Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    GEÓRGIA CYNARA COELHO DE SOUZA (UEG / UFG)

Minicurrículo

    Doutora e pós-doutora em Meios e Processos Audiovisuais pela ECA/USP, com pesquisa e prática em composição de música para cinema. É graduada em Comunicação Social/Jornalismo pela UFG, especialista em Cinema e Educação pelo Ifiteg e mestre em Comunicação pela UFG. É colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Artes, Culturas e Tecnologias da UFG e é professora efetiva do curso de Cinema e Audiovisual e do Programa de Pós-Graduação em Territórios e Expressões Culturais no Cerrado, ambos na UEG.

Coautor

    Suzana Reck Miranda (UFSCar)

Ficha do Trabalho

Título

    A co-autoria nas trilhas de mulheres no Brasil

Seminário

    Histórias e tecnologias do som no audiovisual

Resumo

    A partir de um mapeamento detalhado sobre a autoria feminina de trilhas musicais cinematográficas no Brasil (1995-2019), esta comunicação se detém a analisar as situações de composição em co-autoria envolvendo mulheres e homens, com o objetivo de demonstrar a colaboração tanto como porta de entrada para muitas compositoras na carreira, como um demonstrativo das assimetrias de presença e oportunidade da mulher no espaço de criação musical para filmes lançados comercialmente no país.

Resumo expandido

    Nesta comunicação, apresentamos os resultados parciais de nossa pesquisa sobre as mulheres compositoras de trilhas musicais para o cinema brasileiro, com o intuito de refletir sobre sua posição nos casos de coautoria. O objetivo é perceber a importância da colaboração como uma porta de entrada profissional para muitas compositoras, ao mesmo tempo em que se revela uma evidência das assimetrias na presença e visibilidade feminina no campo da criação musical para filmes comerciais no Brasil, em comparação com a situação dos compositores homens na mesma condição.
    A escassa presença feminina na composição de trilhas sonoras reflete uma disparidade histórica no campo da criação musical no Brasil. Embora a participação das mulheres no cenário musical brasileiro não seja incomum, especialmente a partir da segunda metade do século XIX, sua atuação na composição sempre foi marginalizada. Durante muito tempo, a historiografia da música brasileira manteve a ideia de que a composição era uma prática predominantemente masculina, com Chiquinha Gonzaga sendo vista como uma exceção quase isolada. No entanto, Freire e Portela (2010, p. 70) catalogaram 332 composições de 106 mulheres entre 1870 e 1910, com base em um levantamento realizado na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Mais de um século depois, paradoxalmente, as mulheres ainda são mais reconhecidas como intérpretes do que como compositoras. Apesar do aumento significativo no número de compositoras nas últimas décadas, conforme aponta Murgel (2018), poucas conseguem adentrar o campo da composição de trilhas para filmes.
    A partir de dados da ANCINE sobre os filmes brasileiros lançados comercialmente no país de 1995 a 2019, buscamos informações sobre a trilha musical em 1380 filmes que continham créditos para música original. Chegamos a um total de apenas 79 filmes, ou seja, 5,7% do total, nos quais mulheres atuaram como compositoras, seja sozinhas ou dividindo os créditos com homens e/ou bandas. Nas etapas seguintes, categorizamos esses 79 filmes conforme o tipo de participação das mulheres na criação das trilhas, e em 54 deles, ou 3,9%, a autoria foi compartilhada com homens. No entanto, na maioria dos filmes com composição musical compartilhada, os nomes masculinos predominam, seja por serem mais numerosos ou por terem composto mais fonogramas do que as mulheres. Essas coautorias desiguais nem sempre contribuem para o reconhecimento do trabalho criativo das mulheres, especialmente quando seus nomes aparecem apenas nos créditos finais, no momento em que todas as faixas e/ou fonogramas são listados.
    Como estudo de caso, destacaremos as trajetórias de Tami Belfer, Flavia Tygel e Vivina Aguiar-Buff, que, após iniciarem sua trajetória como coautoras – muitas vezes de forma assimétrica –, conseguiram se consolidar, ainda que de maneiras distintas, como compositoras de trilhas e construir uma “carreira solo” na autoria. Embora esses resultados possam indicar um avanço tímido, o cenário ainda se mostra desfavorável para as trilheiras no Brasil. Portanto, é essencial continuar explorando e divulgando essas informações, a fim de estimular discussões e ações que busquem reduzir as disparidades de gênero nesse campo. A baixa representação feminina ressalta a necessidade urgente de reconhecimento e valorização do trabalho dessas profissionais.

Bibliografia

    CINEMATECA BRASILEIRA. Base de dados: filmografia brasileira. Disponível em: https://bases.cinemateca.org.br/. Acesso em: 03 ago. 2024.
    COB/ANCINE (Coordenação do Observatório do Cinema e do Audiovisual). Listagem dos Filmes Brasileiros Lançados Comercialmente em Salas de Exibição – 1995 a 2022. Brasília: Agência Nacional do Cinema, 2023. Disponível em: https://www.gov.br/ancine/pt-br/oca/cinema-. Acesso em 16/08/2024.
    FREIRE, Vanda L.B.; PORTELA, Angela C. H. “Mulheres pianistas e compositoras, em salões e teatros do Rio de Janeiro (1870-1930)”. In: Cuadernos de Música, Artes Visuales y Artes Escénicas. Bogotá, v.5, n. 2, p. 61-78, jul.-dez. 2010.
    MURGEL, Ana Carolina Arruda de Toledo. “Pesquisando as compositoras brasileiras no século XXI”. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, 2018, p. 181-192.
    TYGEL, Flávia. Compositora de trilhas sonoras fala sobre o machismo no cinema e a questão alarmante para as mulheres [Entrevista concedida a] CONDINI, Brunna. Blog Heloísa Tolipan2021