Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Laís Torres Rodrigues (UFF)

Minicurrículo

    Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual pela UFF, onde desenvolve dissertação sobre o melodramático no cinema de Karim Aïnouz. É graduada em Imagem e Som pela UFSCar, onde desenvolveu pesquisas sobre as relações entre melodrama e intermidialidade no filme “A Vida Invisível”. Pesquisa, também, melodrama brasileiro e crítica cinematográfica no Brasil.

Ficha do Trabalho

Título

    O melodrama como destino: uma análise de Seams (1993)

Eixo Temático

    ET 1 – CINEMA, CORPO E SEUS ATRAVESSAMENTOS ESTÉTICOS E POLÍTICOS

Resumo

    O presente trabalho tem como objetivo analisar o curta-metragem Seams (1993), de Karim Aïnouz, à luz da imaginação melodramática, redesenhando percepções do filme comumente associadas ao movimento cinematográfico do new queer cinema. Na intenção de questionar discursos cristalizados sobre a obra de Aïnouz, esta análise fílmica pretende traçar comparativos e observar desdobramentos formais e temáticos do curta no mosaico de sua cinematografia, aproximando-o do universo do melodramático.

Resumo expandido

    O primeiro curta-metragem do diretor cearense Karim Ainouz tem seu lugar demarcado na historiografia do cinema — brasileira e mundial — como um produto específico de um tempo, espaço e movimento cinematográfico: o new queer cinema dos Estados Unidos. Essa percepção se forma a partir das temáticas discutidas textualmente no filme, seu formato e sua forma de realização. A obra aborda, a partir da história das mulheres da família do cineasta, questões de gênero e sexualidade. A narração do documentário ainda destaca a experiência da homofobia no Brasil e suas angústias pessoais acerca da percepção do mundo em relação a si. O filme, que mescla material de arquivo e imagens captadas por Karim de sua família em esquema de entrevistas, está associado ao Whitney Museum Independent Study Program que Aïnouz cursava na NYU. Outros cineastas como ele produziram, entre as décadas de 1980 e 1990, um certo tipo de cinema que buscava formular novas imagens para a própria comunidade gay. As análises de autores como Denilson Lopes e Mateus Nagime (2015) construíram e reforçaram, na historiografia e crítica brasileira, esse laço do cineasta com o movimento. Além disso, ainda hoje seu cinema é discutido em âmbito acadêmico comumente associado ao “cinema de afetos” ou “cinema queer”.
    No entanto, há outras possibilidades de análise do produto fílmico que não necessariamente o excluem da leitura do new queer cinema. A partir de declarações e análises dos mais recentes longa-metragens de Aïnouz, o cineasta vem sendo associado também ao cinema de gênero, especialmente ao melodrama. Tanto Praia do Futuro (2014) e A Vida Invisível (2019) foram defendidos na imprensa pelo diretor como melodramas, e essa reivindicação tem suas motivações. Karim é um cineasta que se formou em contato com a produção acadêmica, tendo enfatizado algumas vezes que sua bagagem teórica, principalmente a ligada aos estudos do melodrama, tenha influenciado seu cinema. Quando sua reivindicação pelo termo e matriz melodramática ocorreu, a crítica embarcou em suas declarações, mas sem elaborar além delas — e tal leitura não se estendeu aos seus filmes anteriores. Nesse sentido, recuperar Seams pelo mesmo olhar se faz um interessante exercício de releitura de sua obra.
    O que chama a atenção desta análise, preliminarmente, é que mesmo nas análises detalhadas de Seams um importante e visceral detalhe da obra passou decerto despercebida: a ficcionalização de uma história contada pelas mulheres entrevistadas. Entre as imagens de arquivo e as entrevistas de Dedei, Pinoca, Juju, Ilka e Banban para seu documentário, o cineasta constrói a ficcionalização da “história de Maria, uma amiga da família de muito tempo. Um melodrama que me lembrava o destino da minha mãe e da minha avó”. Esse pequeno detalhe do termo “melodrama”, deliberadamente esquecido nas análises desse filme — e de seus filmes posteriores — pode apontar para um redescobrimento de sua obra.
    Assim, a presente análise se deterá a observar as composições visuais, forma e texto, à luz da imaginação melodramática, utilizando conceituações dessa área de estudo, como o excesso enquanto categoria estética proposto por Baltar (2019). O esforço da análise pretende observar o filme a partir do diálogo da matriz melodramática com o universo do documentário, também já abordado pela autora (Baltar, 2019) e destacar, como o próprio texto do narrador lembra, que “existe uma linha tênue entre o que é verdade e ficção, isto é, se essa linha sequer existe.”
    Espera-se, portanto, compor um novo discurso sobre a obra do cineasta, não acreditando em suas declarações imprudentemente — insuficientes para comprovar a tese na materialidade do filme — mas utilizando suas falas como pistas para reler seus trabalhos. Assim, associando um cinema já apreciado na crítica midiática e acadêmica ao universo do melodrama, tem-se no horizonte uma proposição política para a historiografia do cinema brasileiro, em que o melodramático não ocupe mais lugar de desvalor.

Bibliografia

    BALTAR, M. Realidade Lacrimosa: o melodramático no documentário brasileiro contemporâneo. Niterói, Eduff, 2019.
    BRAGANÇA, M. Melodrama: notas sobre a tradição/tradução de uma linguagem revisitada. ECO-PÓS, v.10, n.2, 2007, p. 29-47.
    BROOKS, P. The Melodramatic Imagination: Balzac, Henry James, Melodrama, and the Mode of Excess. New Haven/ London, Yale University Press, 1995.
    DEPETRIS CHAUVIN, I. Hilvanando sentimientos. Políticas de archivo e intensificación afectiva en Seams (de Karim Aïnouz) y en la trilogía Cartas visuales (de Tiziana Panizza). Imagofagia, [S. l.], n. 16, p. 439–464, 2021.
    LOPES, D. NAGIME, M. “New Queer Cinema e um novo cinema queer no Brasil”. In: NAGIME, M., MURARI, L. (Org.). New Queer Cinema: cinema, sexualidade e política. São Paulo: Caixa Econômica Federal, 2015, p.14-19.
    MARCONI, D. Ensaios sobre autorias queer no cinema brasileiro contemporâneo [livro
    eletrônico]. Belo Horizonte, MG: PPGCOM/UFMG, 2021.
    RICH, R. B. New Queer Cinema, Sight & Sound, BFI, 1992.