Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    RENATO TREVIZANO DOS SANTOS (USP)

Minicurrículo

    Doutorando e Mestre pelo PPGMPA–USP, pesquisa realismo fantasmagórico queer. Bacharel em Audiovisual–USP, foi curador/programador de mostras cinematográficas no CINUSP (2016–2018), onde ministrou o curso “Monstros, fantasmas e santos no cinema queer contemporâneo” (2024). Especialista em EaD (UNIVESP), onde foi Facilitador de Aprendizagem (2019–2021), é também revisor de texto e autor do livro de poemas “Mágicas dores mínimas” (2022). Vencedor do I Prêmio SOCINE de Teses e Dissertações (2023).

Ficha do Trabalho

Título

    Espaços liminares e infamiliares em Tsai Ming-liang

Seminário

    Cinema e Espaço

Resumo

    A partir da filmografia de Tsai Ming-liang — de Rebeldes do Deus Neon (1992) ao conjunto Walker (2012–) —, observamos o fenômeno do infamiliar desperto por espaços liminares, aqueles que, em geral, são vistos repletos de transeuntes, mas que, vazios, provocam um desconforto irracional. Do cotidiano, apreendido pela estética realista baziniana, emergem estranhas presenças, de modo que recorremos à noção de realismo fantasmagórico (Mello, 2015) queer, como um conceito fundamental e também liminar.

Resumo expandido

    A partir de alguns destaques da filmografia de Tsai Ming-liang — de Rebeldes do Deus Neon (1992) ao conjunto Walker (2012–) —, observamos o fenômeno do infamiliar desperto por espaços liminares. O infamiliar, ou Unheimliche, segundo Freud (2021), é um estranhamento no seio do familiar, que provoca inquietude, perturbação, insegurança. Tais percepções encontram terreno fértil em espaços liminares, aqueles que, em geral, são vistos repletos de transeuntes, mas que, quando vazios, provocam um desconforto de teor irracional — espaços de trânsito ou passagem, impermanência, entre-lugares. De modo similar, o horror emprega a liminaridade, ou intersticialidade, como sugere Noël Carroll em The Philosophy of Horror (1990), para provocar seus efeitos perturbadores, com figuras de monstros, fantasmas, demônios e espíritos possessores, híbridos de todos os tipos. A filmografia de Tsai é repleta dessas presenças fantasmagóricas, metamorfas, intersticiais (também liminares), a convocarem novas percepções e temporalidades. Tsai convida os espectadores de seus filmes a habitarem por um instante suspenso o seu espaço fílmico, a de fato penetrarem nele, com uma concepção de espaço fílmico que extravasa a tela, em atmosfera, em contaminação para fora dos limites do quadro. Nesse espaço envolvente e háptico, pelo tato e pela escuta, Tsai joga com elementos do horror em diálogo com outros gêneros, do melodrama à comédia musical (cf. Villiers, 2022), sempre em trocas “promíscuas” (para utilizarmos novamente um termo de Carroll). É do cotidiano, apreendido a partir da estética realista baziniana (plano-sequência, profundidade de campo, atores não profissionais, filmagem em locação, abertura à ambiguidade do real, cf. Bazin, 2018), que emergem as estranhas presenças, de modo que recorremos, por fim, à noção de realismo fantasmagórico (Cecília Mello, 2015), aqui em sua especificidade queer, como um conceito fundamental e também liminar. Tsai, com suas presenças multiformes, registra as cidades por que passam seus anti-heróis — das ruas apinhadas de Taipei e Washington aos subterrâneos de Paris ou uma rodoviária em Kuala Lumpur. Seu cinema, transnacionalmente espacial, ainda que profundamente local, provoca, então, curto-circuitos em quaisquer rígidas dicotomias.

Bibliografia

    BAZIN, A. O que é o cinema?. São Paulo: Ubu, 2018.
    BARTHES, A câmara clara. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2014.
    CARROLL, N. The Philosophy of Horror. Routledge, 1990.
    FREUD, S. O infamiliar e outros escritos – seguido de O homem da areia, de E.T.A. Hoffmann. Belo Horizonte: Autêntica, 2021.
    LIM, S.W. Tsai Ming-liang and a Cinema of Slowness. 2014.
    MELLO, C. (org.). Realismo fantasmagórico. São Paulo: USP, 2015. (Coleção CINUSP). Disponível em: https://www.livrosabertos.abcd.usp.br/portaldelivrosUSP/catalog/book/816. Acesso em: 27 fev. 2025.
    ______.; NAGIB, L. (orgs.). Realism and Audiovisual Media. Londres: Palgrave MacMillan, 2009.
    ______. Permanência e desaparecimento: a cidade e o cinema de Tsai Ming-Liang. Rebeca, 2013a.
    _____. Entrevista com Tsai Ming-liang. Rebeca, 2013b.
    VILLIERS, N. Cruisy, Sleepy, Melancholy: Sexual Disorientation in the Films of Tsai Ming-liang. Minneapolis/ London: University of Minnesota Press, 2022.
    WARNER, M. Fear of a Queer Planet. 2004.