Ficha do Proponente
Proponente
- FELIPE MARCOS GONCALVES CORTEZ (UFPA)
Minicurrículo
- Professor Substituto no Curso de Cinema e Audiovisual da Faculdade de Artes Visuais da UFPA. Mestre em Artes (PPGArtes/UFPA). Especialista em Produção Audiovisual e Cinema (IESAM/Estácio). Graduado em Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo (UFPa). Diretor e roteirista atuante na Amazônia com experiência em realização de projetos audiovisuais como documentários, programas televisivos, clipes, organização de eventos artísticos e culturais; capacitação e educação audiovisual.
Ficha do Trabalho
Título
- TV DOCUMENTO E O INÍCIO DA PRODUÇÃO DE DOCUMENTÁRIOS NA TV CULTURA DO PARÁ
Resumo
- Este trabalho propõe um sobrevôo pelo acervo do programa “TV Documento”, que marca o início da produção de documentários na TV Cultura do Pará, compondo uma experiência de realização que se encontra na intersecção ética e estética entre televisão e cinema. São apresentadas três obras que marcam o início desta produção singular e ainda hoje invisibilizada na Amazônia.
Resumo expandido
- Este trabalho apresenta o programa “TV Documento”, a partir de três obras que marcam o início da produção de documentários na TV Cultura do Pará, compondo uma experiência de realização que se encontra na intersecção ética e estética entre televisão e cinema. Preservados em fitas magnéticas dispersas no arquivo da emissora pública paraense, estes filmes representam um capítulo do audiovisual amazônico ainda pouco conhecido.
A TV Cultura do Pará integra uma das mais importantes iniciativas de comunicação pública da Amazônia, a Fundação Paraense de Radiodifusão. Com o slogan “A TV que tem a cara do Pará”, a emissora iniciou suas transmissões efetivamente em 31 de março de 1987 com os departamentos de Jornalismo e Produção.
Dedicado a realização de documentários, o programa TV Documento buscou, de diferentes maneiras, elaborar representações da identidade amazônica. Neste texto vamos abordar algumas das obras produzidas para este programa enquanto conteúdos da memória cultural da região amazônica no sentindo proposto pelo antropólogo Jan Assman, na medida que que propõem imagens de uma suposta identidade cultural paraense.
Entre 1988 e 1995, o TV Documento realizou cerca de 40 documentários. O primeiro deles abordou a violência contra as mulheres. Trata-se do documentário “Marias das Dores” (Lúcia Leão, 1987). Este telefilme se utiliza de técnicas do telejornalismo, tributárias da tradição do documentário griersoniano. Entrevistas, enquetes, narração e imagens organizam o discurso e conduzem para a tese final, que não é demonstrada, apenas suscitada: de que o quadro de violência contra as mulheres é uma questão social complexa cujo enfrentamento cabe, sobretudo, ao Estado, as Leis e a Sociedade Brasileira, sendo o estado do Pará um microcosmos dessa realidade.
Enquanto documentários como “Marias das Dores” seguem a linha telejornalística, outros constituíram experimentos formais ousados. Em “Magalhães Barata: 100 anos depois” (Lúcia Leão, 1988), a figura do repórter dá espaço a figura do ator que representa. Interpretando o interventor paraense, o ator Cláudio Barradas trás em seus textos não somente informações da época e da biografia, como também transmite uma impressão, muito sua, da personalidade do caudilho paraense. No filme, estas inserções dramáticas são intercaladas por entrevistas, enquetes, imagens de documentos e monumentos históricos.
Já em Saias, Laços e Ligas (André Genu e Lúcia Leão, 1988), o impulso experimental busca, por meio de diferentes formas de dramatização, reconstituir, na primeira metade do século XX no Pará, o contexto de luta pelo sufrágio universal. Gravadas em locações que remetem a uma Belém pretérita, como o Theatro da Paz e o Palácio Lauro Sodré, várias esquetes dinamizam a narrativa, que tem no cerne uma entrevista com a pesquisadora Luzia Álvares. O documentário foi realizado a partir da sua dissertação de mestrado, o que já demonstrava um interesse pelo desenvolvimento do conteúdo embasado não apenas na premissa jornalística da pauta, mas pela pesquisa acadêmicas de bases históricas e sociológicas.
Entre o cinema e a TV, mas amparadas sobretudo pela tecnologia vídeo, as obras aqui apresentadas representam uma experiência de produção pautada em experimentalismos que mixaram técnicas telejornalísticas com teatro, artes plásticas, música e envolveram agentes culturais ativos na experiência artística e intelectual de Belém em fins da década de 1980, integrantes da experiência social descrita por Fábio Castro (2012) como “moderna tradição amazônica”. Filmes que constituem uma experiência de realização ainda invisível na historiografia audiovisual brasileira, relegada a acervos magnéticos restritos ao espaço físico da emissora em Belém.
Bibliografia
- ASSMANN, Jan. Communicative and cultural memory. In: ERLL, Astrid; NÜNNING, Ansgar (Ed.). Cultural memory studies: an international and interdisciplinary handbook. Berlin; New York: De Gruyter, 2008. p. 109-118.
MALCHER, Maria Ataide; LIMA, Regina Lúcia Alves de; VIDAL, Marly Camargo (orgs.). 60 Anos de Televisão Aberta no Brasil: Relatório de Gestão Funtelpa 2007 – 2010. Belém: FUNTELPA, 2010.
CASTRO, Fábio. A identidade encenada: a produção artística de Belém como laboratório e teatro da amazônica. In: CONTEMPORÂNEA, Ed. 20. Vol.10. N. 2. 2012.
PENAFRIA, Manuela. O filme documentário em debate: John Grierson e o movimento documentarista britânico. In: ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume I.
CORTEZ, Felipe. Memórias Documentárias: a Produção Documental da TV Cultura do Pará. Dissertação (Mestrado em Artes) – Instituto de Ciências da Arte, Universidade Federal do Pará. Belém. 2019