Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Bárbara Piazza dos Reis (UFPR)

Minicurrículo

    Bárbara Piazza é psicóloga, escritora, mestre e doutoranda em Comunicação pela UFPR e bolsista CAPES. Também possui formação em Roteiro pelo Centro Cultural Espaço de Arte (2023) e em Cinema Documental pela Escuela de Cine de Chile (2020). Seus interesses de pesquisa versam sobre: Comunicação e Cinema; Psicanálise e Semiologia/Semiótica; Sexualidade e Dissidências.

Ficha do Trabalho

Título

    UM RETORNO A FREUD E BARTHES PARA PENSAR A CRÍTICA DE PROCESSOS DE CRIAÇÃO DE CINEASTAS

Seminário

    Teoria de Cineastas: dos processos de criação à dimensão política do cinema

Resumo

    Discute-se a proposta teórico-metodológica de minha dissertação de mestrado, onde a Psicanálise Freudiana, a Semiologia Barthesiana, a Teoria de Cineastas e a Crítica de Processos de Criação auxiliam a: explorar relações entre a biografia e a cinematografia de Petra Costa; compreender como se opera, em termos psicológicos, e como se figura, em termos narrativos, sua insistência no tema da morte; e interpretar como se dá o processo de conversão do desprazer ao prazer na atividade criativa.

Resumo expandido

    No intuito de visualizar processos comunicativos vinculados a uma demanda afetiva, a dissertação A criação cinematográfica de Petra Costa através do luto e a conversão do desprazer em prazer elege como objeto o cinema de Petra Costa, cuja irmã mais velha se suicidou quando ela tinha apenas sete anos de idade. As homenagens aos seus avós, Vera e Gabriel (Olhos de Ressaca, 2009), e à sua irmã, Elena (Elena, 2012); bem como os retratos da perda de liberdade da atriz Olivia Corsini, em uma gravidez de risco (Olmo e a Gaivota, 2014), e do recente processo de ruptura política no Brasil (Democracia em Vertigem, 2019); podem ser lidos como documentários autobiográficos sobre o luto e o temor pela repetição da morte.
    Nesse sentido, a investigação percorre principalmente, à luz da Psicanálise Freudiana, da Semiologia Barthesiana, da Teoria de Cineastas e da Crítica de Processos de Criação, as relações entre a biografia e a cinematografia de Petra Costa; para compreender como se opera, em termos psicológicos, e como se figura, em termos narrativos, sua insistência no tema da morte; e interpretar como se dá o processo de conversão do desprazer ao prazer na atividade criativa.
    A definição de luto, baseada nos escritos psicanalíticos de Sigmund Freud, é correlacionada aos conceitos de pulsão, princípio do prazer e princípio da realidade, para uma melhor compreensão do aparelho psíquico. Discute-se, ainda, as funções cognitivas da atenção e da memória, no intuito de pensar em como estas influenciam as decisões e repetições temáticas de quem escreve e faz cinema. Resgatam-se os conceitos de autoria e criação, com base em teorias próprias da área do Cinema — a Teoria do Autor, a Teoria dos Cineastas e a Teoria de Cineastas —, para tencioná-los com algumas correspondências entre os pensamentos de Freud e Barthes, como o entendimento do estilo enquanto um sintoma e do segundo sistema semiológico enquanto um sentido latente.
    Emerge, então, como proposta metodológica de análise, a combinação entre a transcrição dos enredos fílmicos e uma posterior decodificação, na qual o sistema de significação comporta um plano de expressão (E), um plano de conteúdo (C) e uma relação (R) entre os dois planos. A utilização da fórmula para sistemas conotativos, (E R C) R C, de Roland Barthes (1992), estabelece um diagrama para diferenciar as duas vias de decodificação — sendo o significante (plano de expressão) análogo ao conceito de “conteúdo manifesto” e o significado (plano de conteúdo) análogo ao conceito de “conteúdo latente” —, permitindo identificar o conteúdo latente inscrito nas frases, cenas, ou mesmo sequências fílmicas que demarcam o estilo de Petra Costa ao longo da sua obra e vinculando tal conteúdo aos seus temores e desejos.
    Para elucidar a percepção subjetiva da cineasta, matéria-prima de sua obra, aliam-se os filmes a conteúdos extra fílmicos, como falas públicas concedidas em entrevistas. Tal estratégia se inspira na Crítica de Processos de Criação de Cecília Salles (2017), que visa à ampliação da Crítica Genética e reflete sobre os processos criativos a partir dos “arquivos da criação” (ou ainda, “documentos de processo”), uma vez que a criação se associa à noção de continuidade, não se estancando no dia do lançamento da obra.
    Conclui-se, portanto, que a atividade artística enquanto cineasta resgata a experiência de encontro com a morte e o sentimento de falta resultante, que se alastrou ao longo dos anos. No espaço lúdico criado pelos filmes, existe uma diegese na qual os personagens retratados no plano de expressão, se direcionam majoritariamente a um mesmo objetivo: falecer, seja em termos simbólicos ou concretos. Dessa forma, o psicodrama de Petra Costa imprime um estilo autoral e gera um pacto de intimidade com o/a espectador/a, que se vê afetado pelos sentimentos narrados e padecendo também da sensação de luto. Eis a sua escritura. Eis o seu “compromisso entre uma liberdade e uma lembrança” (Barthes, 1974, p. 125).

Bibliografia

    AUMONT, J. A Teoria dos Cineastas. Campinas, SP: Papirus, 2004. Coleção Campo Imagético.

    BARTHES, R. Elementos de Semiologia. 15. ed. São Paulo: Editora Cultrix, 1992.

    BARTHES, R. O Grau Zero da Escritura. Novos Ensaios Críticos seguidos de O Grau Zero da Escritura. São Paulo: Cultrix, 1974.

    CUNHA, T. C. Teoria dos Cineastas versus Teoria do Autor. In: Encontro AIM-Associação dos Investigadores da Imagem em Movimento, VII., 2017.

    FREUD, S. As pulsões e seus destinos. Edição Bilíngue. 1. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2020.

    FREUD, S. Luto e Melancolia. São Paulo: Cosac Naify, 2013.

    LEITES, B.; BAGGIO, E.; CARVALHO, M. Fazer a teoria do cinema a partir de cineastas – entrevista com Manuela Penafria. Intexto, Porto Alegre, n. 48, p. 6–21, 2020.

    SALLES, C. A. Da Crítica Genética à Crítica de Processo: uma linha de pesquisa em expansão. SIGNUM: Estud. Ling., Londrina, n. 20, v. 2, p. 41-52, ago. 2017.