Ficha do Proponente
Proponente
- Wolfgang Fuhrmann (Independente)
Minicurrículo
- Wolfgang Fuhrmann, Doutor em Cinema pela Universidade de Utreque, Países Baixos. Especialista em cinema colonial alemão e autor de Imperial Projection: Screening the German Colonies (Berghahn 2015). Pós-doutorado no instituto CALAS, Universidade de Guadalajara, México (2022-2023). Seu projeto de pesquisa investiga as relações cinematográficas entre o Brasil e a Alemanha.
Ficha do Trabalho
Título
- Dando realidade ao fantástico: Franz Eichhorn e sua imagem da Amazônia
Mesa
- Amazonas: filmes culturais e o extrativismo visual alemão
Resumo
- A apresentação aborda a trajetória de Franz Eichhorn, produtor do filme cultural “Urwald Symphonie” ( 1931) tendo como objeto de análise as suas experiências posteriores na Amazônia, e a sua atuação como co-director do filme “Kautschuk” (Eduard von Borsody, D 1938). Na década de 1940, Eichhorn emigrou para o Brasil, onde produziu vários filmes de aventura na Amazônia. A palestra explora a influência de seu trabalho na cinematografia brasileira.
Resumo expandido
- Após a produção do filme “Urwald Symphonie” (1931) os irmãos Edgar e Franz Eichhorn construíram uma longa carreira cinematográfica e ajudaram a moldar a história do cinema brasileiro. Em sua conferência, Wolfgang Fuhrmann discute a imagem da Amazônia nos filmes de Franz Eichhorn, e analisa suas influências cinematográficas no cenário do cinema alemão da década de 1920.
Franz Eichhorn tinha um doutorado em direito, mas não seguiu essa carreira após a expedição Brückner. Sua experiência durante da expedição despertou sua sede de aventura e seu interesse pela cinematografia. De volta à Alemanha, ele, Edgar e seu amigo em comum Oskar A. Bayer (1904-1996) continuaram seu trabalho como produtores de filmes culturais até 1935, quando partiram em outra expedição à Amazônia. Suas filmagens não terminaram em outro filme de expedição, mas no longa-metragem “Kautschuk” (Eduard von Borsody, 1938), cujo sucesso os trouxe de volta ao Brasil no início da década de 1940, onde involuntariamente iniciaram suas atividades cinematográficas na indústria cinematográfica brasileira.
Os filmes brasileiros de Franz Eichhorn, “Mundo Estranho” (1950), “Paixão nas Selvas” (1955), “Manaus, Glória de uma Época” (1963) e “Os Selvagens” (1964), foram, ao que tudo indica, bem-sucedidos nas bilheterias, embora tenham recebido críticas desanimadoras. Os filmes de Eichhorn não eram compatíveis com um novo cinema brasileiro emergente, como o Cinema Novo. Mais produtiva do ponto de vista da historiografia cinematográfica do que a rejeição de seus filmes por seu exotismo ou suas narrativas de salvador branco/herói europeu é a questão do que pode ter influenciado a produção cinematográfica de Eichhorn. Em outras palavras, por que seus filmes eram como eram?
Na ocasião do seu primeiro filme de aventura na Amazônia de Eichhorn feito no Brasil, “Mundo Estranho”, Eichhorn, declarou: “O fantástico pode ser real, ou melhor dizendo, deve ter aparência da realidade se é nosso desejo que a exibição na tela venha a satisfazer todos os gostos” (Diário Carioca, 27.10.1950). Não sabemos se Eichhorn era um cinéfilo apaixonado, mas na década de 1920 não era incomum ir ao cinema várias vezes por semana. O que ele viu lá, quando jovem, foram os primeiros sucessos nacionais e internacionais da UFA. Em sua história da UFA, Klaus Kreimeier descreve as características do cinema da UFA na década de 1920 que se aproxima muito do que Eichhorn encenou mais tarde em seus filmes da Amazonas. Kreimeier caracteriza uma parte do cinema mais antigo da Ufa como um Weltreisekino, um cinema da viagem ao mundo. Em contraste à realidade alemã, marcada por inflação e pobreza, o cinema ofereceu ao público a possibilidade de realizar seus sonhos de viajar e conquistar um mundo desconhecido – um motivo que facilitou sua posterior apropriação pela ideologia nazi (O’Brien 2004, 66-74).
Outra parte do cinema da UFA pode ser caracterizada pelo slogan da UFA “A força do filme alemão está no drama fantástico” (Kracauer 1989, 98), uma mistura de realidade e fantasia, que Kreimeier descreve como “a propensão alemã ao sonho e ao trauma”, (Kreimeier 1999, 87). Se colocarmos os filmes de Eichhorn em relação ao cinema da UFA de sua época, seus filmes parecem ser uma seção transversal do repertório da UFA, em que diferentes gêneros e estilos fluem juntos.
Os filmes de Eichhorn podem não ter correspondido às expectativas dos críticos brasileiros, mas se considerarmos seus filmes como parte de uma cultura cinematográfica brasileira transnacional, eles ampliam nossa compreensão sobre a história do cinema brasileiro popular para além do Cinema Novo.
Bibliografia
- EICHHORN, Franz. Deutsche Filmleute am Amazonenstrom, 1929-1931. Hillgers Deutsche Jugendbücherei Berlin 1935.
FUHRMANN, Wolfgang. From Franz to Francisco Eichhorn: The Multiple Careers of a German-Brazilian Filmmaker. In: Claudia Sandberg, Tobias Ebbrecht-Hartmann (eds.), Travelers, Passengers, and Other Grenzgänger:innen. Reviewing German Film History from the Margins. London: Berghahn Books (no prelo).
KRACAUER, Siegfried. De Caligari a Hitler: Uma história psicológica do cinema alemão. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor Ltda. 1988
KREIMEIER, Klaus. The Ufa Story: A History of Germany’s Greatest Film Company, 1918-1945, University of California Press 1999.
O’BRIEN, Mary-Elizabeth. Nazi Cinema as Enchantment. The Politics of Entertainment in the Third Reich. Rochester: Camden House 2004.