Ficha do Proponente
Proponente
- Paula Halperin (SUNY)
Minicurrículo
- Paula Halperin é Diretora da Faculdade de Cinema e Mídia e Professora de História e Cinema na Universidade do Estado de Nova Iorque, Purchase (SUNY Purchase) e Professora Visitante na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Investiga os temas: mídia, história e esfera pública no Brasil durante o século XX, com ênfase na ditadura militar. Suas publicações académicas se especializam em televisão e cinema.
Ficha do Trabalho
Título
- Vale tudo (1988/2025). Teledramaturgia e História.
Mesa
- Telenovela e Contemporaneidade: História, Estética, Identidade.
Resumo
- O presente trabalho propõe uma entre as duas versões de “Vale Tudo,” a de 1988 e a de 2025. A pergunta central é como o projeto de produção de remakes negocia e se adapta às transformações profundas da sociedade, da audiência, das formas narrativas, e às transformações radicais no campo da mídia da última década? O objetivo é compreender como a telenovela continua a se reinventar, mantendo sua relevância e capacidade de atrair espectadores, em um cenário de crescente mediação digital.
Resumo expandido
- Apesar das mudanças dramáticas no campo da mídia, a Rede Globo continua apostando fortemente na teledramaturgia como sua marca registrada. Desde os anos 70, a emissora tem investido em inovações que racionalizaram e sofisticaram o processo produtivo de ficção. As transformações tecnológicas, o gerenciamento aprimorado, a qualificação dos profissionais, o fortalecimento do setor de telecomunicações no Brasil e a evolução do modelo narrativo garantem que a novela permaneça como o produto mais importante (junto ao jornalismo) em termos de audiência e prestígio, ainda enfrentando a concorrência de uma multiplicidade de meios. Refletindo sobre a história da teledramaturgia e o sucesso das telenovelas brasileiras ao longo das décadas, Rosane Svartman, autora de novelas contemporâneas, se questiona sobre o futuro da televisão brasileira e sua audiência, especialmente no que se refere ao conteúdo tradicional da telenovela, diante da ascensão das plataformas digitais com conteúdo segmentado.
Ao longo dos anos, a telenovela desempenhou um papel fundamental na configuração de identidades e subjetividades no Brasil, influenciando os debates políticos, sociais e culturais, os padrões de consumo e os modos de vida. Sua importância no desenvolvimento e consolidação da indústria cultural também deve ser reconhecida, como apontado por diversas pesquisas realizadas nos últimos anos. O gênero, contudo, se fortaleceu atrelado a um momento histórico específico, quando a Rede Globo ainda mantinha uma hegemonia clara no mercado da mídia. Surge, então, a questão: em que medida as mudanças na configuração desse mercado influenciam as identidades político-culturais disseminadas pela teledramaturgia atual? Além disso, como as dinâmicas fluidas das identidades e dos debates públicos vigentes geram, por meio de mecanismos estéticos e narrativos, uma ficção cada vez mais complexa, com um papel fundamental nas configurações e tensões políticas, históricas e culturais no Brasil?
Nesse trabalho, proponho uma comparação entre as duas versões de “Vale Tudo,” a de 1988 e a de 2025. A pergunta central é como o projeto de produção de remakes negocia e se adapta às transformações profundas da sociedade, da audiência, das formas narrativas, e às transformações radicais no campo da mídia da última década? O objetivo é compreender como a telenovela continua a se reinventar, mantendo sua relevância e capacidade de atrair espectadores, mesmo em um cenário de crescente mediação digital e novas formas de consumo de conteúdo. O remake é uma das diversas estratégias utilizadas pela emissora recentemente para atrair uma audiência mais ampla e diversificada social, geográfica, política e culturalmente.
Algumas das perguntas que orientam meu trabalho buscam investigar os efeitos culturais da aposta em remakes de novelas, especialmente aquelas que alcançaram amplo sucesso nos últimos anos de hegemonia da Globo. Como são construídas as subjetividades e as identidades nas novas versões? Como os conflitos histórico-sociais presentes nas versões originais emergem nos remakes? Como funciona o processo de difusão da novela em plataformas online? Essas questões visam explorar como a telenovela, por meio de suas escolhas estéticas e narrativas, negocia o passado e o presente, ao mesmo tempo em que reflete sobre as transformações sociais e culturais que definem o Brasil contemporâneo.
Bibliografia
- Hamburger, Esther. (2001). Hamburger, Esther. “Transnational mediation, telenovela and series.” The Routledge Companion to Global Television. Shawn Shimpach (ed). Nova Iorque: Routledge, 2019. 175-189.
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Ortiz, R. (2001). Cultura Brasileira e Identidade Nacional. São Paulo: Brasiliense.
Simões Borelli, Silvia H. “Telenovelas brasileiras: balanços e perspectivas.” São Paulo em Perspectiva, 15 (3), Jul 2001.
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Svartman, Rosane (2023). A telenovela e o futuro da televisão brasileira. Rio de Janeiro, Cobogó.
Wallach, J. (2011). Meu capítulo na TV Globo. Editora Topbooks.