teóricas e metodológicas desse conceito emergente. Inspirando-se em autores como Sylvie Lindeperg, Saidiya Hartman e Ariella Azoulay, a comunicação examina a complexidade dos arquivos como lugares ativos de contestação e reinvenção histórica, marcados por exclusões e apagamentos, mas também por potências criativas e transformadoras.
A apresentação destaca como o contra-arquivo pode ser entendido como uma prática que confronta as hegemonias de memória e os protocolos institucionais que moldam as narrativas históricas. Exemplos paradigmáticos incluem produções que desafiam representações hegemônicas, como o cinema realizado por mulheres no período da ditadura. Também se destacam obras que exploram o apagamento e a ausência nos acervos, como os trabalhos audiovisuais de Mayara Ferrão, que problematizam o caráter incompleto e contestado das imagens de arquivo, evidenciando as possibilidades de “fabulação crítica” e “anarquivamento” como formas de repensar o passado.
Neste mapeamento, enfatizamos as tensões inerentes ao conceito de contra-arquivo, incluindo seus desafios políticos, estéticos e metodológicos. Questionamos, por exemplo, como práticas contra-arquivísticas lidam com a dispersão e fragilidade dos acervos, bem como com a ausência de informações contextuais que frequentemente caracterizam imagens não institucionais. Além disso, discutimos como tais práticas podem ampliar o campo de estudos do cinema e do audiovisual, ao mesmo tempo em que mobilizam debates contemporâneos sobre diásporas, exílios, movimentos sociais e suas representações visuais.
Diferentemente de nossas comunicações anteriores, que frequentemente se debruçam sobre objetos específicos e suas particularidades, esta intervenção propõe uma abordagem distinta: uma cartografia teórica e prática do conceito de contra-arquivo. Nossa intenção é tensionar os limites e potências desse conceito, explorando suas diversas dimensões e aplicações em contextos variados. Esse movimento busca não apenas mapear as práticas contra-arquivísticas contemporâneas, mas também ampliar os horizontes de sua interpretação teórica. Assim, deslocamos o foco de análises pontuais para uma perspectiva abrangente que nos permita investigar como o contra-arquivo se constitui enquanto ferramenta crítica e metodológica na reconfiguração de narrativas históricas e no questionamento das hegemonias de memória. Uma abordagem que tensiona o conceito, reafirmando seu caráter dinâmico e aberto a constantes interpretações.
Bibliografia
- AZOULAY, Ariella Aïsha. Archives: the commons, not the past. In: AZOULAY, Ariella Aïsha. Potential History. London: Verso Books, 2019.
BLANK, T.; MENDES MACHADO, P. F. Inês e Norma: caminhos cruzados em imagens, arquivo e militância. Acervo, [S. l.], v. 37, n. 1, p. 1–24, 2023
DERRIDA, Jacques. Rastro e arquivo, imagem e arte. In: MASÓ, Joana; VILA, Javier Bassas; MICHAUD, Ginnete (org.). Pensar em não ver: escritos sobre as artes do visível (1979-2004). Tradução: Marcelo Jacques de Moraes. Florianópolis: Editora da UFSC, 2012, p. 91–144.
HARTMAN, Saidiya. Vênus em dois atos. Tradução: Fernanda Silva e Sousa; Marcelo R. S. Ribeiro. Revista ECO-Pós, v. 23, n. 3, p. 12–33, 2020.
LINDEPERG, Sylvie. O caminho das imagens: três histórias de filmagens na primavera-verão de 1944. Revista Estudos Históricos, v. 26, n. 51, p. 9–34, 2013.